Dependentes químicos lutam contra o vício

?A gente sofre bastante. Depois de cada recaída, tudo fica mais difícil?. A declaração é do representante comercial Francisco, de 36 anos, que está passando por tratamento contra a dependência química. As recaídas acontecem e não significam que a pessoa não pode se recuperar, ao contrário do que muitos pensam. Mas as recaídas também não podem ser simplesmente aceitas. Elas precisam ser evitadas o máximo possível, para que o paciente não sofra e consiga levar o tratamento adiante.

?Eu já tive quatro recaídas desde que comecei a me tratar. Desta vez, estou internado há 20 dias. Hoje, estou chegando à consciência de que é preciso um tratamento, também ligado com o lado espiritual. No meu caso, as recaídas aconteceram por problemas emocionais?, relata Francisco.

Foto: Chuniti Kawamura

Aracélis Copedê: ?Complexidade da doença?.

O agricultor Marcelo, de 34 anos, também está em tratamento. Já passou por muitas recaídas. ?Na última vez, tinha um compromisso realmente sério e eu não tinha coragem de encará-lo. Então fui fazer o que gostava. Acabei consumindo bebidas alcoólicas, cruzei com um cara que eu já conhecia e acabei comprando drogas. Me encontraram e me trouxeram para a clínica?, conta.

Marcelo fala que não existem palavras para expressar o prazer que a droga traz para um dependente químico. ?A gente acaba trocando a responsabilidade pelo prazer. Fica lembrando dos momentos de prazer que já teve. No começo é bom, mas as drogas destroem tudo?, avalia Marcelo.

O cérebro não consegue apagar as lembranças dos momentos de prazer que o dependente teve quando consumiu drogas. Isso, aliado a outras doenças e condições emocionais, pode favorecer uma recaída. ?É necessário pensar na complexidade da doença. O paciente dependente químico pode ter outras comorbidades, como transtorno bipolar, paranóia ou transtorno obsessivo compulsivo. Elas são desenvolvidas por causa da dependência ou já estavam presentes no indivíduo anteriormente. Por isso, é essencial uma avaliação completa do paciente, por diferentes ângulos, pois as comorbidades não diagnosticadas podem levar às recaídas?, explica Aracélis Copedê, administradora da Clínica Nova Esperança, de Curitiba, especializada em tratamento de dependentes químicos.

Fatores emocionais influenciam

Os problemas emocionais e de relacionamento também influenciam na possibilidade de recaídas. Essas questões são trabalhadas durante o tratamento de dependentes químicos. Com os problemas resolvidos, é mais fácil a adaptação do paciente quando ele sai do internamento. Mas isto não representa que está curado. Além de a dependência química ser uma doença que não tem cura, o tratamento para a abstinência é muito longo. Para os dependentes em crack, por exemplo, a recuperação pode levar três anos.

?O tratamento é baseado em um tripé: clínica, paciente e família. Se um falhar, o tratamento não dá resultado. A família de um dependente químico também está doente e precisa ser tratada?, comenta Aracélis Copedê, da Clínica Nova Esperança.

Para evitar as recaídas, o paciente em recuperação também deve mudar os seus hábitos. Quebrar uma rotina que o fazia consumir qualquer tipo de droga é o primeiro passo para evitar a recaída. É justamente neste ponto que estão chegando os pacientes Francisco e Marcelo, internados na Clínica Nova Esperança. ?A recuperação é possível mas não é fácil. Não existem milagres?, esclarece Aracélis.

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