Pé-de-meia

Pé-de-meia sempre significou uma poupança. A razão é que era comum guardar dinheiro em um pé de meia, embaixo do colchão, em cofrinhos e, para os mais sofisticados, na Caixa. Na Caixa Econômica Federal ainda se guarda o dinheiro economizado, a reserva, agora num tipo de aplicação muito popular chamado caderneta de poupança, objeto de intensa e agressiva propaganda desta e de outros captadores, como se efetivas diferenças existissem entre uns e outros. Trata-se de uma aplicação de baixa remuneração, que às vezes, mas nem sempre, cobre a inflação. Mas é garantida pelo governo até um certo limite e isso gera confiança, como se o governo fosse confiável.

No último final de semana noticiou-se que, nos Estados Unidos, entrou em concordata a gigantesca empresa WorldCom, que entre outras, é proprietária da Embratel. Há poucos dias, outra gigantesca empresa norte-americana foi para o buraco e, ao que tudo indica, em ambos os casos e alguns mais que começam a aparecer, houve manipulação de balanços, maracutaias. E das grossas.

Até agora temos sofrido com avaliações negativas de bancos e agências de análises de risco norte-americanas sobre investimentos no Brasil. O risco-Brasil, dizem eles, é grande e, por isso, não se recomenda aplicar dinheiro em nosso País. Quem sabe é até bom tirar um pouco do que está aplicado. Estas análises foram imitadas em outros países desenvolvidos, sempre tendo como pano de fundo as expectativas dos resultados das eleições brasileiras e, como efeito, penosas fugas de capitais e interrupções de investimentos que penalizam nosso governo, nossas empresas e nossa economia.

Depois da concordata da WorldCom parece que chegamos a uma hipótese extravagante, que só não se concretiza porque os investimentos brasileiros no exterior ainda são pequenos e inexpressivos. Seriam agências de avaliação de riscos e bancos brasileiros, em suas análises, começarem a recomendar aos investidores que tomem cuidado com as aplicações nos Estados Unidos. Não porque lá se aproximam eleições e existem riscos de eleição de algum candidato não muito confiável para o mercado, mas porque eles já elegeram George Walker Bush. Não é um presidente de esquerda, mas entrou no governo de pé esquerdo e tem provocado dúvida sobre sua capacidade de bem governar aquele grande país. Mas porque, mesmo baixando os juros a quase zero, a economia norte-americana não decola e estão sendo descobertas grossas negociatas e gigantescas empresas estão falindo ou entrando em concordata. Os norte-americanos, que recebiam recomendações para reduzirem seus investimentos no Brasil, agora não têm coragem de manter suas aplicações em ações de suas próprias empresas.

Nem tudo que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil, mas quase tudo que é ruim para eles é também ruim para nós. À nossa instabilidade e às tempestades de mercado agora somam-se os abalos sísmicos no mercado de capitais dos Estados Unidos. E onde colocar o nosso dinheiro, para mantê-lo com um mínimo de segurança e ilusória rentabilidade? Nas cadernetas, aconselham os especialistas. No Brasil, dirão os conselheiros financeiros norte-americanos, se por lá continuarem as quebradeiras. Nem que seja nos pés de meia, embaixo de colchões ou nas cadernetas de poupança.

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