Rentabilidade de exportações é a pior em 12 anos

A rentabilidade das exportações brasileiras caiu 12% em 2005, na comparação com o ano anterior, apesar do forte aumento das vendas externas no período. Segundo a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), é o pior resultado dos últimos 12 anos. Em 1993, a queda chegou a 13 98%

De acordo com o economista-chefe da Funcex, Fernando Ribeiro, a perda de rentabilidade foi provocada principalmente pela valorização do real em relação ao dólar. No ano passado, a taxa média do câmbio apresentou alta de 17%. Também contribuiu para o resultado negativo a elevação dos custos de produção e exportação, que subiram 6%, em média. O estrago só não foi maior porque os preços de exportação tiveram aumento médio de 12%

"A perda de rentabilidade afeta o desempenho exportador, embora o impacto demore um pouco para aparecer, principalmente quando o mercado mundial está muito aquecido como agora. Nesse cenário, o câmbio acaba sendo menos importante", diz Ribeiro

Mesmo assim, o economista observa que o ritmo de crescimento das vendas externas brasileiras vem desacelerando desde a virada de 2004 para 2005. Para 2006, a previsão é de que essa tendência se aprofunde ainda mais

Nos últimos três anos, o Índice de Rentabilidade das Exportações elaborado pela Funcex, já acumula queda de 26%. Muitas empresas exportadoras, principalmente as pequenas e médias, já começam a dar sinais de falta de fôlego. Em 2005, pela primeira vez desde 1997, o número de exportadoras brasileiras caiu em relação ao ano anterior

De janeiro a novembro, 897 empresas haviam deixado de vender seus produtos no exterior. A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) calcula que perto de 970 empresas foram expulsas do mercado exportador ao longo de todo o ano passado, por causa da perda de rentabilidade

"As pequenas e médias empresas exportadoras são as primeiras vítimas da taxa de câmbio desfavorável, porque seu custo financeiro é bem maior que o das grandes, que têm a seu favor, entre outros fatores, os ganhos de produtividade obtidos com aumento da escala de produção", afirma o diretor-técnico da AEB, José Augusto de Castro

A Caribea, fabricante de chapas de madeira compensada para a indústria de móveis e construção civil, é um exemplo disso. A empresa, que chegou a exportar 70% de sua produção há cerca de dois anos e meio, hoje praticamente está fora desse mercado

"Estamos tentando exportar só produtos alternativos, de medidas e processos diferentes dos padrões tradicionais, para poder escapar da concorrência dos grandes produtores, que não têm interesse em atuar nesse nicho. Apesar disso, ainda não conseguimos obter muito sucesso", diz o dono da Caribea, Guilherme Fernando Greggio

Nos últimos sete meses, a empresa demitiu 40 trabalhadores e emprega hoje 70 pessoas. Além disso, teve de negociar com fornecedores uma "concordata branca" para não ir à falência. A Caribea conseguiu parcelar o pagamento de boa parte de suas dívidas em até dez meses. "Estou nesse mercado há 25 anos e nunca tinha atrasado uma duplicata, até o fim do ano passado", diz o empresário

Grandes exportadoras também se viram obrigar a reduzir custos para tentar manter a competitividade no mercado exportador. A Jari, fabricante de celulose branca pertencente ao Grupo Orsa, por exemplo, demitiu nas últimas duas semanas 300 trabalhadores, principalmente na área de plantio, o que representou um corte de 10% no seu quadro de pessoal

"Tivemos um crescimento de 7% no custo em dólar de mão-de-obra no ano passado", argumenta Sérgio Amoroso, presidente do grupo, que não descarta a possibilidade de novas demissões. Sua expectativa é conseguir exportar este ano 330 mil toneladas de celulose. Se atingir a meta, a Jari repetirá o desempenho de 2004

Já a Andrew do Brasil, fabricante de equipamentos de infra-estrutura para telecomunicações, de capital americano, têm perdido contratos de exportações para filiais instaladas em outros países que têm câmbio mais favorável. O caso mais recente foi na Argentina. "A matriz achou mais viável trazer os produtos da China do que do Brasil", conta Paulo Dias, diretor financeiro da empresa no País

Apesar da distância, o custo do produto chinês apresentou uma vantagem competitiva de 60% em relação ao brasileiro. Além do câmbio, o executivo reclama que os encargos trabalhistas e impostos também tiram competitividade dos equipamentos brasileiro

A empresa, que detectou uma queda de 8% nas exportações de janeiro em relação ao mesmo período do ano passado, já prepara um plano para cortar gastos. Entre as propostas em estudo, estão a importação de insumos que hoje são fornecidos por empresas nacionais e a redução de pessoal. Com fábrica em Sorocaba, interior paulista, a Andrew emprega atualmente 450 pessoas

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