Allana e Cris Brittes

Mãe e filha contam detalhes sobre a morte de Daniel em depoimentos; leia na íntegra!

Allana e Cris Brittes.
Allana e Cristiana, no dia da festa de 18 anos da jovem, que culminou com a morte de Daniel, mais tarde. Foto: Reprodução

Como é de conhecimento, Cristiana Brittes e Allana Brittes, esposa e filha de Edison Brittes, homem que confessou matar o ex-jogador de futebol Daniel Corrêa Freitas, foram ouvidas nesta segunda-feira (5) pela Polícia Civil de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Como definiu o delegado Amadeu Trevisan, os dois depoimentos não apresentaram nenhuma novidade e só confirmaram a afirmação da família, de que houve uma tentativa de estupro por parte do jogador, mas trouxeram mais detalhes sobre como todo o crime aconteceu.

A reportagem da Tribuna do Paraná teve acesso à íntegra dos dois depoimentos e, analisando-os, é possível perceber elementos que se coincidem entre o que foi dito por Cristiana e Allana. As duas alegam a versão de que o rapaz teria “se convidado” a continuar a festa na casa da família, que Daniel foi flagrado em cima de Cristiana e também dizem que tentaram impedir que Edison Brittes continuasse o agredindo.

Casada com Edison há 18 anos, Cristiana confirmou que a festa começou por volta das 23h, numa casa noturna do bairro Batel, em Curitiba, assim como Allana. A festa foi feita para aproximadamente 50 pessoas, com dois camarotes reservados. A mulher informou que não conhecia Daniel, mas que já tinha visto o rapaz num evento anterior, na festa de 17 anos de sua filha, mas que, ainda assim que nunca teria trocado nenhuma palavra com ele.

Na casa noturna, a festa se deu de forma tranquila, segundo o relato de mãe e filha. Da mesma forma que disse Allana, Cristiana afirmou que foi embora do local da festa junto com o marido, a filha, uma prima, o marido dessa prima e um rapaz, que “estava ficando” com Allana. Tanto mãe, como a filha, disseram que não tinha ficado combinado que depois da festa na casa noturna a comemoração continuaria na residência da família.

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Festa em casa

Cristiana disse que, segundo informado por Allana, o amigo Lucas “Mineiro” ligou dizendo que estavam indo para a casa continuar a festa, sendo que ninguém foi convidado para tal, tampouco Daniel. A mulher disse que se recorda de ter comido um ovo e ido dormir depois que sua filha a vestiu com um shorts de pijama, mas sem retirar a roupa que vestia enquanto estava na casa noturna. Enquanto isso, chegaram ao local o amigo Lucas “Mineiro”, Daniel e mais três meninas, que foram recepcionados por Edison, que os acompanhou na comemoração, numa área da casa que funciona como salão de festas. Cristiana disse que outros dois amigos, que seriam dois irmãos, chegaram depois e todos os que vieram após a chegada da família vieram com motoristas de aplicativos.

A esposa de Edison informou ainda que soube que seu marido teria saído para buscar bebida. Para Cristiana, este pode ter sido o horário em que Daniel entrou em seu quarto, sendo que Edison teria ido por volta das 8h em um mercado que fica a, aproximadamente, um quilômetro de distância de sua casa. Ela disse ainda que, a todo o momento, Allana e Edison iam até o quarto onde ela dormia, para ver se estava bem e lembra que, em determinado momento, sua prima – que estava hospedada em sua casa – foi até o banheiro de seu quarto e, enquanto usava o sanitário com a porta aberta, Daniel entrou e a ficou olhando, enquanto fazia suas necessidades, tendo comentado “eu sei que você tem namorado e ela é casada, só vou fazer xixi”.

Depois que a prima saiu, Daniel teria permanecido no quarto. Cristiana disse que não entendeu o porquê de o rapaz ter ido ao banheiro de dentro da sua casa, sendo que no salão de festas existia banheiro, e afirmou achar que ele já estaria “com maldade”.

