Uma em cada duas mortes ocorre até uma semana após o parto

Rio – Uma em cada duas mortes de crianças no primeiro ano de vida registradas pelos cartórios no ano passado, em todo o País, aconteceu até uma semana após o parto. O índice cai para 16,2% no número de óbitos ocorridos antes que se completasse o primeiro mês de vida. Para 60 mil crianças, 65,3% das que não completaram o primeiro aniversário, a vida terminou até o 27º dia, segundo as estatísticas divulgadas hoje pelo IBGE. "Os números revelam uma realidade trágica, mas que certamente é pior ainda, diante do grande número de mortes neonatais que não passaram pelos cartórios", ressalta o documento do IBGE.

A proporção se mantém praticamente inalterada em todas as regiões do País, mas sofre ligeiras mudanças nas capitais. No Amapá e no Piauí, o índice de óbitos infantis na primeira semana ultrapassa os 60%. Em Alagoas, um dos Estados com pior desempenho na taxa de mortalidade infantil (números de mortes para cada 1.000 crianças nascidas vivas) o número cai para 35,1% entre as que morrem na primeira semana após o parto, mas os pesquisadores atribuem este fato a um maior número de notificações que deixaram de ser feitas aos cartórios. Em São Paulo, um dos Estados com menor taxa de subnotificação, a proporção de óbitos neonatais precoces (até o sétimo dia) é de 49,1%, semelhante à média nacional.

Cláudio Crespo, responsável pela análise dos dados obtidos junto aos cartórios civis, vê nesses números uma tendência de que a maioria das mortes infantis cada vez mais ficarão próximas ao nascimento. Ele considera esta situação "positiva e mais semelhante ao que ocorre nos países desenvolvidos", mas adverte que o governo terá de desenvolver políticas para lidar com essa mudança. Ele lembrou que dados revelam que as mortes provocadas por desnutrição e péssimas condições sanitárias se aproximam, proporcionalmente, das mortes provocadas por complicações nos partos ou causas endógenas, o que obrigará o governo a adotar mais políticas de apoio aos recém-nascidos. "E não basta criar unidades neonatais", diz ele. "É preciso entender o problema e capacitar profissionais para enfrentar uma nova realidade".

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