Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, esteve ontem em Curitiba para inaugurar a sede provisória do Instituto Pelé Pequeno Príncipe – Pesquisa em Saúde da Criança e do Adolescente (IPP). A instituição vai desenvolver pesquisas para aumentar o potencial de cura de doenças complexas que hoje apresentam limitações de diagnóstico ou tratamento. Na ocasião também foi lançado o Fundo Pelé de Proteção à Infância, que deve arrecadar recursos no mundo todo para a manutenção das atividades do instituto. A primeira ação será a venda de medalhas e placas que fazem alusão aos gols feitos pelo jogador durante a sua carreira. A edição será limitada e cada exemplar deve custar entre R$ 300 e R$ 2 milhões. A intenção é arrecadar cerca de US$ 8 milhões.
O IPP foi inaugurado em setembro do ano passado e agora ganha uma sede provisória, em frente ao Hospital Pequeno Príncipe, e deve funcionar lá durante cinco anos, até que seja concluída a sede oficial, que terá 12 mil metros quadrados. A previsão é que a construção do prédio e a compra de equipamentos custe cerca de US$ 20 milhões. Só o de ressonância magnética, por exemplo, custa US$ 1,5 milhão.
Durante a entrevista coletiva, Pelé disse que o futebol e o trabalho que vem realizando, de apoio a projetos sociais em benefício das crianças, são as suas maiores realizações. ?As pesquisas vão ajudar a salvar a vida de muitas crianças brasileiras?, disse. Ele brincou também, perguntando aos pesquisadores se os estudos com o DNA não poderiam identificar políticos corruptos, fazendo alusão à crise na política brasileira.
Desde que o IPP foi inaugurado já foram iniciadas várias pesquisas, entre elas a de câncer de córtex adrenal (glândula localizada acima do rim) por meio do teste de DNA. Esse é o primeiro feito em grande escala para a detecção da mutação genética responsável pelo aparecimento da doença. No Paraná e São Paulo a incidência desse tipo de câncer é 18% maior do que em qualquer outro lugar do mundo. O teste já começou a ser oferecido nas maternidades de Curitiba e Região Metropolitana. Cerca de 15 mil crianças já foram triadas e as que apresentaram a mutação estão sendo acompanhadas. A pesquisa conta com o apoio da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
O IPP também vai começar a desenvolver o primeiro teste laboratorial do mundo para acompanhar o diagnóstico psiquiátrico do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. O acordo de cooperação entre o IPP e a Prefeitura foi firmado ontem na Escola Municipal de Educação Especial Tomaz Edison de Andrade Vieira, no Pinheirinho, a maior do País para o atendimento de alunos com deficiência. Segundo a pesquisadora Mara Lúcia Cordeiro, no mundo o problema afeta entre 3% e 5% das crianças em idade escolar – no Brasil isto corresponde a cerca de 3 milhões de alunos. Segundo ela, a falta de diagnóstico e tratamento podem trazer sérios problemas. Pesquisas mostram que entre 25% e 70% delas têm dificuldade de aprendizagem, 45% tem comportamento antisocial e 50% praticaram algum tipo de delito. A pesquisa será feita com 600 crianças da rede municipal de ensino de Curitiba e o convênio feito com a Prefeitura foi assinado ontem. Outro projeto é o de Geomedicina, que vai detectar contaminantes químicos nas bacias hidrográficas paranaenses, relacionando os dados com as estatísticas de saúde. Até o fim do ano outras 15 novas pesquisas vão ser iniciadas e o pesquisador Bonald Figueiredo complementa que os tratamentos realizados em outras partes do mundo com sucesso para a cura do câncer também vão ser implantados aqui através do IPP. Enquanto em alguns países a taxa de cura é de 74%, no Brasil alguns cânceres chegam a apenas 40%.
Criado fundo para proteger criança
Para financiar o IPP foi criado ontem também o Fundo Pelé de Proteção à Infância. As medalhas vão ser produzidas em parceria com a Casa da Moeda do Brasil, em série única, numeradas e certificadas. Como Pelé fez 1.283 gols em sua carreira, vai ser confeccionado o mesmo número de moedas para cada tipo de material: ouro, prata e bronze, totalizando 3.849 exemplares.
Já as placas vão ser idealizadas e desenhadas pelo artista plástico Romero Brito e vão conter números escolhidos por Pelé, lembrando os gols marcados por ele. Serão três placas de platina, 10 de ouro, 50 de prata e 150 de bronze. Os preços das placas e medalhas ainda não estão fechados, mas devem variar entre
R$ 300 e R$ 2 milhões. O lançamento da campanha será feito em Berlim, na Alemanha, próximo à Copa do Mundo. (EW)