Comunidade debate alternativas ao vestibular

Milhares de estudantes estão passando, neste final de ano, por uma verdadeira maratona de provas para tentar garantir  vaga em uma boa universidade no ano letivo de 2007. E mais uma vez a discussão sobre o processo de seleção volta à tona. O vestibular é a forma mais justa de selecionar alunos para as universidades? Alunos, professores, reitores e profissionais ligados às universidades concordam que não, mas há poucas alternativas para sair desse sistema.

Entre os estudantes, a opinião é praticamente unânime: é muito injusto concentrar todo o processo de seleção em uma única sessão de provas. ?O ideal seria que todos que quisessem tivessem oportunidade de entrar em uma universidade, mas como isso não acontece, defendemos uma seleção com o maior número de critérios possíveis, como análise de histórico escolar, desempenho no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e entrevista para descobrir as habilidades do candidato?, disse o coordenador do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Paraná, Érico Massoli Ticianel.

?Estão surgindo no Brasil várias alternativas de seleção para as universidades, mas nenhuma ainda é capaz de substituir integralmente o vestibular. Não vejo, na atual conjuntura do País, um sistema melhor que o vestibular?, disse o diretor-geral do curso e colégio Expoente, Armindo Angerer, que citou o Enem como boa alternativa ao vestibular tradicional. ?Mas não podem ser as únicas formas de seleção, uma vez que o Enem é uma prova de conhecimentos gerais, que avalia o senso crítico e a criatividade do estudante, sem cobrar conteúdos. Deve ser usado como um critério de desempate, ou um bônus à nota do aluno?, disse.

Para Armindo, o modelo norte-americano, em que o desempenho do estudante no decorrer de todo o ensino médio é o que o credencia para uma vaga na universidade, não daria certo no Brasil devido à falta de vagas em cursos de maior concorrência. ?Isso daria ao estudante apenas uma oportunidade de conseguir a vaga. Pela falta de vagas, é preciso dar mais chances a quem sonha fazer um curso universitário?, disse o diretor, que reconhece que avaliação seriada (nos três anos do ensino médio) seria uma boa opção para preencher parte das vagas nas universidades. ?Mas tem de deixar uma parte para o vestibular tradicional, para pessoas que estão fora do ensino médio ou que querem uma segunda chance para entrar na faculdade?, concluiu.

Esse também é o pensamento da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), que implantou neste ano o Programa de Admissão Essencial Seriada (Paes), no qual são aplicadas uma prova ao final de cada ano do ensino médio para que, com o resultado das três provas, sejam selecionados alguns dos calouros da instituição. No primeiro ano, 2008, 10% das vagas da PUCPR serão destinadas ao Paes. ?Mas essa taxa vai aumentar. Nosso ideal é chegar a 50% pelo Paes e 50% pelo vestibular convencional?, disse o professor Sérgio De Angelis, diretor de Atenção ao Aluno da PUCPR. ?É uma forma mais justa, pois avalia o aluno em três etapas, diminuindo o fator sorte e a pressão psicológica sobre ele?, explicou.

O Paes já é aplicado em 100 escolas e, além de aplicar as provas, a PUC ainda faz um trabalho de apresentação da universidade e orientação vocacional aos estudantes. ?É bom para a escola, que tem o apoio da universidade, bom para o aluno, que tem orientação e mais uma oportunidade, e bom para nós, que selecionaremos melhor nossos estudantes e diminuiremos e evasão?, concluiu.

Idéia baiana pode ser opção ao concurso

Uma idéia do reitor da Universidade Federal da Bahia, Naomar Monteiro de Almeida Filho, tem sido amadurecida pelas reitorias de diversas universidades públicas e ganho a simpatia, também, de algumas instituições particulares. Ele sugeriu a implantação de um bacharelado interdisciplinar, em que os alunos que ingressarem na universidade pelo vestibular fariam um curso universitário geral com duração de dois ou três anos para, depois, conforme desempenho nessa etapa, escolherem o curso.

Assim, a seleção para os cursos mais concorridos ocorreria de acordo com o aproveitamento na própria universidade. ?É uma idéia bastante interessante, mas acredito que ainda precisa ser aprimorada. É preciso que esses primeiros anos também sejam formadores, para que os alunos que os cursarem já estejam aptos a exercer alguma profissão de nível superior?, comentou o reitor da Universidade Federal do Paraná, Carlos Augusto Moreira Júnior.

Para Moreira, o próprio Enem pode servir como a prova de seleção para esse bacharelado, ?desde que seja homogeneizado e passe a ter uma qualidade maior?, disse. ?O vestibular é responsável pelo surgimento de uma criatura que se tornou maior, até, que a universidade: o cursinho. É hora de rever, buscar alternativas?, finalizou.

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