Caso Daniel

“Falam que sou vagabunda, que vivia em festa. A realidade não é essa”. Confira na íntegra a entrevista com Allana Brittes sobre o caso Daniel

Foto: Reprodução.

Em entrevista ao jornalista Roberto Cabrini, do SBT, Allana Brittes, acusada de coação, fraude processual e corrupção de menores, no caso da morte do jogador Daniel Freitas, abriu o jogo e deu sua versão aos fatos. O caso Daniel ganhou repercussão pela forma em que o jogador foi assassinado, em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba.

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Ela falou a respeito da relação com os pais e também como conheceu o ex-jogador. Confira, na íntegra, o que a filha de Edson Brittes, assassino confesso do jogador, contou.

“Minha vida é minha família, mas hoje estou sem ele. Ele não foi a única vitima. Minha mãe estava dormindo, no quarto dela. Se uma mulher não tiver paz na própria cama, na própria casa, não sei onde vai ter.  Quem matou foi meu pai. Mas quem procurou foi o Daniel. A partir do momento que ele entrou naquele quarto, não pensou nas consequências. Era uma mulher casada, embriagada e de família. Pensou que, por ser jogador, ter dinheiro,  (Daniel) podia fazer tudo. Mas não é bem assim. Eu não menti, só não podia falar pra não prejudicar meu pai. Depois que eles chegaram, meu pai entrou, me abraçou e me disse ‘me perdoa’ e começou a chorar. Tentei entender o porque do perdão. Ele disse que só queria proteger a minha mãe. Eu procuro não pensar, sempre vou ver como meu pai, que eu fez tudo por mim por 18 anos. Sempre será meu pai, sempre estarei do lado dele. Vejo como pai, só isso. Não condeno o que ele fez, pois sei que ele não procurou isso. O Daniel procurou isso, ele foi lá sem ser convidado, entrou no quarto sem ser convidado. Todos julgam, mas ninguém se colocou no lugar dele. E se fosse sua mulher, outro homem em cima dela, qual seria a relação? Daniel não morreu de graça, não apanho de graça. Ele procurou isso.

Caso Daniel, um pesadelo que não tem fim

“Minha mãe nunca deu liberdade pro Daniel. Nunca trocou uma palavra. Sempre foi apaixonada pelo meu pai. Ela disse que nunca falou com ele, não sabia a voz dele, que nunca conversou e não entende porque ele fez isso. Pior sensação foi sair e não pode levar ela da prisão. Eu errei, mas foi para proteger meu pai. Eu era uma adolescente normal, cheia de sonhos e expectativas. Hoje é uma imagem que não existe, errada. Sou uma menina de 18 anos que só queria comemorar aniversario, mas estou num pesadelo que parece não ter fim. Eu não poderia salvar ele. O que pude, eu fiz. Tentei impedir as agressões, mas infelizmente meu pai foi tomado pela emoção, ódio, e não consegui imaginar o que ele sentiu quando viu a cena, a  mulher dele sendo abusada. Naquela momento eu queria proteger meu pai. Eu precisava protegê-lo. Eu estava em choque, abalada, abatida. Confundi as palavras e falei coisas que foram mal interpretadas. Quando entrei no quarto, vi meu pai segurando o Daniel pelo pescoço. Ele estava de cueca e camiseta. Perguntei o que estava acontecendo, ele disse que o Daniel estava na cama tentando estuprar. Menti pois estava em choque”.

Como Allana Brittes conheceu Daniel Freitas?

“Meu pai não deixava ou sair, estudava pro vestibular e depois de uma semana ele me autorizou. Dai conheci o Daniel e pedi permissão, pois tínhamos que ter uma relação de confiança. Pedia permissão, eu dependia dele. Precisava informar onde eu estava e como que eu estava. Tinha relação aberta, além de pai, eram amigos. Enviei o print, porque minha mãe era minha amiga, as coisas que fazia, lugares que eu ia, contava pra ela. Fui no apartamento dele para conhecê-lo, como amigo. Conversamos fumamos narguilé, nos conhecemos. Depois disso me chamou para festas, encontrei ele duas ou três vezes, sempre com amigos, todas as festas levava amigas. Nunca ficamos, não queria me envolver. Ele entendeu, ficou com amigas minhas e criamos uma amizade. Nos encontramos 3 ou 4 vezes. Gostava da pessoa dele. Era um cara normal, convidei porque era meu amigo. Era uma festa para 60 pessoas. Ele estava na lista, pois considerava um amigo. Tinha vários amigos, quando convidei, talvez ele não viesse, pois a família queria que ele fosse ver a filha dele. Ele chegou a dizer que era difícil de ir, pois tinha outras festas. Minha mãe não conhecia ele, por isso ficou o tempo todo com as minhas amigas na festa. Ela conhecia todas, que iam desde pequena  na nossa casa. Ela (Cristiana Brittes) estava bêbada, estava feliz, era meu aniversário. Ela vibrou comigo, não aconteceu de ficar com alguém, de ter beijado alguém.”

Foto: Reprodução.
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O que aconteceu na casa dos Brittes, depois da festa?

