Na Região Metropolitana de Curitiba

Nova pista no Afonso Pena gera reclamações; acesso ao Centro será fechado?

Foto: Arquivo/Tribuna do Paraná.

A confirmação da construção da terceira pista do Aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), não foi bem recebida por todos. Moradores do bairro Jardim Suíça, localizado ao lado do aeroporto, estão vivendo um drama cheio de incertezas do que pode acontecer.

Fechamento do acesso do bairro ao centro, barulho alto dos aviões, problemas na infraestrutura das casas e desapropriação de moradores são algumas das preocupações listadas pela população.

A construção da terceira pista foi confirmada pela CCR Aeroportos, empresa que administra o Afonso Pena desde março de 2022. Anteriormente, os trabalhos eram mantidos pela Infraero.

Residente do Jardim Suíça desde 1992, Rafaela Bueno está cansada de não ter respostas oficiais sobre os impactos que a obra pode causar. “O que a gente fica preocupado é que ninguém chegou e fez uma reunião para explicar os fatos, dizendo onde vai ser a pista, quantas casas seriam desapropriadas. Ninguém fala coisa com coisa, já pedimos várias reuniões com a prefeitura, mas ninguém aparece. A gente não sabe nada”, reclama.

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A falta de informação também é confirmada por Ramon Martinez Araújo, morador da região há 25 anos, que acrescenta que a situação é um descaso com a população. “Trataram com menosprezo os bairros que vão ser impactados. Ao meu ver foi proposital, porque lógico, você não quer ouvir o povo reclamar. A intenção deles é essa mesmo, que a gente passe despercebido e a hora que ver já terminou a obra, aí é tarde”, aponta.

Com possibilidade de que nova pista seja construída em área verde do mapa, moradores do Jardim Suíça temem os impactos no bairro (circulado em vermelho). Imagem: reprodução Google Maps

Araújo acrescenta que já fazem cerca de sete anos que os moradores buscam por informações oficiais. Há alguns anos, procuraram a Infraero e também a prefeitura. Entretanto, de acordo com ele, nunca tiveram respostas.

“Eles até realizaram uma audiência pública em Curitiba. Curitiba não está sendo impactada. Quem está sendo impactado são os bairros que moram atrás do aeroporto, eu não entendi porque uma audiência pública em Curitiba. Um negócio ridículo”, desabafa.  

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Sem ninguém saber ao certo o que vai acontecer, os moradores do bairro Jardim Suíça criaram um grupo no WhatsApp para trocarem as informações que vão recebendo.

Após obras no aeroporto, bairro vai perder o acesso ao centro de São José dos Pinhais?

Outra grande preocupação de quem vive no Jardim Suíça é o possível fechamento do acesso do bairro ao centro de São José dos Pinhais. De acordo com Rafaela, se isso acontecer, uma viagem que leva em torno de dez minutos, vai aumentar para 40 minutos.

“Fechando nosso acesso, a gente teria que dar uma volta muito maior para chegar até o centro. Hoje, uma viagem daqui até o centro leva em torno de dez minutos, a gente levaria quase 40, sem contar que é uma área que tem um fluxo muito intenso. Os bairros que ficam mais afastados passam aqui por dentro, então o fluxo de carros é muito intenso. Fechando esse acesso, seria um transtorno para quase todo mundo que mora nos bairros vizinhos”, reflete.

Conforme o relato da moradora, o bairro não possui muita infraestrutura e comércios grandes. Para ela, sem acesso direto ao centro, os investimentos diminuiriam na região.

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Morador teme desvalorização de imóvel em São José dos Pinhais

Quem também está em sinal de alerta com a situação é Adenildo Venancio de Almeida. Ele se mudou para o Jardim Suíça em 2019 e agora, além de todos os possíveis problemas de acesso ao bairro, ele teme pela desvalorização da região.

“Recentemente eu comprei uma casa aqui, na época eram só boatos da pista. Agora que foi oficializado a gente fica preocupado porque o imóvel que valia R$ 300, R$ 400 mil, vai valer R$ 100, R$ 150 mil reais. Ninguém vai querer comprar. Bem complicado. A gente fica com as mãos atadas”, diz.

O morador acredita que a prefeitura ou concessionária poderiam apresentar soluções para impactar menos a vida das pessoas. “A gente está aqui bem pacato, não recebemos informação nenhuma. Simplesmente falaram que vão fazer a pista. Se pelo menos pudessem fazer uma trincheira ou indenizar a gente para não sair perdendo”, sugere.

