"As Domadoras"

Reality show do Paraná com mulheres domadoras de cavalo ganha prêmio nos EUA

série feita no Paraná, com mulheres e cavalos
“As Domadoras - Conexão com o Cavalo”. Foto: Reprodução/Facebook/Cabanha São Rafael

Quatro garotas, entre 22 e 24 anos, e uma missão: domar uma potra xucra da raça crioulo em 15 dias. Detalhe: nenhuma delas tinha qualquer experiência com cavalos.

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Essa é a premissa da série “As Domadoras – Conexão com o Cavalo”, produzida pela Cabanha São Rafael, de São Luiz do Purunã (PR), vencedora da edição deste ano do EQUUS Film & Arts Fest nas categorias Melhor Série Original e Melhor Direção. Realizado desde 2013 nos Estados Unidos, é o principal festival mundial dedicado à produção audiovisual sobre o universo equino.

"As Domadoras"
Da esquerda para a direita, as domadoras Paolla Lucchin, Karoliny Lopes, Mariana Mathies e Jennifer Desirée. Foto: Lucas Rachinski

Em 30 episódios, Jeniffer Desiree (26), Karoliny Lopes (24), Mariana Mathies (22) e Paolla Lucchin (24) trabalham para domar uma potra considerada indomável, arredia à aproximação, que não demonstra possibilidade de estabelecer vínculo com seres humanos. Para isso, elas mergulharam dentro da manada para encontrar, cada uma, sua potra para domar. Ao longo dos acontecimentos, a série, produzida entre 2019 e 2020, revela de que maneira a relação com o cavalo, presente desde sempre na história da humanidade, aprimora aspectos físicos e emocionais do ser humano, e de que forma esse contato alimenta também o equino. Inicialmente ligado às batalhas, ao transporte e ao trabalho pesado, o cavalo é visto hoje como um animal repleto de significados, e tem sua beleza e magnitude reconhecidas entre as mais impressionantes do reino animal.

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Um exemplo: “no episódio 14, fizemos uma análise dos batimentos cardíacos do cavalo e da domadora para mostrar que o cavalo sente o que a pessoa sente”, conta Rodrigo Chaves, diretor da série. “O cavalo acompanha os batimentos cardíacos da pessoa que o conduz. Se a pessoa fica nervosa, o cavalo sente e se altera”, detalha.

Para elaborar a série, Mariano Lemanski, proprietário da cabanha, criador de cavalos da raça crioulo e produtor executivo da série, foi entender o mercado de produção dirigida ao mundo equino. E o que ele percebeu foi que, em geral, todo o segmento prioriza questões técnicas sobre o animal. Com essa percepção, a série foi em outra direção: trazer conteúdo relevante, que traga valor e que vá além do lado esportivo e da saúde do animal.

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Nessa primeira experiência, a ideia foi escolher meninas que não tivessem intimidade com o universo da criação de cavalos. Para encontrar as participantes, a produção foi às redes sociais e deu preferência a influenciadoras, meninas com números elevados de seguidores no Instagram. Segundo Lemanski, todas elas praticamente dobraram os fãs na rede social depois da participação na série.  As Domadoras está disponível na íntegra no canal do YouTube da Cabanha São Rafael. A série registrou mais de 2,7 milhões de visualizações no Brasil de forma orgânica, com 98% de aprovação. México, Estados Unidos, Argentina e Chile vêm em seguida na lista dos países que contabilizam maior visualização. A medição foi feita a partir de 31 de agosto de 2020, quando a série foi lançada e publicada na plataforma de vídeos. A série tem legendas em inglês e espanhol.

A produção da série custou R$ 600 mil. Mesmo com orçamento reduzido se comparado a séries e realities de sucesso, o resultado final impressiona pela qualidade técnica, em um cenário que escancara a beleza natural da região. Lemanski informa que o projeto  teve como objetivo propor algumas discussões. Em um primeiro plano, As Domadoras trabalhou com a relação de bem estar entre ser humano e o cavalo e os vínculos sociais e emocionais que se estabelecem a partir desse contato. Paralelamente, a obra coloca em pauta a inclusão das mulheres em um ambiente dominado por homens. “A trama se desenvolve em volta dos cavalos, da cabanha e da inclusão de meninas em um mundo machista”, explica Lemanski. Segundo o produtor, 98% dos domadores no Brasil hoje são homens. Ao contrário do que informa acontecer nos Estados Unidos, onde mais da metade são mulheres.

