Sem descanso

Terceirizados dos Correios denunciam abuso: jornada ‘desumana’ de trabalho

central encomendas pinhais
Foto: divulgação / Correios,

Funcionários terceirizados que atuam no setor de operações do Centro Internacional dos Correios em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), procuraram a Tribuna para denunciar as condições de trabalho.

Os denunciantes, todos contratados pelo Grupo MAP, afirmam que são obrigados a trabalhar em alguns domingos. Quem não comparece precisa assinar uma advertência. Em caso de duas medidas disciplinares, o funcionário é suspenso por um dia.

Além de se sentirem coagidos, quando a convocação no domingo acontece, eles passam a semana trabalhando, sem ter um dia de descanso, o que vai contra a lei trabalhista. O artigo 7 da Constituição Federal prevê “repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos”.

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A Orientação Jurisprudencial n. 410 da SDI-1 do Tribunal Superior do Trabalho (TST) também reforça que o empregado tenha um dia de folga na semana. Se ele trabalhar no domingo, deve folgar em outro dia.

Segundo as denúncias, o superior alega que eles precisam trabalhar no domingo por conta do acúmulo de carga. Em outras vezes, a justificativa é de que o sistema apresentou falha durante a semana, impossibilitando a conclusão das atividades.

Gabriel* trabalha no setor de operações há quase um ano. Ele relata que a primeira convocação foi em dezembro de 2022. Em abril e junho aconteceram outras e, desde então, o homem afirma que a situação tem sido recorrente.

Ele explica que geralmente eles fazem a convocação de todos os funcionários ou de um turno específico. Esse aviso é dado apenas no fim da semana, como na quinta ou sexta-feira. “A situação está ficando muito caótica. Está faltando material. Estão nos coagindo a trabalhar no domingo, nosso dia de folga”, desabafa Gabriel.

De segunda a sexta-feira, a jornada dos trabalhadores é de oito horas. Aos sábados e domingos são seis horas.

Funcionários também reclamam da falta de materiais, como papelão, que é usado para organizar as encomendas nas caixas. “A gente precisa colocar as encomendas em caixas pequenas e o local está ficando entupido”.

Gabriel diz que já procurou o Siemaco, sindicato da categoria, para denunciar a situação, mas não houve melhora. “No contrato diz que podem exigir hora extra, mas não trabalho no dia de folga. Eles pagam a gente corretamente. O problema é que ficam nos coagindo a trabalhar no domingo. Quem não vai precisa assinar advertência”, relata.

Advertência recebida por colaborador. Foto: colaboração.

A situação também é denunciada por Roberto*, que há três meses está no operacional. Ele conta que na primeira semana de trabalho já foi convocado a ir para a empresa no domingo, seu dia de folga.

Ele afirma que quando assinou o contrato perguntaram se ele poderia fazer hora extra, mas não foi o informaram das convocações. “Acho que ninguém que é funcionário de lá espera trabalhar de segunda a sábado e ser obrigado a ir no domingo”.

Roberto também comenta sobre as metas que são cobradas. De acordo com ele, os superiores pedem que cada funcionário faça a operação de 401 objetos por hora.

“Falta de respeito com o ser humano”

Roberto estava tão sobrecarregado com as condições de trabalho que optou por encerrar o contrato. “Por mais que eu precise de um trabalho, acho que a gente precisa de uma coisa melhor. É uma falta de respeito com o ser humano”.

O funcionário, que já machucou as costas ao pegar cargas que estavam no chão, completa: “se eu soubesse que a empresa funcionava dessa forma, eu jamais teria entrado”.

Falta de equipamento no setor de operação

Outro ponto levantado por Roberto é a falta de equipamento. Ele conta que é comum que as empilhadeiras circulem no meio das pessoas, pois todas as áreas são livres. Para garantir mais segurança, ao entrar na função, ele precisava ter recebido uma bota. No entanto, o homem afirma que isso nunca aconteceu.

Essa situação também é apontada por Alessandro*, que foi contratado para trabalhar no setor de operações do Centro Internacional dos Correios em Pinhais há sete meses.

