Ziriguidum, skindô & cia

Entrei em uma padaria e o dono disse: o sonho acabou! Não há mais sonhos, nem brioches e daqui a pouco não haverá pão. Mas em Brasília pareceres custam US$ 100 mil e um clima de suspeita paira sobre ministros do STJ. Estranho cobrar em dólar se a moeda brasileira é real. Até os malfeitores não acreditam nos símbolos nacionais. A venda de pareceres, se confirmada, é o fim da linha, algo para refletir sobre a podridão em nossa democracia. Nossa democracia, de longa data, tem algo errado. Algo podre.

Não que o bonapartismo seja o caminho. Mas que há algo podre, de longa data, há. Como explicar que o clã Sarney, do Maranhão, que nos últimos quarenta anos se dedicou a causa pública, tem uma fortuna incalculável? E que o senador ACM, da Bahia, conseguiu ficar tão rico se não fez outra coisa a não ser política? E, lá em Minas Gerais, a fortuna de um empresário chamado Newton Cardoso cresceu na proporção em que ocupou cargos públicos? E o Jader Barbalho, do Pará? Há algo errado.

Ou então é de se presumir que o povo brasileiro é estúpido, pois trabalha, quando tem emprego, claro (se não tem, como vai trabalhar?), e mal paga as contas. E os senhores acima, patriotas, dedicam a maior parte de suas vidas à causa pública e arranjam tempo para ficar milionários. E não se acham indecentes. Talvez a maior parte das pessoas não entendem que esta é uma das vantagens no Brasil: se o sujeito é um iluminado, inteligente, ele vai para frente. Para frente dos cofres públicos.

Não é problema de casta. Mas de decadência administrativa. Como mostram os fiscais do Rio de Janeiro. E só foram descobertos porque a justiça da Suíça fez auditoria em uma empresa com filial no Brasil ao perceber um rombo de US$ 2 milhões no caixa. Pressionaram o diretor e ele contou: propina. Depois falam que Lula e a inflação espantam investimento estrangeiro. Quem espanta é a corrupção. O famoso CC. Custo Corrupção. E o CC cheira mal. O dinheiro que vai para o bolso desta escumalha seria suficiente para em dez anos, com trabalho e decência, fazer um grande país. É um chute, mas poderiam tentar.

As autoridades dizem que os bandidos são os donos do Rio. Mas os bandidos são donos do Rio. A sutileza é que os bandidos do morro brigam com os bandidos dos palácios e com os bandidos na polícia. Uns usam revólveres; outros, talão de multas. E vem um ministro, Walfrido Mares Guia, e diz algo cômico: o crime no Rio prejudica o turismo. O crime no Rio deixa a população em pânico, o estado podre, transformado em um monturo de lixo em volta do qual mulheres quase nuas e homens fantasiados de cisnes azuis bailam histéricos no mês de fevereiro ou março. Gostaria de saber que diabo, exatamente, esta gente celebra?

É não só em Brasília ou no Rio. Ou nos vice-reinados do Nordeste. Seria ingenuidade achar que o mar de lama não fede no Paraná. O caso que apareceu na Copel é um. E também fede no interior. Vide o sólido esquema do Paolicchi em Maringá, fede até hoje; e o de Londrina, que espirrou caca para todo lado. Os ratos não abandonam o navio, tomam conta dele e estão no esporte, na polícia, seduzem o baixo escalão do exército e o alto do judiciário. E, então, como no Espírito Santo, a sociedade organizada apodrece. Para o povo, ziriguidum!

Edilson Pereira

(edilsonpereira@pron.com.br) é editor em O Estado.

Voltar ao topo