Gourmetização desenfreada?

Boemia de Curitiba na UTI? Fechamento de bares tradicionais levanta dúvida

Ricardo Doi, responsável pelo Bar e Pastelaria Juvevê, fundado em 1983, acredita que a renovação do público vai vir naturalmente, sem que a identidade do bar fique de lado. Foto: Átila Alberti / Tribuna do Paraná.

Se Paulo Leminski circulasse por Curitiba nos dias de hoje, imagino que se veria praticamente sozinho numa mesa de bar ou com dificuldade de achar um boteco tradição. Redutos da boemia ou do papo informal como o Stuart, Pudim, Toninho, Ligeirinho e tantos outros, não são mais os mesmos ou nem existem mais. Alguns seguem resistindo à “gourmetização”, acreditando na renovação da clientela ou mesmo na pouca alteração nos padrões de boteco raiz como um simples balcão ou piso de madeira, copo americano e um maracujazinho. 

Com o anúncio do fechamento do Stuart, o bar mais antigo do Paraná, que foi vendido para o Grupo Mustang Sally, comerciantes das antigas têm procurado se unir para manter as portas abertas. O Cantinho da Bica, no bairro Vista Alegre, não é exatamente um bar, mas referência no rodízio de costelinha de porco e borboletinha bovina, demonstrou preocupação com o futuro do comércio em uma postagem nas redes sociais.

“Junto com o Stuart se vai a centenária história de um dos bares mais antigos do Brasil, mas o que nos deixa mais tristes é que assim como o Stuart, cada vez mais lugares ótimos e tradicionais como Bar do Pudim, Churrascaria Per Tutti e Paiol, Old West Bar dentre outros, têm sucumbido, seja pela pandemia, por cansaço dos antigos donos ou porque não conseguiram resistir ao modismo atual, onde mais valem os bonitos posts e a palavra de um “influencer” patrocinado, do que boa comida, bebida e serviço decente prestado”, disseram os responsáveis pelo estabelecimento no post.

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“Nós do Cantinho da Bica apelamos: não deixem os bons bares e restaurantes de Curitiba morrerem! Casas tradicionais como o Maneko´s, Casa Velha, Restaurante Veneza, Restaurante Nonna Giovannea, Erwin Churrascaria, Bar Palácio, ainda resistem ao movimento da gourmetização desenfreada e entregam um ótimo pacote de produto + serviço por um preço justo”, completou o Cantinho da Bica. 

Uma das referências quando o assunto é boteco e restaurante em Curitiba é o Sérgio Medeiros, responsável do portal Curitiba Honesta, que completou recentemente 10 anos. Segundo ele, três problemas afetam a continuidade de um bar antigo: não se conquista novos públicos, falta de mão de obra e envelhecimento dos donos.

“O cliente vai morrendo ou sendo proibido de ir ao bar pelo médico para beber e comer um torresmo. É preciso conquistar outras gerações para ter a lucratividade. Além disso, falta mão de obra para se trabalhar na cozinha, as pessoas não querem trabalhar nos fins de semana, pois o salário nem sempre é alto, fora a idade avançada dos comerciantes. Nem sempre os filhos querem seguir no balcão”, avaliou Medeiros.

Outra questão muita debatida nos balcões e mesas de bar diz respeito à mudança de cardápio, instalação de móveis modernos, alteração na forma de atendimento, implemento de tecnologias como cardápio em QR Codes e redução no número de garçons.

Por outro lado, bares tradicionais como o Makiolka, Betinho, Bar e Pastelaria Juvevê, Luzitano, Dionísio, Zezito´s, Mignon, Palácio, Bar do Pepino, Baviera, Casa Velha, Bar do Teco, Basset e Beca evitam essas “nutelagens”.

Ricardo Doi, responsável pelo Bar e Pastelaria Juvevê, fundado em 1983, acredita que a renovação do público vai vir naturalmente, sem que a identidade do bar fique de lado.

“Mantenho algumas ações desde o começo, pois temos o controle delas. As pessoas querem cerveja gelada e uma boa refeição, sem inventar muita coisa. Estamos cansados, queremos descansar e aproveitar a vida longe do balcão, mas é complicado deixar isso. Nem sempre a família quer ficar aqui no futuro”, admitiu Ricardo, que inclusive aderiu ao pagamento com cartão de crédito e débito há poucos anos. Veja abaixo imagens da clássica Pastelaria Juvevê.

Outra lenda dos botecos curitibanos é o italiano Dino Chiumento, que chegou a ser dono do Stuart ao lado do Ligeirinho. Hoje com 87 anos, deixou a boêmia de lado para cuidar da saúde da esposa há dois anos. Segundo ele, um dos problemas atuais é a falta de conhecimento de bar que leva o lugar a venda ou queda de faturamento.

“Hoje em dia, as pessoas não amam o que fazem ou não são do ramo. Eles fazem para aparecer na internet, mas isso acaba. Qual dono de bar vai nas mesas perguntar do atendimento ou oferecer uma especialidade da casa? Imagino que poucos. isso é agradar o cliente”, comentou Dino.

Ampliação que dá retorno

Um bom exemplo que está dando certo é a união do antigo com o novo. O Armazém do Pepino, localizado no bairro Bom Retiro, tem mais de 40 anos com cerveja gelada, porções apetitosas e a famosa conserva de pepino feita com folha de parreira. Uma das últimas mudanças foi a ampliação do espaço que permitiu trazer mais público.

“Posso dizer que 95% dos clientes buscam o restaurante e 5% o bar. Temos uma clientela fiel em um ambiente rústico com um espaço mais moderno, as pessoas adoram. Quem passou pandemia é um herói”, finalizou Wanderlei Manoel Batista, o craque dos bares.

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