Turismo ecológico

Ilha Patrimônio da Humanidade no Paraná está abandonada: sem trapiche, remédios e cheia de lixo

Foto: Eloá Cruz / Tribuna do Paraná.

Considerada como Reserva da Biosfera e Patrimônio da Humanidade pela Unesco, a Ilha de Superagui, localizada a 150 quilômetros de Curitiba, concentra uma bela paisagem natural composta por dezenas de plantas e animais. Apesar de ser um dos atrativos turísticos do Paraná, moradores da ilha sentem que foram abandonados pelo poder público e trazem uma lista de reclamações, que vão desde a falta de um trapiche até escassez de remédios no posto de saúde.

A Ilha de Superagui é administrada pela Prefeitura de Guaraqueçaba e possui aproximadamente 700 habitantes. Guaraqueçaba e, consequentemente Superagui, fazem parte do programa ICMS Ecológico, criado no Paraná em 1991 e inserido no Decreto Estadual 2.791 com o objetivo de distribuir parte dos recursos provenientes das arrecadações de ICMS para os municípios que abrigam Unidades de Conservação ou mananciais para abastecimento de municípios vizinhos.

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De acordo com o Instituto Água e Terra (IAT), órgão responsável pelo ICMS Ecológico, os municípios paranaenses que fazem parte desse programa podem receber até 5% de retorno do imposto.

Somente neste ano, entre janeiro e outubro, Guaraqueçaba já recebeu o valor bruto de R$ 6.167.114,03, conforme tabela divulgada pelo IAT. O problema é que os habitantes da Ilha de Superagui não estão vendo nenhuma melhoria ser feita no local há anos.

“Ninguém faz nada, ninguém está nem aí”

Valdeir da Silva Teixeira, mais conhecido como Carioca, é morador há 40 anos e proprietário de uma pousada. Para ele, um dos principais problemas na estrutura de Superagui é a falta de um trapiche.

“Alguns anos atrás foi feito um trapiche para a comunidade toda e para os turistas. Só que com o passar do tempo, o mar foi assoreando a praia, a areia foi aumentando e o trapiche ficou na areia. Já faz uns cinco anos que nunca mais foi arrumado”, relata Carioca.

O morador acrescenta que o trapiche é fundamental para auxiliar os turistas, mas também para atender necessidades básicas dos habitantes da ilha. “Aqui tem bastante gente idosa, então a pessoa quando vai pegar a lancha de transporte para ir para Paranaguá ou Guaraqueçaba, não importa se está calor ou frio, a primeira coisa que tem que fazer é tirar o sapato do pé e pisar na água”, reclama.

Quem confirma o problema é Maria* que há 18 anos vive no local. Inclusive, ela acredita que a falta do trapiche atrapalha o turismo na região. “Isso é uma coisa que a gente precisa muito. A gente já pediu, implorou, mas até agora nada foi feito. Agora na temporada de turismo, poxa, o pessoal vem, pisa na água e não tem lugar para descer. A gente ouve muitos deles (turistas) falando que é uma ilha grande, turística e não tem estrutura”, conta.

Morador da ilha desde que nasceu, o pescador e proprietário de um camping Mauro Mendes, 50 anos, reforça a necessidade do trapiche. “É uma comunidade grande e depende muito de trapiche para chegar, desembarcar o pessoal, tanto os turistas como as pessoas daqui mesmo. É uma coisa que a gente utiliza no dia a dia”.

De acordo com Carioca, a promessa de reconstruir o trapiche foi feita pela atual prefeita Lilian Ramos Narloch (Podemos) durante a campanha de 2020, mas até agora nada aconteceu. “O que a prefeitura faz aqui e nada é a mesma coisa. Aqui só vivem de promessa. Ninguém faz nada, ninguém está nem aí”, desabafa.

Maria acrescenta que outras pontes da ilha também estão abandonadas. “As pontes estão horríveis. A ilha é turística e o pessoal passa com frequência. Tem ponte de madeira que está caindo e eles não fazem nada. A prefeita nem vem na ilha para saber o que está acontecendo”, afirma.