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A série, defende Lemanski, atua também no fomento ao turismo na região, considerando a vocação local. São Luiz do Purunã, distrito do município de Balsa Nova, está em área de proteção ambiental (APA) da Escarpa Devoniana, elevação rochosa sustentada pela formação furnas, que se formou há 400 milhões de anos, no período conhecido como devoniano. Mais: o distrito é parte da rota dos tropeiros, que inclui 16 cidades repletas de história do desenvolvimento cultural e econômico do sul do país. Criada em 1791, a antiga Estrada do Viamão ligava o Rio Grande do Sul ao resto do Brasil, passando pelos Campos Gerais, no Paraná.  A Cabanha São Rafael, com sua criação de cavalos da raça crioulo, trabalha também pelo resgate da tradição tropeira.

Mariano Lemanski, produtor executivo de As Domadoras, proprietário da Cabanha São Rafael e criador de cavalos da raça crioulo: prêmio reconhece pioneirismo da série. Foto: Lucas Rachinski

Já há algum tempo a cabanha atua em conjunto com o Instituto Purunã no desenvolvimento de um projeto de turismo para o local. “Tudo começa a partir da criação de cavalos, que me levou a concluir que a gente tinha uma vocação turística para a região de São Luiz do Purunã e que envolvia a criação de cavalos”, recorda.

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Lemanski aposta também numa abordagem diferente para suas produções como forma de estimular o turismo local e manter quicando a bola das discussões propostas pela série. Em vez de filmes técnicos, como os apresentados no festival, ele acredita na produção de conteúdo com um apelo mais humano, a partir da criação de cavalos da Cabanha São Rafael, como maneira de despertar o interesse de mais pessoas, de idades e classes sociais diferentes, para essa relação rica e única entre o ser humano, os animais e a natureza.

A gaúcha Jennifer Desirée, vencedora de As Domadoras. Foto: Lucas Rachinski

Isolamento e o despertar de emoções

As Domadoras foi produzida em um período pré-pandemia. A final, que definiu a vencedora do reality, foi gravada em 16 de março. “Estávamos isolados há 15 dias, sem saber de nada”, revela. Com uma equipe enxuta, registrou o dia a dia das meninas na prática da doma. Atenta a tudo, as lentes captaram não só o trabalho com o cavalo xucro; registraram também dramas emocionais e vivências que a relação com o animal despertou. “Uma delas desmanchou o namoro durante o reality, outra saiu do armário”, revela Lemanski. A vencedora foi Jennifer Desiree.

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A discussão proposta pela série – a inclusão da mulher no segmento da doma e a dificuldade para a entrada em um universo machista, o bem estar do animal e do ser humano nessa relação, as emoções que esse contato desperta, tudo isso, avalia Lemanski, deixa um legado. E o reconhecimento vindo com os prêmios no EQUUS Film & Arts Fest atestam isso.  “Vejo o troféu como símbolo do nosso pioneirismo nessa área”, avalia. “Porque a história da série é sobre como essas mulheres vão se conectar com os cavalos em apenas 15 dias. E a moral da história é discutir como nos conectamos com nós mesmos, com o nosso mundo”, acrescenta.

O cavalo e a saúde

A partir de uma abordagem multidisciplinar, a equoterapia utiliza o cavalo para aprimorar o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e necessidades especiais. Os benefícios da terapia com cavalos são notáveis em casos de doenças genéticas, neurológicas, ortopédicas, musculares, clínico-metabólicas, sequelas de traumas e cirurgias, doenças mentais, distúrbios psicológicos e comportamentais, de aprendizagem e de linguagem.  O uso do cavalo em processos terapêuticos tem início mais ou menos no ano 458 a.C, e é atribuída a Hipócrates, o pai da Medicina. No Brasil, a modalidade começou a se tornar conhecida em 1989.

Rodrigo Chaves, diretor de As Domadoras: série alcançou a marca de 2,7 milhões de visualizações desde seu lançamento, e conta com número alto de views em países como México e Estados Unidos. Foto: Lucas Rachinski

Pesquisa realizada em 2016 por cientistas da Universidade de Sussex, no Reino Unido, revelou que os cavalos são capazes de discernir expressões faciais. Segundo os pesquisadores, a habilidade em compreender alguns aspectos do comportamento humano pode ter surgido com a domesticação do animal.

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