Parente envolvido

Primo de governador Beto Richa é citado na operação Quadro Negro

Acusado pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Londrina de ser o líder político do grande esquema de corrupção na Receita Estadual, revelado pela Operação Publicano, o empresário Luiz Abi Antoun agora é citado também na Operação Quadro Negro, que trata de desvio de recursos públicos a partir de contratos da Valor Construtora com a Secretaria de Estado da Educação (Seed), para construção e reforma de escolas estaduais.

O nome de Abi, parente distante do governador Beto Richa (PSDB) e considerado pelo Gaeco como uma espécie de “eminência parda” do governo tucano, aparece no depoimento de Vanessa Domingues de Oliveira, que trabalhava na Valor Construtora e figura legalmente como proprietária da empresa, embora seja apenas uma laranja do verdadeiro dono, Eduardo Lopes de Souza.

Ao falar para os investigadores do Gaeco de Curitiba sobre quem seriam os beneficiários do esquema de corrupção, Vanessa menciona o nome de “Abib Richa”. “Foi para o Maurício Fanini, para o Pepe Richa, para o Abib Richa, tudo parente do Richa”, disse ela. Questionado pela reportagem, o advogado de Vanessa, Haroldo Nater, confirmou que sua cliente se referia a Luiz Abi Antoun.

O promotor de Justiça Felipe Lamarão de Paula Soares, um dos investigadores da Operação Quadro Negro no Gaeco de Curitiba, disse que, pelo depoimento, não é possível ter certeza de que se trata de Luiz Abi Antoun. “Foi uma declaração frágil. Tanto que ele [Abi] não está entre os 15 denunciados”, afirmou Soares. Ao contrário do irmão do governador, Pepe Richa, que é secretário de Estado e tem foro privilegiado no Tribunal de Justiça do Paraná, Abi não tem foro especial e, por isso, pode ser investigado pelo próprio Gaeco de Curitiba.

Borghetti tentou se explicar.

Borghetti nega participação

Irmão da vice-governadora Cida Borghetti (Pros), o ex-vereador de Curitiba Juliano Borghetti foi denunciado à Justiça pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR), no fim do ano passado, pelos crimes de exploração de prestígio e organização criminosa. Segundo as investigações da Operação Quadro Negro, ele dizia que poderia usar do seu prestígio político em benefício da construtora Valor, acusada de participar de um esquema de desvios de dinheiro público de obras em escolas estaduais.

Em depoimento ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), porém, ele destacou que está brigado com o governador Beto Richa (PSDB) e, portanto, não teria como fazer qualquer ponte entre a empresa e o Executivo estadual. Segundo ele, após sair desgastado do governo, procurou o verdadeiro dono da Valor, Eduardo Lopes de Souza, com quem teria forte amizade há mais de 20 anos. E pediu se o amigo “podia arrumar alguma coisa”.

O acordado foi que Borghetti faria uma experiência de três meses, buscando contatos com a iniciativa privada para baratear os valores das obras da Valor. Para isso, recebeu R$ 15 mil mensais em espécie, entre fevereiro e abril do ano passado. A versão contada por Souza é idêntica à dele. No entanto, Vanessa Domingues de Oliveira, laranja que figura como proprietária formal da Valor, afirma que era uma espécie de funcionário fantasma da Valor e que foi à sede da empresa seis ou sete vezes para receber pagamentos de R$ 15 mil. (Euclides Lucas Garcia)

Entenda o caso

Testemunhas ligadas à construtora Valor, responsável pelas obras investigadas na Operação Quadro Negro, afirmam que o dono da empresa, Eduardo Lopes de Souza, fazia saques de até R$ 800 mil em dinheiro vivo e que essa verba era repassada irregularmente a pessoas ligadas ao governo do Paraná. Segundo os ,depoimentos, ouvidos pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), o dinheiro era desviado de obras de escolas estaduais em um esquema que teria beneficiado autoridades do primeiro escalão.
Uma das testemunhas ouvidas pelo Gaeco, Vanessa Domingues de Oliveira, diz que os cheques usados para fazer os saques somaram R$ 6 milhões. Vanessa, que diz ter sido sócia “laranja” da Valor, afirma que o desvio era feito por meio de falsas medições nas obras tocadas pela empresa.
Segundo o depoimento de Vanessa, a verba era repassada para que a Valor ganhasse novas licitações. Entre as pessoas que teriam recebido dinheiro estariam os deputados Ademar Traiano (PSDB), Plauto Miró (DEM) e Tiago Amaral (PSB), o conselheiro do Tribunal de Contas Durval Amaral e o secretário estadual de Infraestrutura, Pepe Richa. As acusações contra políticos foram enviadas à Procuradoria-Geral da República.