O funcionário conta que recebeu a bota quando foi contratado, mas ela rasgou um tempo depois. Apesar de ter solicitado um equipamento novo, há cerca de quatro meses, nunca recebeu o sapato novamente.

Assim como os outros colaboradores, Alessandro também foi pego de surpresa com as convocações aos domingos. “Eles nunca falaram nada. Nunca comunicaram que a gente teria que trabalhar no domingo ou assinar advertência”, diz.

Alessandro relata um ambiente hostil no trabalho. “Se a gente não for no domingo, assinamos uma advertência. E ainda ameaçam a gente. Dizem que quem não assinar vai sofrer com as consequências”.

E a vida pessoal, como fica?

Sentindo-se injustiçado e desamparado, Alessandro comenta o desgaste de ir para e empresa todos os dias: “A gente trabalha de segunda a sábado. Trabalhando no domingo fica muito cansativo. O único dia que seria nosso descanso não temos, temos que ir para lá”.

E ele não está sozinho. Sandra*, que está na empresa há cerca de seis meses, define a rotina como puxada e corrida. Assim como os outros, ela também afirma que não estava ciente das convocações. “Por essa eu não esperava. Eu sabia que quem já trabalhou lá fez alguns comentários, mas quando me contrataram não falaram sobre as convocações”.

A trabalhadora, que já precisou assinar uma advertência, sofre os impactos de trabalhar em todos os dias da semana. “Atrapalha e muito minha vida pessoal, até o corpo físico, a mente da gente. O estresse que ficamos”, desabafa.

Sandra comenta que o fluxo de contratação é constante. Entretanto, por conta das condições do emprego, ninguém fica muito tempo no cargo. Inclusive, ela está em busca de um lugar melhor. “É um serviço quase escravo. Não dá para continuar desse jeito. Todos os funcionários reclamam”.

E aí, sindicato?

Diretor do Siemaco Rafael Geronimo confirma que “tem conhecimento da situação e está tomando as medidas cabíveis”. Ele explica que duas reuniões foram feitas com representantes do Grupo MAP após denúncias de funcionários. Os encontros foram em abril e maio, na sede do sindicato em Curitiba.

Nas ocasiões, a empresa compareceu e se comprometeu a resolver os problemas apontados pelos funcionários. Entretanto, as reclamações continuaram. Por conta disso, Rafael explica que “o sindicato solicitou uma mediação para a Superintendência Regional do Trabalho para tentar resolver a situação”. A mediação está marcada para 25 de julho.

Centro Internacional dos Correios em Pinhais alega que respeita as normas

Em nota, o Centro Internacional dos Correios em Pinhais afirma que, apesar de funcionar todos os dias da semana para garantir os prazos de entrega, respeita as normas de descanso semanal previstas na CLT.

“O trabalho de empregados aos domingos ocorre em escala de revezamento e plantão dentro dos limites permitidos pela legislação trabalhista”, diz nota.

Leia nota na íntegra:

“O Centro Internacional dos Correios em Pinhais tem funcionado todos os dias da semana para garantir os prazos de entrega, mas a empresa respeita as normas de descanso semanal previstas na CLT e o trabalho de empregados aos domingos ocorre em escala de revezamento e plantão dentro dos limites permitidos pela legislação trabalhista.

A gestão dos Correios preza pela valorização e pelo resgate da dignidade dos trabalhadores, assim como o diálogo com seus representantes. O retorno do diálogo com os sindicatos e dos benefícios importantes que haviam sido retirados durante a gestão anterior (licença-maternidade de seis meses e pagamento de auxílio para empregados que possuem dependentes com deficiência), além da criação de grupos de trabalho para combater o assédio e promover a equidade atestam o respeito da atual diretoria da estatal pelos trabalhadores e pelos seus direitos.”

Procurado pela reportagem da Tribuna, o Grupo MAP não se manifestou até o fechamento desta matéria.

*Os nomes dos denunciantes foram alterados para preservar a identidade dos funcionários.

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