Adeus, Curitiba!

Corporações trocam de endereço e colocam empregos em risco

Grandes empresas estão se despedindo de Curitiba. A última delas foi a Ambev, que transferiu sua fábrica para Ponta Grossa no início do mês, demitindo cerca de 100 funcionários, segundo o Sindicado dos Trabalhadores nas Indústrias de Cerveja e Bebidas em geral (Sindibebidas). Em setembro, a Metapar Usinagem, pertencente à Bosch, fechou as portas e colocou 145 trabalhadores na rua. Em agosto, o HSBC foi comprado pelo Bradesco, deixando 7,5 mil bancários da capital com destino incerto. Quem está na Berlinda agora são 127 metalúrgicos da Bosch, que produzem a bomba injetora VE. A empresa estuda transferir a produção da peça para a Índia, e só garante esses empregos até fevereiro de 2016. O metalúrgico Osni Zanon, 48 anos, é um dos que temem pelo futuro. “Não acredito que haverá realocação interna, porque em todos os setores a produção ou caiu, ou ficou igual. E não virá um novo produto para substituir a bomba VE. A perspectiva é de demissão”, lamenta.

Negociações

O diretor do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC) Edson Antônio dos Anjos afirmou que a transferência pra Índia vem sendo discutida há cerca de seis anos. “É só uma questão de tempo. O sindicato já se colocou à disposição pra discutir uma realocação dos funcionários, mas até agora a empresa não nos procurou”.

O presidente do Sindibebidas, Antônio Sergio Farias, diz que o fechamento da fábrica da Ambev em Curitiba foi discutido desde o começo do ano. Cerca de 50% dos funcionários foram reaproveitados nas unidades de Ponta Grossa e Almirante Tamandaré. “Conseguimos também que os patrões contratassem uma empresa de recursos humanos para tentar recolocar os cerca de 100 demitidos”, informa.

Funcionários temem que HSBC feche centros administrativos e de tecnologia.

Impacto econômico e social

O maior prejuízo da perda de postos de trabalho é o social, afirma o economista Carlos Magno, do Conselho Regional de Economia do Paraná (CORECON/PR): “Qualquer perda de emprego é preocupante. O município também arrecada menos e aplica menos em educação, saúde e segurança”. Ele acredita que os ex-funcionários da Ambev terão mais dificuldades de sair do desemprego. “Traz preocupação porque não é uma mão de obra especializada. Já a Bosch tem pessoal mais capacitado, que pode ter mais chance. Por outro lado, com a transferência de parte da produção para a Índia, transferimos emprego, riquezas e tributos”, pondera.

Bancos

Em relação ao HSBC, o maior receio é que quatro centros administrativos e um de tecnologia sejam fechados, em decorrência da venda para o Bradesco. Mas a instituição compradora também pode optar por fechar agências próximas umas das outras. Para ele, bancários do Bradesco também têm motivos pra se preocupar. “A direção vai aproveitar as pessoas mais qualificadas, os melhores talentos dos dois quadros de funcionários. Os do Bradesco correm risco igual”, afirma. O Sindicato dos Bancários de Curitiba e região informou que a transação da compra do HSBC pelo Bradesco está em andamento, e ainda não foi confirmada pelo Banco Central. Mas há conversas no sentido de preservar os empregos, e ambos os bancos afirmaram ao sindicato que não haverá demissão coletiva. 

Prefeitura deve negociar

No entendimento da vice-prefeita de Curitiba e secretária de Tr,abalho e Emprego, Mirian Gonçalves, as cerca de 245 demissões da Ambev e Metapar não são tão significativas no contexto geral. “É claro que para essas famílias que ficaram sem ganho é grave, mas o que mais preocupa é a questão do HSBC. Provavelmente, no dia 27 de novembro haverá a transferência de controle. No fim do mês voltarei a conversar com o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, sobre como vamos trabalhar essas demissões”. Caso os centros administrativos e de TI do HSBC sejam fechados, o comércio ao redor sentiria o baque. “No entorno tem ainda mais impacto. Há um cálculo do Dieese [Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos] que aponta que a cada emprego direto perdido, perde-se três indiretos”, diz. Entre essas vagas indiretas estão os postos terceirizados (vigilância e limpeza), e de restaurantes, lojas e salões de beleza.

Boas expectativas

Em meio a tantas demissões, mil novas vagas serão abertas em 2016. A vice-prefeita adianta que uma empresa chinesa vai oferecer 400 empregos. Ontem, a empresa de tecnologia Optum Global Solutions – pertencente à americana United Health, que desde 2012 controla a operadora de saúde Amil, comunicou ao prefeito Gustavo Fruet que também vai se instalar na capital paranaense e deverá gerar 600 empregos. Um mutirão de captação de vagas vai acontecer de 16 a 20. As empresas poderão cadastrar vagas de trabalho no Sistema Nacional de Emprego (SINE) das Ruas da Cidadania. O empregador também pode entrar em contato pelos telefones: (41) 3221-2924, (41) 3221-2926 e (41) 3221-2928, ou pelo e-mail vagas @smte.curitiba.pr.gov.br.

Taxas

Com o fechamento de empresas, o município deixa de recolher Imposto Sobre Serviço (ISS). O valor arrecadado da Ambev e da Metapar, de 2011 a 2015, somou R$ 375 mil. O HSBC gera a arrecadação de R$ 84 milhões de ISS anualmente. Parte pode ser afetada, dependendo das decisões da nova direção.

Paraná Online no Facebook