DOE VIDA

Mais de mil pessoas aguardam pela doação de órgãos no Paraná. Ainda é possível zerar essa fila!

A recusa das famílias de pessoas que acabaram de falecer ainda é a maior causa das não doações de órgãos no Brasil. Por causa deste preconceito ou falta de informação, as filas de pessoas aguardando um órgão compatível nunca é zerada. No Paraná, entraram 1.688 pessoas na lista entre janeiro e agosto deste ano. Destas, 143 morreram na espera. Nem todas as pessoas que falecem são aptas para doação. Mas se todas as famílias de pessoas aptas concordassem, seria possível colocar essa fila perto de zero, já que um só doador pode ajudar até dez pessoas com órgãos e tecidos. Hoje, dia 27 de setembro, é comemorado o Dia Nacional da Doação de Órgãos.

Quem tomou esta decisão, sem pensar duas vezes, foi a dona de casa Rosemari do Rocio Coradin, 55 anos. Seu esposo, Juarez Soares da Silva, morreu no último dia 31 de janeiro, com 55 anos de idade. “Nós temos uma filha especial e minha vida foi sempre voltada a me doar para ela e a ajudar outras pessoas. Não seria diferente naquele momento. E estamos felizes porque ele está vivo no corpo de outras pessoas, que provavelmente estão aí vivas e fortes”, analisa Rosemari. “Ao invés de ficarmos sofrendo a perda, preferimos celebrar a vida”, analisa a dona de casa. Juarez era um homem saudável e doou rim, córnea, tecido interno, fígado e parte das válvulas do coração.

Foto: Arquivo pessoal.
“Meu marido está vivo no corpo de outras pessoas”, diz Rosemari. Foto: Arquivo pessoal.

O auxiliar administrativo Nilton Francisco Rodrigues, 63, autorizou a doação dos órgãos do irmão José Pedro Rodrigues, que morreu aos 53 anos no dia 10 de maio deste ano. “A gente tem que sempre manter a esperança viva. Se tem possibilidade de ajudar alguém, devemos ajudar. É uma felicidade enorme, tenho a consciência bem sossegada porque contribuímos para que alguém viva”, diz. De José Pedro os médicos conseguiram tirar duas válvulas do coração, rim, ossos dos dois braços e pernas e as córneas.

O vigia Vanderlei Ramos da Silva, 48, doou os órgãos da esposa, a chefe de cozinha Ivone Castorina Kovalski, 43. Após a mulher falecer no hospital e uma equipe médica e a assistente social informarem que ela era uma potencial doadora, a família conversou e não teve dúvidas de que estaria salvando vidas. “Espero que mais gente faça isso, pois tem muita gente na fila esperando. E é sempre bom conversar em vida. Autorizamos as doações sem saber se ela queria ou não, porque nunca conversamos sobre isso. É um erro das famílias. Tem que sentar e conversar, mesmo que a pessoa esteja bem de saúde, pois às vezes as coisas acontecem de repente”, alerta.

Vivos também podem doar

Pessoas que possuem a morte cerebral constatada podem ser potenciais doadores de órgãos. O corpo é mantido ativo com a ajuda de aparelhos, enquanto os órgãos são retirados. Isso é feito porque a morte cerebral é irreversível, ou seja, o cérebro não volta mais à ativa e, em consequência disto, o restante do corpo morre também. Não há possibilidade do paciente “viver” de volta. Em alguns casos, pessoas com morte cerebral, junto com parada cardiorrespiratória, também podem ser doadores, mas não de todos os órgãos. Apenas de alguns tecidos, como pele e córneas, por exemplo.

Mas não são só pessoas com morte cerebral que podem doar órgãos. Pessoas vivas, ativas e saudáveis também podem doar, por exemplo, um de seus rins (já que possuem o outro para continuar o trabalho de filtragem), medula óssea, fígado e pulmão. Ao contrário das pessoas em óbito, estes dois últimos órgãos, na pessoa viva, não podem ser retirados por inteiro, apenas um pedaço, que já é suficiente para curar ou dar melhor qualidade de vida a outras pessoas. Também é possível transplantar coração, pâncreas, ossos, válvulas cardíacas, cartilagem e sangue de cordão umbilical.

Para ser um doador, a atitude mais importante é informar aos familiares o seu desejo. Não precisa deixar escrito, nem elaborar nenhum documento. Basta apenas falar à família. O corpo do doador não fica deformado pois, conforme a legislação (lei 9.434/1997), os médicos são obrigados a reconstituí-lo, para que o paciente possa ser sepultado normalmente, sem nenhum procedimento especial.

Depois que a família opta pela doação, a Central de Transplantes faz diversos testes para verificar compatibilidades entre o doador e potenciais receptores. Equipes são mobilizadas para fazer a retirada, o transporte e o transplante. As famílias não têm custo nenhum e não são remuneradas por isto. Fica apenas a sensação de fazer o bem ao próximo e ter salvo uma vida.