Reféns são libertados em fazenda ocupada pelo MST

Terminou sem feridos, por volta das 11h de ontem, a confusão envolvendo integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em uma fazenda de propriedade da empresa Erva Mate 81, em Guarapuava, região central do Estado, onde cortadores de mate foram feitos reféns na tarde de anteontem. De acordo com a Polícia Militar local, foram pelo menos 20 horas de cárcere privado, as quais os trabalhadores passaram sem comer e sob vigília armada de integrantes do movimento.

Os sem terra negam, no entanto, que tenham privado os cortadores de liberdade e justificam que a empresa estaria explorando ilegalmente a área – que tem 55 hectares e fica no distrito de Guará, distante 20 quilômetros de Guarapuava. Segundo eles, a fazenda está em processo de negociação com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

O conflito começou por volta das 14h30 de anteontem, momento em que os trabalhadores cortavam a erva-mate a serviço da empresa – que é de Antônio Schier, sócio do proprietário da fazenda, Nereu Hopko. A área fica a cerca de 800 metros do acampamento onde vivem, em média, 150 sem terra. Conforme relatou a assessoria de comunicação da polícia, os trabalhadores não apenas tiveram de deixar o trabalho como ficaram reclusos dentro das instalações onde permanecem quando em serviço na fazenda, vigiados por representantes do MST. Uma operação foi montada para tentar negociar a saída dos trabalhadores – entre eles havia duas crianças. Porém, de acordo com a polícia, a chegada dos policiais nas proximidades da casa onde eram mantidas as vítimas suscitou a reação dos cerca de 150 sem terra, que permaneciam no local portando facões, foices e armas de fogo, como carabinas, revólveres e espingardas. Para evitar um conflito armado, a PM recuou.

Apesar da intervenção da Polícia Civil e da Polícia Federal, foi impossível uma negociação para liberação dos reféns ainda na noite de quarta-feira. Os cortadores de mate passaram a noite reclusos, até nova negociação ser iniciada por volta das 9h de ontem. Foi quando a polícia apelou para integrantes do MST que acampam em outra localidade. Estes foram chamados para dialogar com os demais integrantes do movimento. Duas horas depois, os trabalhadores foram liberados pacificamente.

Reintegração

Segundo a PM, o objetivo dos sem terra era fazer o dono da fazenda pagá-los pela plantação retirada no local, uma vez que a área estaria em processo de negociação com o Incra. Mas existem documentos, de acordo com a polícia, que comprovam a decisão em juízo pela reintegração de posse da área. Faltava apenas a operação de retirada dos sem terra.

Um dos sem terra envolvidos na confusão, José Acir Cecílio, nega que o grupo estivesse armado e que tenha mantido os trabalhadores em cárcere. "Apenas conversamos com eles", alega. Segundo o chefe da 14.ª Subdivisão Policial de Guarapuava, delegado Miguel Stadler, que também participou da operação, 18 pessoas entre vítimas e integrantes do MST devem prestar depoimento à polícia. Os responsáveis devem responder por cárcere privado e roubo.

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