Segurança ao colono

Se as coisas estão bem para Palocci, o ministro “coração grande” da Fazenda, está tudo bem para o presidente Lula. Se tudo vai bem para Palocci e para Lula, está tudo bem para todo mundo. Nem precisa ler jornal.

A sabedoria é do presidente Lula, que acha que nós estamos vivendo um momento muito bom. Tão bom que ele ligou o próprio desconfiômetro, tomando “todo o cuidado para não permitir que a gente venda euforia exagerada”. Mas, confessa, não dá para esconder: “A verdade é que a situação está indo bem”. Onde? No Planalto, é claro. Para o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, elogiar o companheiro ministro da Fazenda, Antônio Palocci, é porque algo, de fato, mudou. E se mudou para melhor, é tudo paz e amor. E alegria.

Talvez por causa da proximidade das eleições. Mas nem só. Lula, com felicidade incontida, acaba de lançar o Seguro da Agricultura Familiar que, como ele mesmo definiu, é um “passo gigantesco” que atende a uma reivindicação de trinta anos. Talvez mais. O programa deve atender, já no primeiro ano (isto é, primeira safra), a um universo de 850 mil produtores familiares de todo o Brasil, segundo estima Rossetto, dando cobertura total (em alguns casos, pelo menos) nos financiamentos agrícolas e, além disso, garantindo mais da metade da renda do produtor no caso de prejuízos causados por fenômenos climáticos ou pragas. Mesmo com a perda da safra, o agricultor terá, assim, condições de voltar a semear de novo. Atenção: se a perda for inferior a 30%, não haverá cobertura. Aí o problema continua sendo do colono, como sempre foi.

O Seguro da Agricultura Familiar prevê contribuição obrigatória de dois por cento. Estará à disposição de todos quantos usam o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf, coisa já mais antiga. Por isso, a meta é estimular o uso do Pronaf. Segundo a lógica de Lula, “se as pessoas não tomam o dinheiro, não fazem o seguro”. Não fazendo o seguro, o processo inevitavelmente falha e quebra. E aí não será por inadimplência ou por qualquer outra culpa alheia ao governo, mas “incompetência de todos nós”.

Segundo calcula o presidente da Contag – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, Manoel José da Costa, pelo menos setenta por cento dos agricultores considerados familiares não fazem uso de financiamentos agrícolas. Muitos deles temem e, por isso, evitam, qualquer envolvimento com o sistema bancário, que tudo cobra – caro – e pouco faz. Talvez por isso o governo cravou com adesão obrigatória todas as culturas consideradas zoneadas, como o milho, feijão, arroz, algodão, soja, trigo, sorgo e maçã, além da banana, caju, mamona e… até a uva do bom Baco e vinho. Quem planta batata e tomate não entra no novo seguro, mas, em compensação, pode optar por um modelo anterior, que – assim diz a propaganda – garante 70% do financiamento.

Não dá para deixar de elogiar a iniciativa do governo Lula ao estabelecer algum tipo de cobertura para quem planta na terra e teme as sempre prováveis intempéries do céu. A atividade agrícola de qualquer nível envolve muitos riscos, além daqueles decorrentes de qualquer negócio onde se compram e se vendem coisas perecíveis.

A boa notícia vem a reboque de outra, que estabelece a ressurreição do Programa Fome Zero. Claro, com o nome de Bolsa-Família. Lula irá aos Estados Unidos em breve e lá pretende ter argumentos para dizer que as coisas, por aqui, estão indo bem. Por isso deu prazo até esta sexta-feira para que o ministro Patrus Ananias resolva as questões que, desde o começo do governo (e antes) ainda não foram resolvidas: os famosos controles na área da Educação (freqüência escolar) e da Saúde (vacinação e exames pré-natais). Que se vire Ananias ou quem no lugar dele estiver.

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