Rio ? Os salários pagos pelas empresas caíram 11% entre 1996 e 2003, segundo dados do Cadastro Central de Empresas 2003, divulgado hoje (19) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A estatística mostra que o salário médio mensal do trabalhador passou de R$ 590,00 em 1996 para R$ 859,00 em 2003. No entanto, descontando a inflação no período ? 63,65% pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, IPCA, que é usado pelo governo ? o salário real caiu para R$ 525,29 nesses sete anos.
O economista e professor da Universidade de Campinas (Unicamp), Márcio Pochmann, disse que a defasagem no salário nesse período foi influenciada pelas crises econômicas internacionais e nacionais. Assim, segundo ele, a baixa inflação no início do Plano Real, em 1994, não foi suficiente para manter o ganho no poder aquisitivo do trabalhador.
Pochmann também atribuiu a perda salarial à falta de uma política que estabeleça correção imediata dos salários. "O reajuste dos salários depende da capacidade de negociação das categorias com os patrões através dos sindicatos, o que penaliza o trabalhador, pois as conquistas não acompanham a inflação", argumentou.
Para ele, a chegada de empresas estrangeiras também influenciou a queda nos salários. "O ambiente desfavorável da abertura comercial fez com que as empresas nacionais ficassem expostas a ter que competir com produtos oriundos de países com melhores condições macroeconômicas, sobretudo no que diz respeito às taxas de juros, aos tributos e à própria infra-estrutura."
Nesse contexto, conforme Pochmann avaliou, as micro e pequenas empresas foram as mais prejudicadas, pois tiveram que reduzir custos para competir, e os cortes atingiram os rendimentos dos trabalhadores.
A publicação do IBGE mostra que as grandes empresas foram as que mais reduziram salários entre 1996 e 2003. Mas os melhores salários pagos em 2003 foram no setor de intermediação financeira, seguros, previdência complementar e serviços relacionados, R$ 1.438,00 ? atividades que estão diretamente ligadas ao setor financeiro e que não dependem do mercado interno.
Os salários mais baixos em 2003 foram pagos pela pesca (R$ 235,00) e alojamento e alimentação (R$ 254,00), atividades que dependem da massa de rendimentos.