Vida marinha

Vítimas do lixo: poluição de plástico leva animais marinhos à morte no Litoral do Paraná

Foto: LEC/UFPR.

A tartaruga-verde juvenil encontrada viva na praia de Pontal do Sul, Pontal do Paraná, no dia 31 de dezembro, veio a óbito após 10 dias de tratamento no Centro de Reabilitação, Despetrolização e Análise de Saúde de Fauna Marinha (CReD), coordenado pelo Laboratório de Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná (LEC-UFPR), via Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS).

Bastante magro e debilitado, o animal é uma das muitas vítimas do lixo, principalmente do plástico, que é descartado incorretamente e chega ao oceano. Durante os exames, a equipe veterinária constatou a presença de um corpo estranho no estômago da tartaruga-verde. Com o exame pós-morte (necropsia), ficou evidente que o corpo estranho era composto de lixo plástico e causou a debilitação e a morte do animal.

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O lixo no mar

Também chamado de resíduo sólido, o lixo é um dos maiores problemas ambientais atuais, sendo a forma de poluição mais difundida mundialmente. No ambiente marinho, cerca de 80% dos lixos encontrados são plásticos, como garrafas PET, embalagens, armadilhas e petrechos de pesca, entre outros. No processo de decomposição, esses materiais podem até ser fragmentados, mas não biodegradados (processo que demora centenas a milhares de anos nos oceanos). Estima-se que, a cada ano, até 12 milhões de toneladas de lixos cheguem ao oceano.

Os animais marinhos interagem com esse lixo principalmente através da ingestão e emaranhamento – quando pedaços de resíduos ficam presos no corpo do animal (bico, patas, nadadeiras, pescoço). Mariana Lacerda, bióloga, pós doutoranda do LEC/UFPR via Programa de Pós-graduação em Sistemas Costeiros e Oceânicos pela UFPR e gerente do Projeto Coalizão Paraná pela Década do Oceano, explica que a ingestão pode ser direta, quando o animal confunde os resíduos com uma de suas presas em potencial, ou indireta, quando ele ingere esses resíduos junto com as presas. “As consequências tanto da ingestão quanto do emaranhamento são bem preocupantes, pois podem causar obstrução do trato digestivo, afogamento, sufocamento ou estrangulamento”, completa Lacerda.

Foi também o que aconteceu com o lobo-marinho-subantártico encontrado vivo na praia Brava, Matinhos, em setembro de 2023. O animal chegou ao CReD-UFPR bastante magro e debilitado, com desconforto abdominal. Após duas semanas em tratamento, não apresentou melhora e veio a óbito. Durante a necropsia, a equipe encontrou uma embalagem plástica de macarrão instantâneo obstruindo parcialmente o estômago. Mais uma vez, o impacto humano levou animais marinhos à morte.

Lixo mata a biodiversidade marinha

De acordo com análises de conteúdos estomacais dos animais encalhados a partir de 2019 e registrados pela equipe PMP-BS/LEC-UFPR no litoral do Paraná, cerca de 50% dos indivíduos registrados ingeriram algum tipo resíduo de lixo, incluindo aves, tartarugas e mamíferos marinhos e diversas espécies ameaçadas de extinção.

As tartarugas marinhas estão entre os animais avaliados mais afetados. A frequência de ocorrência de plástico encontrado no trato digestório dos indivíduos encalhados chega a 80% (em uma análise que incluiu mais de 1.330 indivíduos). De acordo com o analista laboratorial do PMP-BS/LEC-UFPR, Dr. Mário Meira Filho, muitas das tartarugas resgatadas nessa situação são juvenis. Nessa fase, é possível que o lixo ingerido afete o crescimento do animal e importantes etapas de desenvolvimento para a fase adulta.

Um problema global

Uma vez no oceano, os resíduos sólidos não se restringem à superfície do mar e nem ao local de origem. Parte dessa poluição é arrastada pelas correntes marinhas, chegando até mesmo a locais distantes e não habitados por humanos. A preocupação é global. “A problemática do lixo no mar vem sendo tratada em diferentes movimentos por todo o mundo, e está inserida como um dos desafios a serem enfrentados na Década do Oceano: compreender e vencer a poluição marinha”, diz Lacerda. Nesse contexto, os países são incentivados a desenvolverem estudos e tecnologias para compreender e mapear fontes terrestres e marítimas de poluentes e contaminantes e os potenciais impactos na saúde humana e nos ecossistemas oceânicos, desenvolvendo soluções para removê-los ou reduzi-los.

A Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, declarada pela Organização das Nações Unidas, de 2021 a 2030, é um período dedicado a estimular olhares e conhecimento sobre o oceano em busca de um ambiente limpo, saudável, seguro e produtivo. Essa iniciativa reúne esforços em nível global e a UFPR, através do LEC, juntamente com outras instituições do litoral como parte da Coalizão Paraná pela Década do Oceano, compõe uma rede de ações em busca do desenvolvimento para a “A ciência que necessitamos para o Oceano que queremos”.

Para a bióloga e coordenadora do PMP-BS/LEC-UFPR, Dra. Camila Domit, o avanço da ciência é essencial para mapear a situação atual, mas também para desenvolver tecnologias e caminhos inovadores na busca de soluções para este impacto. “Somente com iniciativas coletivas e em rede, integrando a sociedade em geral, a ciência, e os tomadores de decisão, é que teremos avanços significativos para o bem-estar e a saúde de todos. Precisamos reduzir o impacto do plástico já gerado e também reduzir o uso, buscando alternativas mais sustentáveis para o nosso dia a dia”, afirma Domit.

A realização do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) é uma exigência do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama, para as atividades da Petrobras de produção e escoamento de petróleo e gás natural na Bacia de Santos. No Paraná, esta condicionante é realizada pela equipe LEC da UFPR.

A Coalizão Paraná pela Década do Oceano é uma iniciativa coordenada pelo LECufpr e realizada pela UFPR, IFPR e Unespar, com apoio financeiro do CNPq e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).

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