Lorenz deixa Secretaria de Segurança Pública do DF

Apenas três meses após assumir a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal prometendo “baixar o pau nos corruptos”, o delegado federal Daniel Lorenz deixou o cargo em meio a queixas sobre uma onda de sabotagens e ingerência política na sua gestão. Segundo auxiliares, saiu magoado com o governador Agnelo Queiroz (PT), que lhe teria retirado a carta branca para despartidarizar a ação da polícia e reforçar seu caráter técnico para o combate aos elevados índices de corrupção da capital do País.

Por meio de nota, Queiroz lamentou a decisão de Lorenz, mas disse que “respeita os motivos pessoais do delegado” e que, embora surpreso, só lhe restou “aceitar o pedido de desligamento”. O substituto ainda não foi escolhido. Por ora responderá pela pasta o secretário adjunto, coronel da Polícia Militar do DF Luiz Renato Rodrigues. Vários nomes já chegaram à mesa do governador, entre os quais o do delegado federal Sandro Avelar, atual diretor do Sistema Penitenciário Federal do Ministério da Justiça. Mas a Polícia Civil faz lobby para uma solução doméstica e um dos seus preferidos é o delegado Pedro Cardoso.

Queiroz (PT) assumiu em janeiro uma máquina destroçada pelo escândalo de corrupção desmantelado pela operação Caixa de Pandora, que levou à prisão e afastamento do governador José Roberto Arruda, cassação de vários parlamentares e indiciamento de mais de 30 pessoas. Entre estes figuram os procuradores Leonardo Bandarra e Deborah Guerner, do Ministério Público do DF e Territórios, acusados de achaque a Arruda e de receber propina para encobrir denúncia contra os envolvidos no chamado mensalão do DEM.

O governador seduziu Lorenz, que já chefiara o setor de inteligência da PF, com a garantia de que ele teria liberdade de ação para fazer a reestruturação no modelo de atuação da polícia da capital do País, que passa por grave crise de credibilidade e foi alijada na operação Caixa de Pandora, cuja execução foi inteiramente confiada à Polícia Federal.

Na prática, acuado pela crise que tumultua seu início de governo, Queiroz cedeu às pressões das forças políticas locais, que promoveram uma onda de greves corporativas, boicotes e até chantagem de aliados que não se sentem contemplados no guarda-chuva do governo.

As reações mais fortes partiram da Polícia Civil, que promoveu uma greve de dez dias e ignorou até uma ordem judicial de volta ao trabalho. O governador aceitou negociar diretamente com os dirigentes policiais, por cima da autoridade de Lorenz. Em nota distribuída à imprensa, Queiroz destacou “o eficiente trabalho” realizado pelo ex-secretário, “por seu profissionalismo e competência” à frente da Pasta. A mudança, segundo a nota, não implica em descontinuidade operacional da Segurança Pública do DF.