Acúmulo de lixo na Ilha

Na Ilha de Superagui, parte do recolhimento do lixo das casas, pousadas e da orla é feito por mulheres que participam do Programa Estrela do Mar. Essa iniciativa, lançada em 2015 e instituída pela Lei Municipal 458/2015, prevê que as mulheres retirem os resíduos, armazenem em uma espécie de barracão e, em troca, recebam uma cesta básica por mês.

Entretanto, na terça-feira (21), a Tribuna do Paraná recebeu um vídeo que mostra que o barracão está totalmente cheio de sacos de lixo. Sem ter mais espaço para guardar dentro, as mulheres estão precisando deixar os novos sacos com resíduos do lado de fora do barracão.

Maria afirma que isso está acontecendo porque faz tempo que funcionários da prefeitura não vão até a ilha para recolher os materiais. Ela nem se lembra quando foi a última vez que a embarcação passou por lá. “A gente queria que eles, pelo menos, viessem uma vez por mês buscar. Ou que então a cada 15 dias viessem buscar esse lixo”.

E esse não é o único problema relacionado ao Programa Estrela do Mar. De acordo com Maria, muitas vezes o pagamento da cesta básica atrasa mais de quinze dias. “Fazem descaso. Estamos trabalhando por uma cesta e eles esperam que a gente faça o programa durante o mês inteiro e entregam a cesta só no dia 15, 20 do outro mês. É uma questão muito chata, a gente trabalha porque precisa”.

Cansada de toda a situação, ela declara: “Só sai alguma coisa em tempo de política, porque a gente continua a mesma coisa”.

Falta de remédio na Ilha de Superagui

Outro problema grave apontado por Maria, Mauro e Carioca é a falta de remédio no posto de saúde. O proprietário da pousada relata que é diabético e que raramente consegue pegar os remédios no posto, pois estão em falta. Por isso, ele precisa comprar todos os medicamentos. “Aqui as vezes tem remédio para pressão, o resto eu tenho que comprar tudo”.

“Não tem remédio, o pessoal fica esperando semanas para conseguir pegar”, acrescenta Maria. “A gente fica abandonado”.

Mauro afirma que o posto de saúde da ilha é grande, o problema está na falta de recursos. “O médico atende, mas não tem remédio suficiente para fornecer para os pacientes. Aí a gente precisa se deslocar até Guaraqueçaba pegar o medicamento lá. Esse nosso posto de Superagui é quase um hospital, de grande, muito lindo, só que falta estrutura”.

Pousadas lotadas, mas falta estrutura

Carioca afirma que apesar de as pousadas já estarem todas reservadas para o fim do ano, ele sente falta de mais cuidado e atenção com os turistas. “A prefeitura não faz nada para ajudar a gente. Você vem aqui e não vê uma cesta para colocar o lixo. Não tem uma placa informando onde tem o caminho ecológico, o nome dos lugares. Aqui não acontece nada”.

O mesmo é apontado por Mauro, que acredita que os problemas listados pelos moradores ‘espantam’ turistas da região. Além disso, ele também acrescenta que a falta de água é uma situação recorrente que atrapalha a vida dos moradores e também dos visitantes.

“A nossa represa de água não abastece Superagui o suficiente. Tinha que mudar a represa, já dei a opinião para eles puxarem a água de outro canal, mas até hoje não tivemos resposta pública para atender essa demanda. Isso é uma emergência muito séria em Superagui”, desabafa.

“Eles (prefeitura) só prometeram e prometeram, mas até agora não vieram fazer nada. Nem esclarecer para o pessoal em que “pé que está”, se estão trabalhando, se está sendo feito, se vai vir água”, finaliza Mauro.

Com tantas reclamações, os moradores da Ilha de Superagui, no litoral do Paraná, esperam que os problemas sejam resolvidos.

**O nome de Maria foi alterado para proteger a identidade da entrevistada.

Cadê a prefeitura? O que foi feito com R$ 6 milhões de recursos?

Procurada pela reportagem da Tribuna do Paraná, para um esclarecimento a respeito do que foi feito com o recurso recebido pelo ICMS Ecológico, mas a prefeitura não nos deu retorno.

A Tribuna também questionou a prefeitura sobre a falta de estrutura e problemas citados pelos moradores da Ilha, mas a prefeitura também não enviou nenhuma resposta a respeito.

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