Jovens crivados de balas

Obcecado por vingar a traição de um colega de cadeia, que flertou com sua namorada, o indivíduo conhecido por "Ciganinho" matou a tiros os jovens Jewerly Cardoso Prestes e Everton Eloir da Luz, ambos de 16 anos. O duplo homicídio aconteceu às 20h de quinta-feira. Everton estava na casa de Jewerly, na Rua Suíça, 96, bairro das Nações, em Fazenda Rio Grande, quando uma Parati, cor prata, parou em frente à residência e um dos cinco ocupantes chamou pelos rapazes. Ao atender ao chamado, Jewerly e Everton foram crivados de balas. Aproximadamente 30 tiros foram ouvidos por vizinhos e diversas cápsulas de pistola ponto 40 foram encontradas no portão e ao redor dos corpos. A perita Maria do Rocio, do Instituto de Criminalística, contou mais de três tiros nas costas de cada um dos jovens, além de vários outros pelo corpo.

Jackson, irmão de Jewerly, contou que os garotos foram mortos sem ter culpa da confusão entre "Ciganinho" – identificado pela polícia como Adriano Ferreira Barreto – e "Mike" (irmão de Everson). Os dois se conheceram na carceragem do 10.º Distrito Policial (Sítio Cercado), em Curitiba. "Mike" teria saído antes da cadeia e, em liberdade, flertou com Alessandra, namorada de "Ciganinho". Mesmo tendo reatado o namoro, e sua namorada ter ficado grávida – o bebê nasceu há poucos dias – o jovem traído continuou com sede de vingança, e desde então vem tentando matar "Mike".

Este ódio, porém, já fez pelo menos quatro vítimas, que nada tinham a ver com a traição. Além de Jewerly e Everton, a primeira vítima teria sido Edson Luiz da Luz, 38, morto em um bar naquele mesmo bairro, há 20 dias, quando "Ciganinho" entrou e atirou contra os freqüentadores, achando que "Mike" estava lá. Edson morreu no local, e o dono do bar, João Gomes Rodrigues, 56, morreu mais tarde, no hospital. Outras duas pessoas foram baleadas. Edson – morto no bar – também é irmão de Everton – assassinado anteontem na casa de seu amigo. "Meus filhos morreram de graça", lamentou José da Luz, pai dos dois rapazes.

Explicação

O fato de Jewerly e Everton terem contato com "Mike" foi suficiente para que "Ciganinho" invadisse o terreno da casa e atirasse contra eles. Há pelo menos duas semanas, o acusado, que é morador do Xapinhal, em Curitiba, vinha sendo visto pelo bairro das Nações, em Fazenda Rio Grande, dando tiros e pesquisando onde poderia encontrar o ex-colega de cela, que é morador há duas quadras de onde ocorreu o duplo homicídio. A delegacia local já iniciou diligências para prender não somente "Ciganinho", mas também "Mike", que é foragido da Justiça de Santa Catarina. De acordo com o delegado Antônio Rocha, "Ciganinho" é foragido da delegacia de Fazenda Rio Grande há cinco meses.

Seqüestrado acompanhou criminosos

O carro – Parati prata – usado pelos assassinos em Fazenda Rio Grande havia sido tomado em assalto em Curitiba e o proprietário levado como refém no porta-malas. O fato foi comunicado ontem, à Delegacia de Furtos e Roubos. Um mecânico de manutenção, de 39 anos (seu nome foi mantido em sigilo) revelou à polícia que foi seqüestrado pela quadrilha, por volta das 18h30 de quinta-feira, no Alto Boqueirão. Colocado no porta-malas, ele permaneceu cerca de três horas com a quadrilha e acompanhou a movimentação dos assassinos, até ser abandonado.

Primeiro, os assaltantes – que a princípio estavam em três – levaram o carro até uma casa e retiraram o som e o estepe. Antes de partirem, mais dois indivíduos entraram no carro. O grupo rumou para Fazenda Rio Grande e por lá rodou à procura de "Mike". Como não o encontrou, pegou um outro rapaz que era chamado de "Cachorrão". Esse indivíduo deu o endereço onde supostamente estaria "Mike".

Tiros

Os assassinos partiram para o local e ali o seqüestrado relatou ter ouvido no mínimo 15 disparos. Os tiros vitimaram Jewerly Cardoso Prestes e Everton Eloir da Luz. Ainda de acordo com a vítima, um jovem desconhecido recebeu um tiro na mão antes de os marginais partirem em direção ao Bairro Novo. Lá o carro foi guardado em uma garagem e teve as rodas de liga leve retiradas e trocadas por um jogo de rodas de ferro.

Os bandidos saíram novamente e rodaram até terminar a gasolina, abandonando o carro e a vítima.

Caçada implacável

Segundo informações dadas ao superintendente Inaldo Silvério, da delegacia local, Adriano Ferreira Barreto, 24 anos, o "Ciganinho" é foragido da cadeia de Fazenda Rio Grande, onde esteve preso em junho de 2005, por torturar uma pessoa em troca de informações. Nessa época, já buscava dados sobre o paradeiro de "Mike". Adriano fugiu da cadeia em 23 de outubro último, quando três homens armados renderam o plantonista e o fizeram abrir a carceragem para arrebatar o preso Eduardo Luiz Pereira. Com as celas abertas, 31 homens aproveitaram e fugiram. Dez bandidos, entre eles Adriano, ainda permanecem foragidos.

O acusado foi preso pela primeira vez em 2002, por roubo e homicídio. Ficou recolhido na delegacia do Sítio Cercado, ocasião em que conheceu "Mike". Após ser levado para a Colônia Penal Agrícola, em Piraquara, escapou e tornou a ser preso em Fazenda Rio Grande, em 2005, de onde novamente fugiu.

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