Senadores debatem críticas de FHC à política econômica do governo Lula

As críticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à política econômica do governo geraram um debate no plenário do Senado entre os líderes do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), e do PSDB, Arthur Virgílio (PSDB-AM), e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). O primeiro a subir à tribuna do Senado foi Mercadante, dizendo-se incomodado com as declarações de Fernando Henrique publicadas na revista "Agenda 45", do PSDB, que será lançada amanhã (18), na 8.ª Convenção Nacional do partido.

O líder do governo no Senado acusou o ex-presidente de adotar uma postura "sectária", que não contribui para o diálogo entre oposição e situação. Segundo Mercadante, FHC deveria incorporar o espírito do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, empenhado em abrir o "diálogo" com a oposição. "Eu espero que a gente retome o debate no clima de ontem (16)", referindo-se à sessão da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) realizada para ouvir Palocci.

De acordo com o líder do governo, o ex-presidente comete vários equívocos, entre eles, o de afirmar que o superávit primário da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é para impressionar o mercado financeiro. "O superávit é para diminuir o ritmo de endividamento. Nós estamos reduzindo o endividamento do Estado brasileiro. Precisamos disso para reduzir as taxas de juros", declarou.

Mercadante também considerou equivocada a afirmação de que a administração Lula deixou o déficit da Previdência Social explodir. "Isso não é verdade. Tanto não é que, no Congresso, o PSDB ajudou o governo a aprovar a reforma tributária para reduzir o déficit previdenciário", disse.

Para defender FHC, Virgílio subiu à tribuna, afirmando que ele tem o "direito e o dever" de fazer as críticas à política econômica. Para o líder do PSDB no Senado, o Poder Executivo perdeu o "timing" para reduzir as taxas de juros no patamar adequado de levar o País a crescer. "Estamos crescendo menos do que poderia. Deveríamos ter aproveitado a fase virtuosa da economia mundial", afirmou. Virgílio afirmou não acreditar nos números apresentados pelo Executivo, entre eles, o de que o País fechará o ano crescendo 3,5%. "O mercado diz que o País vai crescer até 3%", disse.

Apesar das críticas ao Palácio do Planalto, o líder do PSDB justificou a preocupação com uma eventual demissão do ministro da Fazenda. "Uma eventual demissão do ministro Palocci pode levar o governo a escolher alguém da mesma linha, mas sem a mesma força no PT ou alguém que gere desconfiança no mercado. Por isso, é preciso seriedade para lidar com esse affair Palocci", disse, ao justificar a posição assumida por integrantes do PSDB de não cobrar a saída dele.

Virgílio avalia que é correta a manutenção do atual superávit primário, mas desde que o Planalto assuma uma postura austera no que diz respeito aos gastos públicos. Jereissati disse que as críticas do ex-presidente à política econômica são as mesmas que sempre fizeram parte dos discursos de Mercadante e do PT. "Eu estou desconfiado de que Fernando Henrique plagiou Mercadante", brincou.

Segundo ele, o líder compartilha da opinião de FHC de que a gestão Lula está numa armadilha por causa da relação entre taxa de câmbio, dívida interna elevada, taxas de juros altas e controle da inflação. "É uma opinião que ouvi durante anos de Mercadante", afirmou, num aparte ao discurso de Virgílio.

Para Jereissati, FHC adotou no governo uma política econômica "ortodoxa" por causa das dificuldades conjunturais. Mas, segundo ele, estava mais do que na hora de Lula ousar e aproveitar a boa fase do mercado mundial para mudar os parâmetros da economia.

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