Reforma ministerial com cara de barganha

Às vésperas da segunda reforma ministerial, integrantes do núcleo político do governo Lula, que já enfrentavam as dificuldades de recompor o xadrez político da Esplanada dos Ministérios, têm agora outra preocupação: avaliar como as mudanças serão recebidas pela opinião pública. A preocupação decorre da evidência de que a reforma virá com o objetivo preponderante de fazer acomodações políticas, ou seja, permitir o ingresso do PP no ministério e melhorar a fatia do PMDB no governo.

Brasília – Diferentemente da primeira reforma, em janeiro de 2004, que incorporou o PMDB ao Executivo mas teve como pano de fundo a promessa de melhorar a eficiência administrativa do governo, esta reforma está exalando um aroma de conchavo. Nas reuniões da coordenação política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já manifestou o temor de que a reforma ministerial seja vista pela opinião pública apenas como conchavo ou barganha política e dê motivos para novos ataques da oposição à eficiência do governo petista.

"A cautela com a reforma é necessária. É difícil explicar uma reforma ministerial só pela questão política, sobretudo num governo que é acusado de ineficiência e inépcia pela oposição", disse um assessor do presidente Lula. Apesar disso, o presidente Lula deve deflagrar a reforma ministerial na semana seguinte ao carnaval. Ele só está esperando a conclusão do processo de eleições das presidências da Câmara e do Senado, dia 14, para botar na rua, ou melhor, na Esplanada, o bloco dos novos ministros.

No espírito da folia de momo, a reforma ministerial virou motivo de brincadeira entre os integrantes do primeiro escalão, que dividem seus colegas em blocos carnavalescos. Há os blocos "Daqui não saio, daqui ninguém me tira"; "Rebolando para ficar onde está", "Na corda bamba"; "Desafinando o samba"; "Na concentração para entrar na Esplanada" e "Os curingas". Mas, se depender dos que querem entrar no governo, o Planalto terá dificuldade para explicar o objetivo político da reforma ministerial.

O PP e o PMDB estão cobrando publicamente o novo espaço no governo. O PP quer emplacar de todo jeito o nome do deputado Pedro Henry (PP-MT) para o Ministério dos Esportes, que hoje é ocupado por Agnelo Queiroz (PCdoB-DF). E o PP não aceita a possibilidade de retaliação por causa da candidatura avulsa do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), contra o candidato oficial do PT, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP).

"Nosso ministério está garantido. Não podemos aceitar retaliação. Até porque o que conta são os votos do partido para o governo. E isso nunca faltou. Pedro Henry será ministro. Esse é um compromisso do governo. Não podemos fazer nada se algum deputado votar em Severino", diz o deputado Pedro Corrêa (PE), presidente do PP.

Já o PMDB resolveu agir nos bastidores. Lula recebeu um pleito da bancada do partido no Senado para substituir o ministro da Previdência, Amir Lando, pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR). No Planalto, a resistência a Jucá foi quebrada depois do desempenho dele como relator do Orçamento. Até então, o ex-tucano Jucá tinha a imagem associada ao governo Fernando Henrique, de quem fora líder. "Eu não mudei. Continuo defendendo o que sempre defendi", argumenta Jucá.

Lula resolveu deixar a reforma ministerial para depois da eleição para evitar que a pressão no Congresso Nacional neste período contaminasse ainda mais seus planos para acomodar os aliados. Ele temia que aliados excluídos acabassem prejudicando ainda mais o candidato oficial do PT à presidência da Câmara, Luiz Eduardo Greenhalgh.

Ministros viajam ou caem na folia

Brasília – A dispersão é palavra de ordem do carnaval da república petista. Um grupo estará em compromissos no exterior, alguns preferiram o sossego do interior do país e poucos devem se arriscar a aparecer em lugares públicos de grande concentração. O Expresso 2222, o trio do ministro Gilberto Gil em Salvador, deve contar com a presença de alguns, que ainda fazem mistério.

Quem já assumiu que estará na avenida, assistindo e não desfilando, será o vice-presidente José Alencar, no sambódromo no Rio. O ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, tem presença confirmada nos camarotes do prefeito Cesar Maia e da governadora Rosinha Garotinho domingo e segunda-feira, na Sapucaí. E o próprio Gil deve estar segunda-feira na Sapucaí.

Além do chefe da Casa Civil, José Dirceu, também passará o carnaval em Cuba o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes. Ao contrário de Dirceu, que foi para Cuba com ônus limitado para o Tesouro – o que significa que terá algumas garantias e mordomias, como segurança e transporte especial destinado às autoridades -, a viagem de Ciro é particular.

O ministro das Cidades, Olívio Dutra, ficará em Brasília até segunda-feira. Na terça-feira, participará da romaria da terra em Cruzeiro do Sul (RS). Eunício Oliveira (Comunicações) foi com a família para sua fazenda, em Corumbá de Goiás. E o baiano Jaques Wagner, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), trocou os trios elétricos pela Chapada dos Veadeiros, parque nacional no norte de Goiás.

Eleição na Câmara vira termômetro para aliados

Brasília – No Planalto, a ordem é avaliar o desempenho dos aliados durante a eleição na Câmara. Isso pode decidir o futuro de muitos deles. Apesar da reação antecipada, o PP foi alertado de que teria de trabalhar pela candidatura Greenhalgh. Até mesmo no PT esse esforço pessoal está sendo cobrado e pode determinar o futuro político de alguns líderes. É o caso do atual presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha (SP). Inicialmente foi descartada a possibilidade de ele ganhar um ministério, mas Lula pode reavaliar essa decisão.

Nos últimos dias, João Paulo passou a trabalhar intensamente por Greenhalgh, bem diferente de seu comportamento no ano passado, quando atuou nos bastidores em favor do deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), hoje desafeto do Planalto. Por isso, já há quem defenda o nome de João Paulo para o Ministério do Trabalho, no lugar de Ricardo Berzoini. Essa mudança tem o apoio do chefe da Casa Civil, José Dirceu.

Apesar das pressões, Lula vai passar o carnaval descansando e se recuperando da cirurgia que fez no nariz. Nesse período, o presidente vai evitar falar no assunto para evitar novas especulações. Nos últimos dias, ele fez cara feia para políticos e ministros que tentaram abordar o assunto com ele. "Pelo jeito, os blocos carnavalescos só vão desfilar na Esplanada dos Ministérios depois da folia de momo", avalia um ministro palaciano, em ritmo de carnaval.

Atravessando o samba, a senadora Roseana Sarney (MA) quer dar um novo ritmo ao governo Lula e acrescentar o bumba-meu-boi maranhense à Esplanada dos Ministérios. A senadora afastou-se do PFL e licenciou-se do mandato há cerca de 30 dias e seus aliados disseram que essa manobra estava relacionada a um convite que teria sido feito pelo chefe da Casa Civil, José Dirceu, para integrar o primeiro escalão do governo Lula.

Roseana passa os feriados de carnaval recuperando-se de uma cirurgia em São Paulo, e não há ainda uma decisão sobre qual a pasta que ela ocuparia. Seu nome já foi cogitado para as pastas de Comunicações, Turismo, Planejamento e Cidades. Sua provável ida para o ministério enfraqueceu o PFL e teria como objetivo compensar o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que não poderá ser reeleito para o cargo. O governador do Maranhão, José Reinaldo, que virou seu adversário, entrou no PTB para criar obstáculos à sua presença no governo e para evitar que sua gestão venha a ser discriminada na distribuição de verbas federais.

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