PT deixa apuração do mensalão para depois das eleições

O PT decidiu empurrar para depois das eleições a apuração das responsabilidades de deputados e dirigentes do partido envolvidos no escândalo do mensalão. A resolução foi tomada hoje, por acordo entre a maioria das tendências petistas, no encerramento do 13º Encontro Nacional do PT, em São Paulo. Sábado o partido aprovara formulação que menciona de forma genérica que as acusações de corrupção deveriam ser investigadas, mas sem entrar em detalhes sobre como e quando isso será feito, conforme acertado com o Palácio do Planalto.

Diante das pressões da opinião pública, porém, a cúpula do PT foi obrigada a produzir novo texto, no qual remeteu para o Diretório Nacional a missão de estabelecer "prazos e procedimentos" para averiguar quem são os culpados pela maior crise do partido e do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O texto, que passou pelo crivo do plenário, diz ser necessário evitar que o processo de apuração seja "constrangido pela dinâmica eleitoral e/ou manipulado pela oposição de direita".

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), da tendência Articulação Unidade na Luta, avisou que o assunto não entrará na agenda de maio. "Isso vai ser jogado para o primeiro diretório depois da eleição, previsto para dezembro", afirmou. "Não se trata de fazer qualquer tipo de Comissão de Ética nem de caça às bruxas. Não se trata da apuração de responsabilidades individuais, mas de uma discussão sobre os motivos que levaram alguns petistas a agir em desacordo com as normas do PT."

Desde a eclosão do escândalo, há quase um ano, o PT expulsou seu tesoureiro, Delúbio Soares, e abriu uma comissão de sindicância para investigar denúncias contra os deputados João Paulo Cunha (SP), Professor Luizinho (SP), José Mentor (SP), Josias Gomes (BA), João Magno (MG) e Paulo Rocha (PA), que acabou renunciando ao mandato. A sindicância foi sepultada sem conclusão, logo depois de anunciada.

"O processo de apuração não se encerrou, mas nós não vamos adotar uma atitude ingênua", insistiu o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, do grupo Articulação de Esquerda. "A prioridade é a eleição do nosso companheiro Lula na Presidência."

No fim da reunião de três dias, na quadra do Sindicato dos Bancários, para definir as diretrizes do programa de Lula à reeleição, o PT teve de tocar no "mensalão" a contragosto.

"Mensalão é uma tese que alguns defendem, que teria havido, mas não há provas", disse o chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci. A alegação de dirigentes petistas é que o fórum adequado para essa discussão é o 3º Congresso do PT, marcado para 2007, para não contaminar o período eleitoral.

"Mais contaminado do que já está?", protestou o secretário-geral do PT, deputado Raul Pont, da facção Democracia Socialista. Pont prometeu cobrar um calendário para iniciar essas investigações.

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