História 'inventada'

“A família está mentindo”, diz delegado após depoimento de mãe e filha sobre a morte de jogador

“A família está mentindo”. Esse é o resumo que fez, na manhã desta terça-feira (6), o delegado Amadeu Trevisan, depois de ouvir Cristiana Brittes e Allana Brittes, mãe e filha do homem que confessou ter matado o jogador de futebol Daniel Corrêa Freitas.

Trevisan é responsável pelas investigações do crime e afirmou que a família começou a entrar em contradição. “Mentiram e inventaram uma história, depois mudaram a versão e tentaram modificar toda a história, até mesmo com a coação das testemunhas”.

“Ele seria ouvido até mesmo antes da coletiva, nessa manhã, mas como o advogado não compareceu, devemos ouvi-lo nesta quarta-feira”, disse o delegado, completando já saber o que a família queria esconder. “Eles queriam contar a história de que o rapaz teria saído de casa, mas não deu certo”.

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Ainda nesta terça-feira, novas testemunhas devem ser ouvidas pelos policiais. “Testemunhas importantes, que estavam na casa, mas o depoimento dessas pessoas será sigiloso. Não vamos passar para a imprensa, vai ser encaminhado direto ao poder judiciário”, destacou.

O que mãe e filha disseram em depoimento, confirmando a história de que o crime se motivou por uma tentativa de estupro, já era esperado pela polícia. “Tudo que elas disseram nós já esperávamos, mas precisamos ter tudo documentado. O depoimento delas, para esclarecimento do caso, foi muito importante”, explicou o delegado.

Amadeu Trevisan disse que Cristiana contou alguns detalhes sobre o momento em que estava no quarto, mas essas informações não podem ser reveladas. “É a palavra dela, ficou só a palavra dela. Mas ela confirma que houve tentativa de estupro, mas uma tentativa, e disse que despertou com o Daniel na cama, mas não posso revelar detalhes. Como foi mera tentativa, não existe vestígio, não tem como se fazer um exame”.

O que mãe e filha disseram em depoimento, confirmando a história de que o crime se motivou por uma tentativa de estupro, já era esperado pela polícia. Foto: Reprodução.
O que mãe e filha disseram em depoimento, confirmando a história de que o crime se motivou por uma tentativa de estupro, já era esperado pela polícia. Foto: Reprodução.

Sobre a possível coação de testemunhas, o delegado deixou claro que isso de fato existiu. “Houve coação de testemunhas sim, no shopping. Coagiram o Lucas, conhecido como ‘Mineiro’, isso está bem esclarecido, bem evidenciado. Se reuniram os três (Edison, Allana e Cristiana) e o Lucas, pediram para que fechasse uma história só, o rapaz foi alertado e ameaçado, de que não poderia romper ‘aquele elo’, que a conversa seria aquela de que a vítima viu o portão aberto e saiu”, explicou o delegado, destacando também que, nesse encontro, não havia nenhum advogado junto.

Segundo o delegado, Daniel não era uma pessoa que seria especificamente do convívio da família, mas tinha certa relação com Allana. “Ele veio na festa de aniversário de 17 anos da Allana e agora tinha voltado. Quem mantinha o contato com ele era ela (Allana), que ainda se colocou à disposição da família dele para ajudar. Para a gente, ela disse que fez isso porque era a história que o pai dela mandou contar”.

Edison, inclusive, tentou manter a história que passou para os familiares de Daniel até o fim. “Ele dizia que eram amigos, que o rapaz tinha saído pelo portão, tentou manter essa história até o momento que a polícia não sabia quem eram os autores. Ele mudou a versão quando descobriu-se quem era o autor”, explicou Amadeu Trevisan.

Daniel, que passou pelo Coritiba no ano passado, foi morto de forma brutal. Foto: Arquivo.
Daniel foi morto de forma brutal em São José dos Pinhais, na Grande Curitiba. Foto: Arquivo.

Vítima embriagada

No momento em que teria sido flagrado ao lado de Cristiana, Daniel estava embriagado. “Esse foi o único laudo que recebemos até agora, que aponta que o rapaz estava bem embriagado, com 13,4 miligramas de álcool por litro de sangue. Isso pode ser uma qualificadora pela impossibilidade de defesa da vítima”, explicou o delegado, reforçando que ainda deve pedir o adiantamento de outros laudos.

Ainda conforme a polícia, o celular de Daniel não foi achado. “E essa é uma das perguntas que vamos fazer. O que soubemos, é que Edison teria queimado celular e roupas”, disse Amadeu Trevisan, que explicou ainda que as investigações devem acabar antes do prazo final da prisão temporária, de 30 dias. “Nesse momento, a história está encaminhando para a reconstrução do que aconteceu e até o final do inquérito vamos chegar a todas as informações desse crime”.

"Mentiram e inventaram uma história, depois mudaram a versão", disse o delegado Amadeu Trevisan, responsável pelas investigações da morte do jogador Daniel Corrêia Freitas. Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná.
“Mentiram e inventaram uma história, depois mudaram a versão”, disse o delegado Amadeu Trevisan, responsável pelas investigações da morte do jogador Daniel Corrêia Freitas. Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná.

Homicídio qualificado

Segundo o delegado, todos os investigados devem responder pelo mesmo tipo de crime: homicídio qualificado. “Porque o que sabemos é que o crime começou naquela manhã, mas houve muito tempo para que fosse evitado. Se foi de violenta emoção, seria por um sentimento do marido. E os demais que participaram? Violenta emoção não se transmite”.

As prisões, que valem em caráter temporário, até mesmo a de Edison, não devem ser prorrogadas. “Estamos preparando um inquérito para que seja utilizado no plenário do júri, ou seja, vão a júri popular. Não devo prorrogar as prisões, quero concluir o inquérito antes dos 30 dias”.

Edison Brittes deve prestar depoimento nesta quarta-feira. Foto: Reprodução.
Edison Brittes deve prestar depoimento nesta quarta-feira. Foto: Reprodução.

Para Amadeu Trevisan, além da família e de, pelo menos, outras três pessoas, nesse momento não há possibilidade de que tenha mais envolvidos. “As pessoas que se apresentaram, vieram por conta própria, não os intimei. Eu que sei o momento de se ouvir as testemunhas, não acompanho ideias de advogados, tenho meus próprios caminhos”.

Mãe e filha, que já foram ouvidas, não devem mais ficar detidas na Delegacia de São José dos Pinhais, onde estão numa sala improvisada já que a carceragem não tem espaço para mulheres. “Vamos verificar se não vamos precisar mais de algum tipo de depoimento delas e, caso negativo, as duas devem ser transferidas. A princípio, devem ficar no 5º Distrito Policial, em Curitiba, onde ficam as presas”.

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