Leia, ao final desta matéria, os depoimentos completos de Cristiana e Allana Brittes.

Cris e Allana Brittes.
Festa começou em uma casa noturna do Batel e continuou na residência da família. Foto: Reprodução

A tentativa de estupro

Embora estivesse dormindo, Cristiana disse lembrar que acordou com Daniel deitado sobre seu corpo e, assustada, começou a gritar. A mulher disse que Daniel estava excitado, com o pênis ereto, trajando apenas cueca e passava a mão pelo corpo dela, sendo que ele dizia “calma, é o Daniel”. Em outro momento, lembra que Daniel estava com o seu pênis para fora da cueca e o esfregava no corpo dela. Ela disse ainda que Daniel não chegou a retirar roupa dela.

Cristiana disse que, aos gritos, pediu por socorro e ajuda, sendo que o primeiro a entrar em seu quarto foi seu marido, o qual arrombou a porta para entrar no quarto e, então segurou Daniel pelo pescoço, tendo a interrogada saído pela janela do quarto, a qual tem saída para a área da frente da casa. Ao sair, Cristiana deu de cara com os dois irmãos e pediu a ajuda deles, porque Edison ficou no quarto com Daniel. Ela disse que outras pessoas entraram no quarto e que Edison começou a agredir o jogador ainda dentro do quarto. Cristiana reforçou que pedia para que os outros ajudassem Daniel e para que Edison parasse com as agressões, que foram executadas pelo marido e outros três homens.

Além de pedir que parassem de agredir Daniel, Cristiana disse que pedia para que separassem a briga e soltassem o rapaz na rua, mesmo sem roupa. Ocorre que, ao invés de ajudarem Daniel, àqueles citados o agrediram mais, sendo que ninguém tentou separar.

A mulher afirmou se lembrar apenas de ter visto Daniel já na parte de fora da casa, caído no chão, sem conseguir dizer nada. Cristiana disse que pediu a Lucas ‘Mineiro’ que ligasse para a polícia ou que fizesse algo, mas o rapaz apenas colocava a mão na cabeça dizendo que não podia fazer nada. A mulher disse não saber afirmar quem colocou Daniel dentro do carro e nem se Edison pegou ou não uma faca dentro de casa, nem sabendo se ele portava alguma faca dentro do carro, mas que ele mantinha no automóvel uma caixa de ferramentas. Ela disse não ter visto também se o marido pegou dinheiro ou não antes de sair.

Leia mais detalhes sobre o depoimento de Cristiana abaixo. 

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O assassinato

Após Daniel ser colocado dentro do porta-malas do carro de Edison, um Veloster, o homem saiu da residência acompanhado de outros três rapazes, levando a vítima ao local que ela desconhece. Cristiana disse não saber por quanto tempo os quatro ficaram fora, mas que quando voltaram nenhum deles comentou sobre o que aconteceu. A mulher comentou que, após todo o fato, sua “vida virou um inferno”, e durante a semana apenas se encontraram, num shopping, com Lucas ‘Mineiro’, com o objetivo de perguntar a ele detalhes do que ocorreu.

Cristiana disse que, nesse encontro, tanto ela quanto Allana, não disseram nada, sendo que apenas Edison disse a ‘Mineiro’ que tinha a intenção de se entregar, assumindo a autoria do crime, apresentando-se com um advogado, mas que queria detalhes do ocorrido. Cristiana comentou que estava no local apenas ela, Edison, Allana e o rapaz.
Questionada sobre a conversa com ‘Mineiro’, Cristiana negou que tenha tentado combinar qualquer história, negando o relatado por ele do “elo fechado” e disse que Edison estava disposto a se entregar e assumir a culpa do crime. ‘Mineiro’, segundo a mulher, não teria agredido Daniel.

