Combate ao tráfico causa confusão na fronteira

  Aurea Cunha
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Fiscalização na Ponte da Amizade continuou rigorosa.

Foz do Iguaçu – Em uma ação inédita na fronteira, o Paraguai iniciou ontem uma operação de guerra contra o tráfico e os cigarros falsificados que deixam o país pela Ponte Internacional da Amizade e por embarcação pelo Rio Paraná. A ação na aduana em Ciudad del Este, saída para o Brasil, provocou tumulto e revolta. Sacoleiros que protestavam contra a presença policial foram expulsos pela cavalaria montada. Para intimidar os manifestantes, policiais lançavam os cavalos contra a multidão. Na tentativa de fugir para não ser pisoteados, mulheres com crianças e idosos se arriscavam entre os veículos.

Um homem que se recusou a abrir o bagageiro do carro onde estavam as mercadorias foi preso. Um cão farejador fazia buscas, enquanto soldados da Marinha com armas antimotim revistavam ônibus e motos. ?São ações rápidas. Buscamos os flagrantes para conseguir surpreender os traficantes?, disse um agente da Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai. Ele pediu para não ser identificado.

A decisão de repressão ao tráfico e ao cigarro foi considerada pelas autoridades vizinhas como mais uma demonstração do presidente Nicanor Duarte Frutos de apoio ao combate desencadeado pelo Brasil desde agosto do ano passado. A ação brasileira provocou uma queda de 80% nas vendas.

Para os brasileiros que vivem do transporte de mercadorias foi mais um duro golpe contra a economia doméstica. Números usados pela Prefeitura de Foz do Iguaçu em um relatório sobre o impacto econômico aponta que 30 mil pessoas ficarão sem nenhuma renda. O número poderá ser de 90 mil, se somado a região de Alto Paraná, no Paraguai, e os municípios brasileiros vizinhos à fronteira.

?O Paraguai se vendeu para o Brasil e nós temos de pagar o preço?, gritavam As mais exaltadas eram as mulheres. Elas afirmaram que há mais de 15 anos transformaram o rendimento do transporte de mercadorias, na única fonte de renda da família. ?Nos submetemos a essa humilhação por não termos um trabalho digno?, revidavam aos ataques da cavalaria.

Imigrante

No início da manhã, os brasileiros que tentaram entrar em Ciudad del Este tiveram de enfrentar a fiscalização contra estrangeiros ilegais. Agentes de Imigração expulsaram cerca de 200 pessoas. ?Tivemos mais sucesso que no primeiro dia?, comemorou o coordenador, Wilmar Monzon.

Ele explicou que a tática agora é fazer com que os brasileiros que trabalham no comércio cheguem atrasados ao trabalho. ?Ficamos até às 10h. Depois, liberamos quem quiser entrar, mas acreditamos que os empregadores não terão muita paciência com os constantes atrasos?, sorriu.

Ações do MTE em Foz

O ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, designou ontem o delegado Nilton Freitas como representante em Brasília para acompanhar pleitos referentes ao município de Foz do Iguaçu. Segundo o delegado regional do Trabalho no Paraná, Geraldo Serathiuk, que tem mantido o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) informado sobre a situação em Foz, Freitas fará a ponte das ações do ministério no Estado e da prefeitura de Foz com outros ministérios, a fim de agilizar a política de criação de empregos e de qualificação de mão-de-obra na região.

A cidade enfrenta diversos problemas sociais desde que a Receita Federal (RF) e a Polícia Federal intensificaram o combate ao contrabando e ao tráfico de drogas na fronteira com o Paraguai. Do lado paraguaio a situação é semelhante, já que o comércio e as ruas de Ciudad del Este, que movimenta a economia da região, ficaram desertas com as ações. O governo brasileiro acredita que a criação de empregos aliada a programas de atração de turismo e combate à ilegalidade solucionariam a situação.

Serathiuk é partidário dessas iniciativas. Ele defende uma política emergencial no município e a implantação do programa Consórcio Social da Juventude, que qualificará jovens da área do turismo e confecção, setores com grande crescimento em Foz e com capacidade para absorver grande quantidade de trabalhadores. ?Tanto o governo federal quanto o estadual e o municipal estão unidos para tirar as pessoas que hoje vivem do trabalho ilegal da marginalidade?, disse.

Reunião

Serathiuk acredita que a expulsão não resolve os problemas de nenhum dos dois lados. ?A saída não será encontrada em retaliações.? Para ele, a política de criação de empregos no lado brasileiro ajudará a sanar a busca de posições no outro lado da ponte, mas que o governo irá dialogar com o governo paraguaio para solucionar a questão das expulsões. Hoje, representantes dos dois governos se reúnem em Assunção para tentar resolver o impasse. (Diogo Dreyer)

Limite de compras continua o mesmo

O governo brasileiro ainda não tomou qualquer decisão sobre o aumento do limite de compras de brasileiros em viagens terrestres ao Paraguai. Mas o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, disse ontem que não está descartada a possibilidade de elevação, embora também não haja garantia de que ela será adotada. A ampliação da cota é a principal reivindicação do governo paraguaio para a regularização de brasileiros que trabalham sem documentação legal em Ciudad del Este.

Rachid confirmou que o assunto está sendo discutido entre os governos do Brasil e do Paraguai, mas não previu um prazo para que haja uma decisão. Ele lembrou que o limite é fixado para o comércio com todos os países vizinhos, e não apenas o Paraguai. A principal condição para um eventual aumento da cota, segundo o secretário, é o efetivo controle das fronteiras.

O aumento da fiscalização da Receita atende a objetivos econômicos e políticos, já que há também pressão dos Estados Unidos por um controle mais efetivo da Tríplice Fronteira (Brasil-Argentina-Paraguai). Os serviços de segurança americanos vêem a região como uma área propícia à instalação de células de grupos terroristas internacionais ou de grupos que apoiem suas atividades.

Os paraguaios defendem um aumento da cota para

US$ 500, garantindo a volta dos fregueses ao comércio da fronteira. E enquanto não há acordo, passaram a expulsar os brasileiros que moram no Brasil, mas atravessam diariamente a fronteira para trabalhar no comércio paraguaio.

O problema também será discutido na reunião de hoje, em Assunção, por uma comissão de autoridades brasileiras liderada pelo embaixador naquele país, Valter Pecly Moreira. O governo brasileiro mostra-se preocupado com o efetivo cumprimento das cotas. Mesmo que elas sejam aumentadas, há o risco de que as notas fiscais de compras sejam subfaturadas.

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