No Paraná, adolescentes infratores são pobres

Uma pesquisa feita pela Fundação do Bem-Estar do Menor (Febem) de São Paulo surpreendeu a população ao constatar que um terço dos internos pertence à classe média. Entre os motivos, estaria o envolvimento com drogas. No Paraná, entretanto, o perfil dos jovens nos educandários é diferente: de acordo com o Instituto de Assistência Social do Paraná (Iasp), a maior parte se encaixa nas classes de menor poder aquisitivo, tendo a dificuldade financeira da família muitas vezes como motivo para o envolvimento com o tráfico ou roubo.

Os dados colhidos pelo instituto no ano passado revelam que, nas internações em que a renda familiar foi informada (70% dos casos), apenas 4% dos adolescentes relataram valor maior que três salários mínimos. ?A nossa grande massa é de famílias pobres?, avalia a presidente do Iasp, Telma Alves de Oliveira. Atualmente, 416 adolescentes estão internados em regime permanente no sistema socioeducativo do Estado, em cinco grandes unidades de internação – três na grande Curitiba, uma em Londrina e outra em Foz do Iguaçu. Além dessas, existem os centros de internação provisória, onde o adolescente infrator passa 45 dias para tentativa de reintegração com a família durante o período.

No entanto, quem trabalha com adolescentes infratores consegue traçar os motivos de o perfil nos educandários se manter praticamente inalterado. O primeiro é porque se encontram em regime de internamento – aplicado por decisão judicial geralmente em casos em que há ameaça à vida, alta reincidência ou por terem cometido homicídio, características mais raras às classes mais abastadas, conforme Telma. No topo da lista aparecem os crimes de roubo (38%), seguidos pelos homicídios (15,6%), crimes envolvendo entorpecentes (8,7%), furto qualificado (8,4%), roubo com resultado de morte (6,7%), furto (6,4%), tentativa de homicídio (3,4%), porte de arma (2,8%), estupro (1,2%) e seqüestro (1%).

?Se somarmos os delitos onde a palavra roubo ou furto aparecem, percebemos que atingem 59% das estatísticas. Com essa constatação, chegamos à renda e notamos que os crimes estão diretamente relacionados à classe a que pertencem. Claro que nesse ínterim também entram jovens da classe média quando o roubo é para comprar drogas, mas em menor número.? De acordo com a presidente do Iasp, 90% dos internos são usuários de entorpecentes.

A pesquisadora e assessora do governo do Estado no atendimento a adolescentes infratores em alto risco Paula Gomide vai ainda mais longe em sua análise. Segundo ela, crimes que marcam adolescentes da classe média alta são bem específicos, como é o caso dos latricidas (pessoas que matam os pais). ?É crime raro e, quando acontece, é porque existe relação ambígua do filho com o pai ou mãe. Geralmente há incesto e, ao mesmo tempo em que são negligenciados e rejeitados, os pais os seduzem. Eles acabam interrompendo esse ciclo de maneira violenta.? No Paraná, a assessora atende 26 adultos e 4 adolescentes envolvidos com esse tipo de crime.

Mas, via de regra, ela garante: não é a pobreza que determina a marginalidade e, sim, as condições precárias de atendimento à criança. ?A diferença é que as crianças que pertencem a famílias de classe mais alta, bem ou mal, vencem um período escolar, no mínimo até a oitava série, enquanto nas classes baixas não passam do terceiro ano. E todas as pesquisas mostram que estar na escola é fator protetor contra a criminalidade?, avalia a assessora.

Ela cita ainda que a ocorrência cada vez mais constante de crimes graves entre adolescentes – como os homicídios, em geral ligados ao tráfico – estão diretamente relacionados à falta de recursos. ?Eles dizem que estão no tráfico para comprar uma casa para a mãe, apesar de nunca realizarem isso. Se matarem alguém que não conhecem em favor do traficante, eles ganham remédios, roupas, dinheiro, comida para a família; recebem uma proteção que a sociedade não dá. A diferença é que, em troca, têm de executar uma ordem do crime.?

Voltar ao topo