"Vão dormir no chão"

Famílias despejadas denunciam violência praticada por PMs

O segundo dia da reintegração de posse do terreno na Rua Costa e Silva, na Vila Costeira, em Araucária, foi marcado pelo clima de tensão entre moradores e policiais militares. De acordo com as famílias despejadas, na madrugada de quinta-feira (21), oficiais de plantão cometeram assédio moral e atos de violência contra alguns dos moradores.

Segundo a dona de casa Ângela Maria Machado, os policiais que faziam as rondas zombaram da situação dos moradores da invasão. “A gente conseguia escutar eles falando no sistema de som que iam dormir em casa, numa cama limpa, enquanto nós íamos dormir no chão batido, no meio dos escombros”, relatou.

A desempregada Carmem Karina de Mendonça contou que ouviu tiros à noite e houve atitudes violentas por parte dos policiais. “Tivemos que passar a noite em claro, pois a gente não sabia o que ia acontecer. Ouvimos tiros, teve gente que apanhou dos policiais e teve que fugir da violência deles. Um clima total de terror. Além de perder nossas casas, tivemos que aguentar essas situações”, comentou.

Um adolescente de 17 anos, que não se identificou por medo de represálias, disse que apanhou dos oficiais. “Foi uma noite de terror. Eles saíram dando chute em quem estava no meio da rua. Eu apanhei e outros amigos também tomaram pancadas. Fizeram para intimidar mesmo. E a culpa não é nossa. Estamos aqui porque ainda não conseguimos um lugar para ficar”, descreveu.

Esquecimento

De acordo com Marli Pedroso, durante todo o dia operários passaram máquinas escavadeiras em casas onde ainda havia móveis. Ela ficou na frente da moradia para evitar que seus pertences fossem destruídos. “É um absurdo. Estamos aqui ainda porque não temos para onde ir e não porque queremos. Estão nos tratando como lixo. Estamos sem água e comida. Sem banho também. Se a gente sair, vão destruir tudo. E nada de ajuda da prefeitura ou do governo. Estamos sozinhos. Eu não tenho mais lágrima para chorar”, desabafou.

Não há registro de queixas

Segundo o major Sandor, do 17.º Batalhão da Polícia Militar, que coordenou a operação de despejo durante o dia de ontem, nenhuma queixa relacionada às denúncias feitas pelos moradores da invasão foi prestada. “Essas informações até me surpreendem, porque estávamos com efetivo baixo durante a noite. Mas não foi registrada nenhuma queixa. Nós pedimos que os moradores que testemunharam ou sofreram alguma atitude indevida por parte dos nossos oficiais, que procure a mim, os nossos quartéis ou a Ouvidoria da Polícia Militar”, declarou.

Prefeitura busca solução

Em nota, a prefeitura de Araucária diz que “está empenhada em solucionar o déficit habitacional na cidade, mas respeitando a fila de atendimento dos programas habitacionais”. Em conversas com ocupantes do terreno foram pedidos a relação de famílias e documentos para que a Cohab possa verificar se estão incluídas na fila, mas a administração não recebeu estes dados. “A prefeitura se coloca à disposição para quaisquer esclarecimentos e ressalta a importância que essas famílias forneçam as informações para a elaboração de cadastro ou atualização”, finaliza o comunicado.