“Eu estava indo dormir e meu pai já tinha colocando minha mãe pra dormir. Meia hora depois, o mineiro ligou e disse que estava ali na frente. Eu estava cansada, fiquei com raiva com a inconveniência dele, mas meu pai falou pra abrir, para que eu não fosse ruim. Chegaram o Daniel, Mineiro, Carol e a Evelyn. Todos ali estavam bêbados. Tínhamos acabado de sair de uma balada, com bebidas e festa. Meu pai era receptivo, fazia questão de servir as pessoas. Deu bebida pra todo mundo, fez questão de tratar todos bem. Por mim eles nem teriam entrado, não tinha programado nada. O Daniel me pergunta do banheiro, levei ele até a porta. Ninguém nunca ia pra dentro de casa quando tinha festa. Ele foi, voltou e sentou. A Evelyn estava se afastando dele, apesar de terem se beijado na Shed. Ela achou ele invasivo, ele disse que acharia um quarto para ela e Evelyn disse que tinha nojo dele, que não queria ficar perto. Depois disso, fomos (Allana e Evelyn) tomar banho e fomos pro meu quarto dormir”.

Briga e confusão no caso Daniel

“Quando chegamos, meu pai fez um ovo pra minha mãe e colocou ela pra dormir. Estava bêbada e cansada. Deitei na cama e estava brava por causa da inconveniência dele. Depois de 10 minutos, Igor subiu e pediu ajuda, que um amigo meu estava tentando abusar da minha mãe. Estava tendo briga, confusão. Não entendi e sai correndo. Fiquei assustada e pensando no que estava acontecendo. Desci a escada e encontrei minha mãe, pedindo ajuda. “Ajuda, eles estão brigando”. Separa, chorando, pedindo ajuda. Cheguei no quarto e vi meu pai segurando ele pelo pescoço, em cima da cama dele. Daniel de cueca e camiseta. Perguntei o que estava acontecendo, não vi ele em cima da minha mãe.  Meu pai, o Eduardo Ribeiro, o Eduardo Purkot, um dos que mais bateu, saiu com a camisa com sangue. Naquele momento, todos foram tomados pela emoção. Um homem deitado na cama de uma mulher casada minutos antes, meu pai sempre cuidou dela. Ele foi ver ela, eu fui ver ela, e estava embriagada e dormindo.  Ele estava machucado. Meu celular não estava comigo, nem o de minha mãe. Não tinha como fazer nada. Queríamos que parassem com as agressões. Em certo momento eles pararam. Fui ate lá fora pedir para parar. O Daniel estava no chão e Purkot deu um chute nele. O David disse para parar. O Igor disse para, chega.  O Eduardo continuou. Dai o David pegou ele pelo pescoço. Meu pai estava em choque, mandaram eu entrar e não me deixaram sair. Ele falou pra eu ficar lá dentro e não sair. Foi tudo muito rápido. Logo depois disso, saíram com o carro. Foi tudo muito rápido. Nunca imaginei que ele pudesse morrer. Para mim seriam agressões e pronto. Eu só vi quando eles saíram. Meu pai, Igor, David, Eduardo Ribeiro e o Purkot queriam ir junto, mas não tinha lugar. O irmão dele não deixou ele ir. Nunca tive essa conversa com meu pai. Prefiro não pensar (sobre cortar o órgão sexual). Só vejo ele como pai”.

Como foi o “pós crime”?

Ele (Edson Brittes) disse que se entregaria e que livraria os meninos. Assumiria o que ele tinha feito. Eu sou um ser humano, choro, rio. Não me arrependo da reunião no shopping, pois não fiz nada.  Ela pediu que não matasse ele. Esse “aqui” não existiu. Ela pediu que não matassem ele.

Eu estava pensando no meu pai, na minha mãe. Eles também tinham sido afetados, minha mãe era uma vítima. Pensava na minha família, eles que importavam para mim. Não bati, não matei. Tentei impedir, mas não consegui. Posso ter errado, sido imatura, mas sé estava protegendo meu pai.

Estou marcada por muitas mentiras e julgamentos, por pessoas que não me conhecem. Tenho uma imagem de pessoa que não sou. Sou uma menina normal. Falam que eu sou vagabunda, que vivia em festa, que não tinha família. É bem diferente da realidade. Sempre fui família, saia, ia em festa, mas era adolescente, jovem. Sempre tive família por perto, pais sabendo tudo que eu fazia.

Advogado de Daniel

Em resposta, o advogado Nilton Ribeiro, que representa a família de Daniel e presta apoio ao Ministério Público na acusação, afirmou que a declaração de Allana são factoides. “Deixem a memoria do Daniel em paz. Parem com essas mentira e factóides. Tenham dignidade pelo menos agora. Sejam humanos. Digam a verdade e paguem pelo que fizeram”, declarou o advogado antes da audiência na Justiça nesta terça.

Daniel e Allana, no aniversário de 17 anos dela, em 2017. Foto: Reprodução
Daniel e Allana, no aniversário de 17 anos dela, em 2017. Foto: Reprodução

Quais são as acusações dos envolvidos no Caso Daniel?

– Edison Brittes: homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver, fraude processual e corrupção de menor e coação no curso do processo;

– Cristiana Brittes: homicídio qualificado por motivo torpe, coação do curso de processo, fraude processual e corrupção de menor;

– Allana Brittes: coação do curso de processo, fraude processual e corrupção de menor;

– David Willian da Silva: homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver, fraude processual, corrupção de menor e denunciação caluniosa;

– Eduardo da Silva: homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver, fraude processual e corrupção de menor;

– Ygor King: homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver, fraude processual e corrupção de menor;

– Evellyn Brisola Perusso (responde em liberdade): denunciação caluniosa, fraude processual, corrupção de menor e falso testemunho.

Fora da prisão, Allana Brittes dispara contra Daniel: ‘ele quem procurou’