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Assim como Rafaela e Araújo, Almeida cobra por novidades. “A gente precisa de pelo menos uma resposta. Quem vai ser indenizado? Quando? As pessoas que vão morar aí, se aparecer uma trinca na parede, o aeroporto vai arrumar? Vão fazer um viaduto, uma trincheira?”, questiona.

O que diz a CCR Aeroportos

Em nota, a CCR Aeroportos informou que a obra deverá ser entregue até o final de 2026 e que os ajustes do projeto estão sendo finalizados. Leia:

“A CCR Aeroportos informa que está finalizando os ajustes do projeto de construção da terceira pista do Aeroporto Internacional Afonso Pena, obra prevista no contrato de concessão do terminal e que deverá ser entregue até o final de 2026. Todas as exigências estão sendo analisadas e serão cumpridas de acordo com o contrato. Os detalhes da operação serão divulgados ao final desse processo de estudos.”

O que diz a Prefeitura de São José dos Pinhais

Procurada pela reportagem da Tribuna do Paraná, a Prefeitura de São José dos Pinhais também falou sobre o caso. Por meio de nota, a administração municipal informou que a área é particular e demarcada há mais de 20 anos. Também disse que sabe e concorda com as preocupações listadas pela população local.

De acordo com a explicação da prefeitura, análises mais profundas sobre a situação só poderão acontecer depois que a CCR Aeroportos protocolar uma documentação oficial sobre a intenção de realizar a obra, o que ainda não aconteceu.

A prefeitura confirmou que o Grupo de Assessoramento Técnico do Município está analisando o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), entregue em janeiro, para identificar os possíveis danos. Além disso, a administração garante a participação da população nas etapas futuras. Leia a nota na íntegra:

“A terceira pista do Aeroporto Internacional Afonso Pena será construída em uma área particular já demarcada no zoneamento do município há mais de 20 anos. Dessa forma, é de conhecimento público, tanto dos moradores da vizinhança quanto do município, que a destinação desta área depende da decisão da CCR, atual concessionária do terminal aeroportuário, em iniciar a implantação da pista.

O município, assim como a população local, não recebeu (até o momento) confirmação oficial da intenção da referida obra. Algumas conversas foram realizadas ao longo dos anos, mas nunca foi iniciado o processo formal de análise para liberação das obras.

Procurados pela CCR em dezembro de 2023, após questionamentos do próprio município, foi realizada uma reunião entre funcionários da concessionária com técnicos e diretores da Secretaria Municipal de Urbanismo e Secretaria de Transportes e Trânsito. Na ocasião, a CCR informou que foram realizados diversos estudos para a ampliação da capacidade de voos do Aeroporto Afonso Pena, incluindo opções de não utilização da área.

Porém, ao final desta análise, constataram que a melhor opção seria a implantação da 3ª pista. A partir disso, a concessionária deverá seguir os ritos processuais normais para a liberação de qualquer obra de grande porte com destaque para a ação inicial, que é a elaboração de um Estudo de Impacto de Vizinhança, um documento que deverá apresentar e esclarecer todas as dúvidas, tanto do município quanto dos moradores, sendo as principais:

  • Qual a área será impactada com ruídos da implantação da 3° pista?
  • Quais imóveis serão desapropriados para essa obra, visando garantir a segurança da operação da pista, bem como a segurança dos moradores da região?
  • Quais ações serão tomadas pela CCR neste processo de desapropriação, bem como os prazos destas desapropriações e da própria obra de construção da pista?
  • Quais os impactos no sistema viário local – em especial a situação da Rua Constante Moro Sobrinho, importante via de ligação entre o bairro e o restante do município – e quais as propostas da CCR para a mitigação e compensação destes impactos?

Este EIV foi protocolado ao município em janeiro de 2024 e encontra-se em análise pelo Grupo de Assessoramento Técnico do Município. Poderão ser solicitadas complementações e, ao final do processo, serão estipuladas as contrapartidas necessárias a serem realizadas pela CCR, para que a obra possa ser autorizada pela administração municipal.

Nesta etapa, reuniões com a comunidade serão realizadas a fim de garantir a participação pública e transparência do processo.

A Secretaria de Urbanismo vem estudando alternativas viárias para a região há anos, sabendo que este é o principal impacto desta obra. Mas a definição de rotas alternativas deverá ser proposta e executada pelo requerente da obra – neste caso a CCR -, com a validação e aceite do município, no momento da análise e deliberações sobre o EIV.

O município entende e concorda com as reivindicações da população local e está fazendo todos os esforços necessários para a redução dos impactos gerados. Porém, apenas após receber a primeira documentação oficial da CCR com a garantia da intenção de se realizar tal obra, é que a administração municipal poderá apresentar qualquer dado mais concreto sobre esta situação.

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