Negação da pandemia

“As pessoas estão vivendo uma alucinação de uma segurança que não existe”, desabafa médico

Muitas pessoas foram ao Parcão, ao lado do Museu do Olho, no Centro Cívico, no último domingo (19). Foto: Gerson Klaina / Tribuna do Paraná.

A pandemia do coronavírus na região Sul do país segue ganhando força, o Paraná tem apresentado cada vez mais casos e aumento de mortes. Em Curitiba, a secretária Márcia Huçulak tem repetido diariamente nas lives dos boletins do coronavírus: “fiquem em casa”. Afinal, a capital ainda segue em bandeira laranja, mas já caminhando para vermelha de alerta máximo, apesar da liberação de algumas atividades como academias e restaurantes

Mesmo assim, o que se vê nas ruas é uma negação da pandemia. “As pessoas estão vivendo uma alucinação de uma segurança que não existe”, desabafa David Urbaez, médico infectologista do Laboratório Frischmann. O especialista lida com pacientes graves do coronavírus diariamente numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e se sente impotente diante da situação atual.

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“O que eu fico mais perplexo é que a gente tem que explicar o óbvio. A gente sabe que não pode pôr a mão no fogo porque queima. Ir à academia, show de música, buffet por quilo, são lugares de grande circulação de pessoas, o risco de contrair coronavírus é muito alto”, desabafa o médico.

O infectologista cita ainda o uso das máscaras, embora ainda tenha gente que negue usá-las, que fizeram com que as pessoas perdessem o medo de contrair a doença e desrespeitarem o distanciamento social. “A máscara virou amuleto de proteção de tudo e de todos, de maneira nenhuma a máscara é o que vai acabar com a pandemia. Nos restaurantes, pessoas nas mesas, todas próximas, máscara ausente. Para quem se dedica a pacientes de UTI não imagina o grau de tensão que é, a impotência da compreensão”, lamenta Urbaez. 

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David Urbanez, médico infectologista, lida com pacientes graves do coronavírus diariamente numa UTI e se sente impotente diante da situação atual. Foto: Divulgação.

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Atividades de maior risco

Um estudo feito pela Associação Médica do Texas, nos Estados Unidos, classificou atividades cotidianas de acordo com o risco em contrair a covid-19, mesmo com todos os cuidados sanitários de higienização de mãos e uso de máscara. Entre as atividades de risco alto, estão frequentar academias, comer em um buffet por quilo, ir a um parque de diversões, ir ao cinema ou a um show de música, além de frequentar bares, ir a um culto/missa, ou ir a um estádio. 

Atividades como essas, mesmo respeitando o distanciamento e utilizando máscara, podem aumentar muito o risco de contrair a doença. “Na academia, por exemplo, é cheia de superfícies que podem ser contaminadas. Ao fazer esforço físico na atividade aeróbica, aumenta muito o fluxo de saliva da boca e nariz. Tudo isso leva a um aumento nas concentrações de secreções respiratórias. E para manter o local seguro, é preciso que o local seja limpo de forma rigorosíssima”, salienta o médico.

De acordo com o infectologista, dos vírus circulatórios mais recorrentes no inverno, como o influeza, adenovírus e outros tantos, nenhum deles chega a capacidade de transmissão do coronavírus – mesmo que uma parte dos casos seja de assintomáticos ou subclínicos. “Então é óbvio que esses locais onde há uma grande circulação de pessoas não são próprios para frequentar uma pandemia, que está em ascensão no número de casos”, ressalta.

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Afinal, teremos Natal com pandemia?

Para o presidente da comissão de combate ao coronavírus da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Emanuel Maltempi de Souza, o pico da pandemia ainda não chegou ao Paraná. Mas apesar de toda a situação atual, o docente acredita que poderemos ter controle maior da pandemia com uma vacina eficaz em dezembro. “Eu espero que a gente tenha uma vacina para os principais grupos de risco, como os idosos, doentes crônicos e médicos. Assim vai ser bem melhor, vamos torcer”, esclarece.

Atualmente, o Paraná colabora com testes de três diferentes vacinas: a da Universidade de Oxford, na Inglaterra, a do laboratório chinês Sinovac Biotech e a vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan, em São Paulo. “Acho que com uma vacina até dezembro, temos uma boa chance de controlar o contágio da doença nos primeiros meses do ano que vem. Temos essa perspectiva de que as coisas podem voltar ao normal”, prevê o docente.