Quando questionada sobre possíveis manchas de sangue no imóvel, Cristiana disse que o chão do quarto ficou sujo, com alguns respingos, mas não muito. “Não sabe dizer quem foi responsável por limpar tal sujeira e que nenhum outro local foi sujo por sangue”, completou em depoimento. Cristiana disse ainda que Edison, logo após voltar do local do crime, não comentou nada e, naquele momento, não disse sobre a morte de Daniel, tendo ele comentado com um dos rapazes que “Daniel não faria mais nada com mulher nenhuma”.

No domingo à noite, a prima e o namorado deixaram a casa da família e voltaram à Foz do Iguaçu, onde moram. Cristiana afirma que não ouviu Daniel dizer nada enquanto era agredido ou no momento em que era levado para o veículo. Sobre os pertences do rapaz (roupas, documentos, carteira e o celular), Cristiana não soube dizer o que foi feito, mas afirmou ter visto debaixo de sua cama.

Saiba abaixo o que disse Allana em seu depoimento.

Família alega que Edison agiu desta forma para defender a mulher, que seria vítima de uma tentativa de estupro. Foto: Reprodução
Família alega que Edison agiu desta forma para defender a mulher, que seria vítima de uma tentativa de estupro. Foto: Reprodução

O que disse Allana?

O depoimento da filha do casal confirma praticamente toda a versão da mãe e acrescenta alguns detalhes como a informação de que conhecia Daniel há cerca de um ano e cinco meses e que, com ele, tinha apenas relacionamento de amizade, sem qualquer relacionamento amoroso. Allana disse que, na casa noturna, Daniel chegou acompanhado de um amigo e que o jogador deu apenas um beijo em sua amiga e mais nada.

Na casa noturna, o rapaz não teria ficado próximo de Allana e dos outros convidados, que permaneceu mais na área VIP do que no camarote. Na balada, a festa ficou até por volta das 6h e que depois foi para a casa, onde não convidou ninguém para continuar a comemorar e que até teria dito a uma amiga que não ia ter festa em casa. Allana confirmou que Lucas “Mineiro” ligou dizendo que iria até lá e que, pouco depois da chegada do rapaz, que estava com Daniel, chegaram outras pessoas.

Contrariando o que disse a mãe, que após colocar o shorts teria ido dormir, Allana falou que ajudou a vestir um short-saia, de academia, e então voltaram para a área de festa de sua casa, onde continuaram bebendo e dançando. Ela disse que, depois que seu pai fez um ovo para que sua mãe comesse é que ela foi dormir e aí chegaram os outros amigos. Allana disse que, um tempo depois, tomou banho e foi dormir junto com uma amiga e que seu pai teria comentado de comprar mais bebida, mas não lembrava se ele tinha saído ou não.

Allana contou que, um tempo depois, ouviu gritos, de várias pessoas, e então um amigo pediu que ela descesse para ajudar e que, ao descer, Daniel estava deitado na cama de seus pais, usando camiseta e sem dizer nada. A jovem contou que seu pai segurava Daniel pelo pescoço, como se o enforcasse, e que nesse momento estavam dentro do quarto outro rapaz e o namorado de sua prima. Allana disse ter pedido ao pai que parasse de agredir o jogador, mas que Edison a mandou sair do quarto. Ela disse não ter visto a mãe dentro do quarto e que, depois, a encontrou do lado de fora da casa e Cristiana teria contado que Daniel tinha tentado estupra-la.

Allana disse que seu pai dizia a Daniel que “ele estava na cama dele, na cama que ele dorme com a mulher, mãe das filhas dele e o que ele estava pensando”, sendo que seu pai o agredia fisicamente e que os outros três, incluindo o namorado da prima, ajudaram nas agressões no quarto. Da mesma forma que a mãe e, completando, Allana disse que Lucas “Mineiro” e os dois irmãos não agrediram Daniel.

