Insegurança marca transporte coletivo

Seis horas de serviço diário, uma média salarial de R$ 540,00 mensais e muita preocupação com a falta de segurança. Esse é o resumo da vida profissional dos cobradores de ônibus de Curitiba e Região Metropolitana. Embora haja muito esforço por parte das autoridades competentes, a quantidade de assaltos a ônibus e estações-tubo na capital é grande.

A empresa de transporte mais roubada é a Auto Viação Curitiba. Segundo dados do Sindicato dos Motoristas e Cobradores nas Empresas de Transportes de Passageiros de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc), somente até junho, a empresa teve 296 assaltos em suas dezenove linhas. Conforme o gerente de tráfego da empresa, Ricardo Langa, seus ônibus são assaltados no mínimo uma vez por dia. Ele destacou que os marginais normalmente são jovens e utilizam revólveres e facas. As linhas mais atingidas são os alimentadores Gabineto e Riviera, que passam pela região da Cidade Industrial de Curitiba (CIC).

Viagem

A reportagem de O Estado acompanhou uma viagem da linha Riviera e conversou com um motorista e uma cobradora que foram assaltados onze vezes nos últimos dois anos. O motorista Hamilton Alves explicou que os marginais agem normalmente depois das 17h. Ele contou que já sabe os pontos e as pessoas que podem assaltar o ônibus, mas teme sofrer represálias e por isso não os denuncia. Na última semana, ele foi assaltado em dois dias consecutivos no mesmo lugar. O motorista contou que, numa das oportunidades, os marginais fugiram para dentro de um matagal e logo em seguida foram vistos numa lanchonete, desfrutando o resultado do roubo. “Temos medo e não temos o que fazer. Até os passageiros que pegam o ônibus diariamente sabem quem são os marginais”, confidenciou.

Sua colega de trabalho, a cobradora Maria de Fátima Souza, disse que os ladrões entram separadamente – um em cada ponto. Quando estão em quatro ou cinco, dão voz de assalto e levam o dinheiro. O descaramento é tão grande que eles chegam a esperar pela liberação do dinheiro do cofre do ônibus, que por seu sistema de segurança, para ser aberto precisa de um período de vinte minutos. “Tenho medo de trabalhar, mas não tem outra solução. Se sair daqui fico desempregada”, lastimou a cobradora. Tanto ela, quanto o motorista, acreditam que a colocação de policiais à paisana nos ônibus resolveria o problema.

Resta esperar

Na estação-tubo Barigüi, próxima ao Carrefour Champagnat, assaltos são costumeiros. O cobrador Odair José de Oliveira é categórico em afirmar que a estação-tubo é assaltada todos os dias. Naquela região há uma peculiaridade: os cobradores que são moradores do local não são assaltados, “apenas” têm que dar passagem livre aos marginais. “Moro aqui na vila e ninguém me assalta. Já os folguistas são todos roubados, inclusive mais de uma vez por dia”, confidenciou Oliveira.

José Antônio Moreira, cobrador da estação-tubo em frente, contou que estava em seu primeiro dia no local e já havia sido avisado sobre os assaltos. “Só estou esperando. Já me avisaram, mas não tenho o que fazer. O que me resta é não reagir e preservar minha vida”, conformou-se o cobrador, que já se via como possível vítima dos marginais.

Confissão

Dois policiais militares que fazem a ronda na canaleta do ônibus contaram que há policiamento diário no local, entretanto isso não adianta. “Ficamos rodando com a viatura. Mas quando saímos de um tubo, os bandidos atacam e se escondem na favela aqui próxima. Como o pessoal lá é muito unido, normalmente, não há como fazer nada”, revelou um dos PMs que não quis se identificar.

Polícia aponta redução dos assaltos

Apesar das reclamações de motoristas e cobradores, os dados do Comado do Policiamento da Capital (CPC) apontam para uma queda no número de assaltos a ônibus e estações-tubo. Em Curitiba, no mês de abril, foram 156 roubos em ônibus, enquanto que em junho esse número caiu para 119.

O bairro com maior incidência é a Cidade Industrial de Curitiba com 115 roubos de janeiro a junho. Na Região Metropolitana, a cidade mais atingida é Almirante Tamandaré. Porém, contabilizando todos os municípios da RMC, de abril a junho, os assaltos caíram de 66 para 49.

A Polícia Militar (PM) realiza diariamente operações de bloqueios e revistas nos ônibus. Nos próximos dias, até detectores de metais deverão ser usados nessas operações.

O major Jack Holmer, oficial de Operações do CPC, explicou que os dados contêm apenas as informações dos casos registrados pela PM. Quanto às situações, onde motoristas e cobradores têm medo de entregar os marginais, Holmer afirmou que é necessário se exercer um pouco mais a cidadania. “As pessoas têm que ter coragem e denunciar. Caso contrário, não podemos fazer nada”, ressaltou, afirmando que a garantia de impunidade é que leva os ladrões a agirem cada vez mais à vontade. (LM)

Secretário salienta melhoras

O secretário municipal da Defesa Social de Curitiba Sanderson Diotalevi afirmou que, embora haja muito para ser feito, a proteção nos ônibus e estações-tubo da capital é boa. Ele salientou que existe um grande trabalho em relação à segurança, pois em Curitiba e região há 21 terminais de ônibus, 353 estações-tubo, 469 linhas de ônibus e 2.625 ônibus. Toda essa estrutura é responsável pelo transporte de quase dois milhões de passageiros diários.

Para Diotalevi, o trabalho integrado entre as polícias Militar e Civil, Urbs, Sindimoc, Guarda Municipal e a secretaria vem dando resultado desde 2001, quando foi implantado. Ele citou como exemplo a redução de roubos em estações-tubo, que caiu de 175 mensais em 2000, para cerca de cem no ano passado. “Estamos também aumentando o trabalho de fiscalização nos cinco grandes eixos do transporte coletivo (Boqueirão, Norte, Sul, Leste e Oeste)”, disse.

A implantação do sistema de cartões magnéticos é apontada como uma das soluções para o problema. O presidente do Sindimoc, Denílson Pires, é um dos partidários dessa idéia. “O vale-transporte já é usado como moeda de troca em vários locais, por isso chama atenção dos ladrões. Já os cartões irão diminuir a quantidade de dinheiro circulando nos ônibus”, hipotetizou Pires. (LM)

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