Salvo-conduto

Nesta crise, que, digamos de passagem, é ?a crise?, pois profunda e generalizada, foram cassados o deputado Roberto Jefferson, do PTB, denunciante do mensalão, e José Dirceu, que, segundo Jefferson, seria o comandante em chefe de toda a armação das maracutaias visando a garantir apoio parlamentar para o governo e financiar com caixa 2 campanhas eleitorais do próprio PT e dos que a ele se aliaram. Aí, não se sabe se se aliaram por causa do dinheiro ou receberam dinheiro porque se aliaram. Não importa. De qualquer forma, é um procedimento antiético, antidemocrático e ilegal.

A opinião pública exigiu e exige punições. Os políticos que aparecem como honestos, e talvez o sejam, também. E o próprio presidente Lula por mais de uma vez disse que os delinqüentes deveriam ser punidos, excluindo-se de seu meio e, por várias vezes, laborando para que outros fossem olhados com complacência ou afastados da fogueira das comissões de inquérito e processos.

Ficaram sob processos pouco mais de uma dúzia de parlamentares. Uma CPMI foi para a gaveta, por decurso de prazo. Outras conseguiram a prorrogação do prazo de seus trabalhos e, antes da convocação extraordinária muito bem remunerada e que prenuncia pouco ou nenhum trabalho, mais um foi julgado. Foi o deputado Romeu Queiroz (PTB-MG), denunciado por receber dinheiro do valerioduto para o caixa 2, o que confessa.

O plenário da Câmara o absolveu numa votação em que não faltou nem boca de urna.

Um precedente perigoso e que parece anunciar o fim das cassações, que ficariam nas já havidas, insuficientes e incapazes de significar uma higienização de nossa vida política e da atividade parlamentar.

Para o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), a absolvição sinaliza ?um salvo-conduto para quem cometer o crime de caixa dois. A Câmara instituiu o valerioindulto?, ironizou Alencar.

Ninguém, salvo dois deputados do PTB que estavam presentes quando anunciado o resultado absolutório, comemoraram. Os demais, poucos porque a maioria saiu de fino, ficou silenciosa como quem acaba de fazer alguma malcriação. Foi a primeira vez que um parecer do conselho de ética foi rejeitado pelo plenário da Câmara. ?Isso é triste e preocupante?, ressaltou o deputado Alencar. Foi ?uma votação simbólica, que pode indicar a tendência do plenário para as votações dos próximos casos?, vaticinou o deputado capixaba Renato Casagrande, do PSB.

Surgem as desconfianças mais estarrecedoras. Alguns deputados afirmaram que há um acordo de cavalheiros entre os partidos envolvidos no escândalo do mensalão. Por esse acordo, o PT votaria contra a cassação de deputados de outro partido e, em troca, esses partidos garantiriam a manutenção do mandato dos petistas denunciados por prática de mensalão ou caixa 2.

Aí, não se trata de acordo de cavalheiros, mas de conluio de malfeitores. Estaria sendo assada uma imensa pizza para a festa de uma verdadeira máfia política que age contra a democracia e embolsa desavergonhadamente o dinheiro do povo.

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