A jovem contou que viu o rapaz sendo arrastado para o lado de fora da casa e seu pai o agrediu mais um pouco. Depois, disse ter visto seu pai colocando o carro de ré próximo de Daniel e abrindo o porta-malas, mas não soube dizer quem colocou o jogador no carro. Allana disse ter visto Daniel se mexendo, não dizendo nada, todo machucado e ensanguentado. Ela confirmou o que a mãe disse, de que em nenhum momento viu seu pai apanhando alguma faca ou dinheiro antes de sair. Confirmou que Edison levava no carro uma caixa de ferramentas.

Depois que seu pai saiu de casa, acompanhado dos três homens, Lucas ‘Mineiro’ pediu um carro por aplicativo e saiu da residência acompanhado de duas amigas e dos dois irmãos. Allana disse que tentou ligar para dois dos rapazes que estavam com seu pai, mas que nenhum deles atendeu. Repetindo o que foi dito pela mãe, a jovem contou que, quando voltou para a casa, seu pai não contou nada sobre o que aconteceu. Ela disse ainda que ele não estava sujo de sangue, mas que não vestia a mesma roupa que estava quando saiu de casa. Já os três rapazes estavam “normais, com os mesmos trajes”.

Contradizendo o que falou sua mãe, de que no shopping estariam os três e apenas Lucas ‘Mineiro’, Allana contou que no encontro estavam também os dois irmãos. Ela disse que o encontro foi marcado a pedido de seu pai, mas que acompanhou toda a conversa. Allana também negou que nesse encontro houve qualquer combinação sobre o ocorrido.

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Daniel e Allana, no aniversário de 17 anos dela, no ano passado. Foto: Reprodução
Daniel e Allana, no aniversário de 17 anos dela, no ano passado. Foto: Reprodução

Família de Daniel

Allana disse que, no domingo após o crime, recebeu uma ligação de um número com DDD 31, cuja pessoa questionava sobre Daniel. Ela disse que conversou com seu pai e ele a pediu que inventasse a história de que “o rapaz estava na festa da sua casa, mas havia saído pelo portão e tomado rumo ignorado”. Allana disse que essa familiar de Daniel pediu que fosse ao Instituto Médico-Legal (IML), que ela confirmou que iria, mas que já sentia que, mesmo que seu pai não tivesse dito que o rapaz estava morto, já sabia que estava.

A jovem também comentou que, pelas atitudes de seu pai e pela forma dele agir, tinha imaginado o que aconteceu. Allana comentou ainda que, em dado momento, Edison teria dito “ele não está mais aqui”, entendendo então como se o homem tivesse matado Daniel. Ela também não soube dizer onde estão os objetos de Daniel e disse ter convidado o rapaz para sua festa de 17 anos, que o conhecia há um ano e cinco meses.

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Continuam presas

Mesmo depois de ouvidas, mãe e filha continuam presas. Segundo o delegado Amadeu Trevisan, responsável pelas investigações do crime, as duas vão responder pelo crime da mesa forma que as outras pessoas que participaram. O delegado destacou que, apesar de continuarem detidas, elas devem ser transferidas. “A princípio, devem ficar no 5º Distrito Policial, em Curitiba, onde ficam as presas da região metropolitana de Curitiba”, disse Amadeu Trevisan.

Segundo o delegado, todos os investigados devem responder por homicídio qualificado. “Porque o que sabemos é que o crime começou naquela manhã, mas houve muito tempo para que fosse evitado. Se foi de violenta emoção, seria por um sentimento do marido. E os demais que participaram? Violenta emoção não se transmite”.

As prisões, que valem em caráter temporário, até mesmo a de Edison, não devem ser prorrogadas. “Estamos preparando um inquérito para que seja utilizado no plenário do júri, ou seja, vão a júri popular. Não devo prorrogar as prisões, quero concluir o inquérito antes dos 30 dias”.

Leia os depoimentos de Cristiana e Allana Brittes na íntegra:

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