Curitiba

Bar do Toninho em Curitiba encerra ciclo de 40 anos e muda de dono

Escrito por Gustavo Marques

O fim de um ciclo, após 40 anos do lado interno de um balcão de bar servindo amigos, ouvindo histórias – nem sempre verdadeiras – e criando laços familiares. Antônio Carlos Stela, 75 anos, mais conhecido como Toninho, vendeu seu ponto comercial localizado na Ângelo Sampaio, no bairro Batel, em Curitiba.

LEIA MAIS – Ex-piloto de celebridades sofre guinada na vida após AVC; Reclamar ou encarar o desafio?

O tradicional Bar do Toninho faz parte daqueles lugares nos quais o freguês entra e sai diferente. Seja pelo consumo da cerveja sempre gelada ou mesmo um aperitivado quente, o cliente vai saborear momentos que fazem bem para a alma. Garrafas antigas presenteadas por amigos ou consumidas pelos mais animados, canecas de chope daquelas grandes das festas dos clubes sociais, quadros expostos dos frequentadores reunidos e times históricos do Athletico decoram o alto astral do ambiente. Aliás, o Bar do Toninho virou referência da torcida rubro-negra para fazer o “aquece pré-jogo” ou mesmo assistir partidas da equipe. A pintura do lado externa é vermelha, um lembrete da paixão pelo Furacão.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

LEIA AINDA – Bar O Torto em Curitiba é templo de Garrincha, futebol, boemia e até de polêmicas

A venda do ponto ocorreu em abril, mas Toninho vive o chamado período de transição. O agora freguês, mora ao lado do bar e diariamente é visto dentro do recinto, ou seja, ainda não acostumou com a nova vida. “É difícil ficar em casa. Dou meus pitacos, mas não posso ser chato. Já teve situação que fui para lá dentro, arrumei posição de mesa, é meio que instantâneo. Eu estou contente com a mudança, acho que vai dar certo e torço que o pessoal da antiga seja paciente com o novo dono. A transição não é fácil, faz falta a conversa com os clientes no dia a dia, pois são irmãos da vida”, disse Toninho.

Regras de um bar “raiz”

A comercialização do bar teve algumas curiosidades que foram impostas por Toninho. São regras que precisam ser obedecidas para que não se torne um ambiente gourmet e siga sendo um bar raiz. “Não pode tirar o nome, não pode alterar os quadros e não pode tirar as garrafas antigas. Outra questão é a Dona Maria, que vende algumas coisinhas dela. Ela foi prejudicada na pandemia, dei essa força e quero que ela siga trabalhando”, explicou o eterno comerciante, que recebeu proposta de compra pelo atual dono por anos.

VIU ESSA? “Garimpeiro de Curitiba” percorre estradas em busca de pequenos tesouros

“Seu Antônio, meu xará é aposentado, é mais um investidor que comerciante. Ele vinha uma vez por semana para comprar salgados e toda vez ele perguntava se eu queria vender. Foram quatro anos assim, quando decidi parar, eu perguntei para ele se a proposta está em pé, e deu certo. Foi um namoro longo”, brincou Toninho.

Questionado sobre o futuro, o vô Toninho quer passar mais tempo com a família. “Quero cuidar da saúde e ficar mais próximo da minha filha que mora em Campo Mourão, no interior do Paraná. Tenho netos e vou ter mais tempo de ficar lá”, relatou Toninho.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

Das estradas para o bar

A vida do Toninho antes do bar era completamente diferente. Ele era caminhoneiro e rodava pelo país levando progresso para várias cidades no Brasil. Natural de Fartura, pequeno munícipio do interior de São Paulo, Toninho mudaria de vida devido ao pedido da esposa Vilma, que estava em Curitiba para passar alguns dias na casa da tia.

LEIA TAMBÉM Lambe-lambe em Curitiba funciona há 44 anos e prova que não é coisa do passado

“A esposa é de Carlópolis, e conhecia o dono do imóvel. Aqui era uma mercearia, daqueles que vendia pé de alface a querosene. O então dono passou o negócio para os filhos cuidarem, mas ficaram pouco tempo. Com a amizade da Vilma com o proprietário, veio a proposta para assumirmos a mercearia no começo de 80”, relembrou Toninho que bancou o ponto vendendo metade de um caminhão Mercedes-Benz, que também pertencia a uma empresa.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

Já dono do próprio negócio, o ex-caminhoneiro percebeu que precisava inovar no comércio. Ao perceber o crescimento de Curitiba com a construção de prédios, cortou um tambor e comprou carne para assar. “Os operários que estavam na rua trabalhando gostaram da ideia e coloquei ainda a bebida. Não existia freezer e a turma gostava de tomar ao natural. Vendia muito mais, e aí surgiu popularmente o Bar do Toninho”, comentou o ávido comerciante.

O boca a boca avançou por Curitiba e o bar ganhou notoriedade também com os famosos petiscos. O torresmo sequinho, as porções do bolinho de carne e pastéis fazem qualquer pessoa deixar o regime de lado. Para Toninho, o segredo para um cardápio está na simplicidade no atendimento e da própria freguesia. “Todos os meus fregueses cumprimentam ao outro, pois parece que se conhecem faz tempo. Aqui foi tudo, eu dei a faculdade aos meus filhos do trabalho tirado daqui, paguei 20 anos de aluguel. Foi com meu suor, é gratificante olhar para trás, e dizer que foi bom”, completou Toninho, uma referência que já deixa saudade.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

Novos donos

Os novos donos do Bar do Toninho são Antônio Carlos Bretas e Michel Moreira da Fonseca. No dia a dia, Michel e a esposa Jaqueline estão encarando a responsabilidade de enfrentar os clientes que estavam acostumados com o jeito do antigo proprietário.

Sobre o autor

Gustavo Marques

(41) 9683-9504