Entrevista exclusiva

Maria Gadú está de volta! Cantora conta à Tribuna o que fez na pausa dos palcos

maria gadu
Foto: Loiro Cunha / divulgação.

“Estou feliz de voltar a Curitiba, cantar as canções que estão na memória das pessoas”, declarou Maria Gadú, durante uma entrevista exclusiva da cantora para a Tribuna. Por telefone, a cantora conversou com a reportagem nesta última semana e falou de uma maneira despojada e muito simpática sobre estudos, carreira, ativismo social e maternidade.

Uma das grandes vozes contemporâneas da MPB está de volta aos palcos, depois de um hiato na carreira – com pausa das turnês e das gravações em estúdio. E agora, depois de um tempo se dedicando aos estudos e ativismo, Maria Gadú volta aos palcos com sua nova turnê “Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor”. A apresentação da artista acontece em Curitiba no próximo sábado (19).

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O show traz interpretações dela para uma seleção especial de canções de grandes nomes da música brasileira e que marcaram de alguma forma a trajetória da artista. Há também música autorais e regravações de Caetano Veloso, Gonzaguinha. Marisa Monte, Rita Lee e Renato Russo.

Para quem adora a cultura da música de barzinho, o show é uma imersão a esse movimento popular e bem brasileiro. O espetáculo também tem toda a personalidade da Maria Gadú, que completa 25 anos de carreira – boa parte deles de tempos em que tocava nos bares no Rio de Janeiro.

Confira a seguir a entrevista completa com a artista:

Tribuna – Em 2019, você chegou a anunciar que a turnê “Pelle” seria sua última. Você assustou muita gente com essa notícia, mas na época explicou que ia reformular sua relação com a música, experimentar outros formatos e desenvolver a sua arte um pouco longe dos holofotes da mídia. Como foi esse período pra você?

Maria Gadú – Foi ótimo! Na verdade a turnê “Pelle” já foi uma turnê voz e violão. Eu já estava dentro de um hiato, não gravava já há um tempo. Essa foi a minha última turnê mesmo. Em 2017 eu parei para estudar, estudei Antropologia, História do Brasil. Eu estava muito envolvida com a luta dos povos indígenas. Aí eu decidi fazer uma turnê voz e violão pra exercitar, para lembrar de coisas. Foi um período muito bom, onde pude estudar, ter tempo. Nesse período fiz bastante trilha sonora também, foi ótimo.

Como surgiu essa Maria Gadú ativista? Ela veio antes da Maria Gadú cantora, artista? Ou andaram juntas?

Maria Gadú – Eu acho que nenhuma mulher gay não é ativista. A gente nasce na atividade de colocar em prática os nossos direitos. A minha família é muito ativa, principalmente em questões sociais. Então, há muitos anos que eu coloco isso em prática. E eu acho também que agora a mídia tem dado abertura para esse tipo de pauta. Não se falava antes, nem dessa e nem de várias lutas. Muitos outros artistas também estão se descobrindo ativistas. Com a entrada forte da rede social, que é um alto divulgador, propagador de ideias, o ativismo só ficou mais forte.

Os estudos acrescentaram como no seu trabalho como artista? Como esse conhecimento somou?

Maria Gadú – Eu acho que não tem estudo que diminua, né. Principalmente História do Brasil, Antropologia, História Brasileira, a história dos indígenas, que é tão abundante.

Esse último disco é um recorte que eu fiz, ele referencia os tempos em que eu toquei em bar. E já são 25 anos de carreira, acredita? No próximo álbum, autoral, vai ter muita influência disso [dos estudos]. Influência até é uma palavra pequena. Vai ser a base do próximo trabalho.

Você está com seu novo trabalho “Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor”. Teve lançamento do documentário no fim de junho, que mostra os bastidores, o nascimento do processo desse trabalho. O nome é uma homenagem ao Milton Nascimento?

