Recuperar o terreno

Depois de dois anos e meio de embargo e imensos prejuízos não somente financeiros para a pecuária brasileira, a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) finalmente restabeleceu a certificação da segurança sanitária da atividade em 10 estados e no Distrito Federal. De acordo com a instituição, esse conglomerado territorial passou a ser considerado livre da febre aftosa com vacinação, embora a medida não tenha incluído o Mato Grosso do Sul, onde houve o registro de focos de febre aftosa, mais exatamente no dia 30 de setembro de 2005.

Alguns dias depois, tendo em vista a circulação de animais em municípios situados na faixa de fronteira entre Mato Grosso do Sul e Paraná, na maioria das vezes sem o menor controle sanitário, o Ministério da Agricultura confirmou a existência de focos em propriedades rurais paranaenses. A partir dessas constatações, à época, intensamente discutidas e postas sob suspeição pelo corpo técnico estadual responsável pelo setor de fiscalização e vigilância sanitária animal, a OIE decidiu estender a suspensão do status sanitário de algumas regiões do País e interditou a entrada de carne bovina brasileira nos mercados da União Européia e também em outros países.

Uma nota do Comitê Científico para Doenças Animais da OIE, publicada no dia de abertura da 76.ª sessão-geral plenária da entidade, realizada em Paris, trouxe a ansiada informação do restabelecimento do status sanitário livre da temível infecção animal com campanhas de vacinação na Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Sergipe e Tocantins (grupo 1), além de São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Paraná e Distrito Federal (grupo 2).

O desfecho favorável reconhece em grande medida o esforço conjunto desenvolvido pelos respectivos governo e instituições ligadas à produção de carne bovina e derivados, sobretudo o setor de exportações, na tentativa de recuperar o terreno perdido e demonstrar perante mercados preferenciais da carne in natura e industrializada produzida no Brasil, que nosso produto é confiável e manipulado em conformidade com as exigentes normas de qualidade estipuladas pelo mercado mundial. O Ministério da Agricultura já encaminhou à OIE uma série de informes adicionais sobre as condições sanitárias do rebanho bovino de Mato Grosso do Sul, esperando-se que até julho a instituição reconheça que também o referido Estado terá as condições ideais para atender todas as exigências do consumo sem riscos.

Todavia, ainda prossegue a incerteza dos produtores quanto aos resultados imediatos da medida da OIE, pois não cabe ao órgão determinar a esse ou aquele país em que região do mundo eles deverão fazer as aquisições de carne para abastecer o consumo interno. A União Européia, extraordinário mercado para a carne brasileira, ainda mantém sérias restrições à importação do nosso produto, sob a alegação de problemas não solucionados no campo da rastreabilidade dos rebanhos. Nesse aspecto, fontes do setor de exportações asseguram que a decisão da OIE teve o mérito de ratificar o esforço brasileiro, mas pouca influência nas relações comerciais entre os países.

Para o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, o Brasil deve aproveitar o ensejo e investir na conquista de outros mercados para a carne bovina, a exemplo do Chile, que suspendera as compras de carne produzida em São Paulo valendo-se do embargo imposto pela União Européia. O Paraná também está recalculando seu potencial de exportação e pronto para retomar a dinâmica da atividade antes da febre aftosa. Em 2004, o Estado exportou 40,7 mil toneladas de carne avaliadas em US$ 100 milhões, mas os números despencaram para 10,4 mil toneladas e US$ 21 milhões no ano passado. O volume total das perdas na pecuária, segundo o Sindicarne, foi de R$ 600 milhões desde o sinal vermelho emitido pelos compradores. Todos estão cientes das dificuldades do caminho a percorrer, mas o esforço será recompensado. 

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