Maria Gadú – É uma homenagem ao movimento do Milton Nascimento. Eu acho que o Milton, que é um dos meus artistas preferidos no planeta – se tiver outros planetas habitáveis e galáxias, ele vai continuar sendo meu artista preferido. Esse trabalho dele foi uma coisa que eu vi sair. Eu não tive a oportunidade de acompanhar o Bituca lá no início, porque eu nem estava nesse plano quando ele começou (risos). Mas ‘Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor’ foi uma canção que eu vi a tempo. Esse trabalho, tanto o documentário quando o álbum, é um agradecimento a ele e também aos cantores, compositores que me fizeram ser quem eu sou.

Eu comecei cedinho na música. Por sorte, nasci numa família que possibilitou isso. Comecei cedo, com a supervisão da minha mãe, o que foi muito bom para mim. Toquei muito na rua. Isso me deu muita bagagem. Não tem coisa melhor que tocar em bar no Brasil. O cancioneiro no Brasil é infinito. É uma faculdade de repertório.

Conheço amigos que tocaram a vida toda em bar. Eu me sinto muito honrada de ter feito parte desse entretenimento tão popular.

Agora você também vive intensamente uma nova fase na vida, a maternidade, com a pequena Alice. Como tudo isso surgiu? São três mães cuidando da pequenininha?

Maria Gadú – Eu vou ser muito sincera. Sempre foi na minha família essa questão matriarcal. Mulheres sempre cuidando de mulheres. Agora mais um ciclo, mais uma geração assim. Essa força, essa maternagem veio com a minha avó, ela quem me criou. Agora a Alice vai ter muitos braços para ser acolhida, muitos amores. Minha vó, quem cuidou de mim, passou esse amor da forma mais generosa possível. Agora estamos exercendo isso.

A Alice vai ser a primeira da família, a primeira geração que nasceu podendo ter acesso as coisas. Mesmo as mais básicas, de perspectiva, de estudos, de viagens. É um momento muito importante, de diáspora da família e que de alguma forma é parte do nosso coração. Ela vai poder ter acesso a pessoas, a lugares, direitos.

A Alice é uma menina negra. E vamos mostrar pra ela que isso é uma coisa importante. Ela tem madrinhas e padrinhos e vai ter muita consciência sobre o que ela é, para dar andamento a tudo isso daqui pra frente.

Não tem como falar de ativismo, de defesa de causas sociais, e não lembrar da força que você exerce em tudo isso: no meio artístico, na mídia, na sociedade. Dia 29 de Agosto é o Dia da Visibilidade Lésbica. Eu imagino que você tenha sofrido um pouco de hostilidade das pessoas no começo da sua carreira, preconceito, por ser lésbica. Isso mudou? Como você lidou com isso e como tem lidado ultimamente?

Maria Gadú – Eu acho que o maior preconceito é a falta de representatividade e de espaço para essas mulheres. Eu sou de uma geração em que Cássia Eller, Ana Carolina e Zélia Duncan eram as três pessoas que representavam as lésbicas num país continental. Eu cheguei em lugares rodeados por postos masculinos, da presidência da gravadora a musicistas que tocavam comigo. A luta caminha para uma diversidade maior.

Mesmo não restritamente, no mundo queer como um todo, Pabllo, Glória Groove e tantas outras pessoas estão fazendo seu trabalho de forma popular. É bonito de ver que o cenário mudou. As pessoas estão se sentindo mais a vontade. Não tem como não falar que não mudou, mas também não tem como dizer que não há o que melhorar. Ainda somos um país de homofóbicos, transfóbicos.

Eu sou um rosto lésbico na tela da TV das pessoas. Estar nos lugares e também ter essa popularidade, nos programas de TV, já é uma grande forma de ativismo. Se eu vi a Cássia Eller, do jeito dela, com toda aquela estética corporal – aquilo mexeu comigo, Eu fui impactada com a presença dela – então eu acho que eu sou importante também, inevitavelmente.

Serviço

Maria Gadú em show “Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor”
Local: Teatro Positivo, em Curitiba
Data: 19 de agosto, sábado
Horário: a partir das 21 horas
Ingressos estão à venda no Disk Ingressos

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