Alternativas para controlar algas

O segundo dia do 4.º Seminário Interdisciplinar sobre Eutrofização das Águas de Abastecimento Público foi marcado pela mesa-redonda sobre cianobactérias e qualidade da água, que discutiu novas alternativas no controle de algas tóxicas nas barragens. Participaram da palestra dois dos mais renomados especialistas brasileiros no assunto, João Sarquis Yune, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), e Sandra Azevedo, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), da Universidade Federal do Rio (UFRJ).

O surgimento de extensas camadas de algas na barragem do Iraí, no ano de 2001, gerou grande alarde entre a população da Região Metropolitana de Curitiba. O mau cheiro e o gosto alterado da água durante esse período fizeram com que a Sanepar intensificasse os estudos sobre o fenômeno, para que assim pudesse esclarecer, de forma mais técnica e precisa, as inúmeras dúvidas dos consumidores com relação à qualidade da água oferecida pela empresa.

Hoje, sabe-se que tais fenômenos são fruto da proliferação de algumas espécies de algas em águas represadas, devido a um fator chamado eutrofização, e do qual não há como escapar. Inúmeros estudos, nacionais e internacionais, comprovam que, ao se represar a água para formação de barragens de abastecimento ou de geração de energia, obrigatoriamente haverá um acúmulo de nutrientes nessa região, a chamada eutrofização.

Controle

A partir dessa confirmação, os especialistas na área alertam que uma das medidas necessárias para o controle de algas tóxicas nas regiões dos reservatórios é o monitoramento do número de nutrientes despejados nessas águas. Esse fator, associado a outros que fogem do controle humano, como, por exemplo, temperatura e intensidade de chuva, são os principais responsáveis pelo crescimento desordenado das algas.

Segundo Sandra Azevedo, um grande empecilho para o correto controle do despejo de nutrientes nas águas dos reservatórios são os múltiplos usos dados às lagoas. “Muitas vezes a água de um reservatório é utilizada para abastecimento, irrigação, uso industrial, criação de peixes, entre outros usos”, afirma Sandra. Ela cita a criação de peixes como exemplo. “A quantidade de comida usada no criadouro, associada ao volume de excrementos produzidos pelos peixes, que se tornam fertilizantes naturais, já são suficientes para demonstrar de onde vem esse aumento de nutrientes. Como a água de uma lagoa é de vazão lenta, esses nutrientes alimentam espetacularmente todo organismo que quiser ali viver, principalmente as cianobactérias, ou algas tóxicas, como são comumente conhecidas”, explica a pesquisadora.

Agente humano

O processo de eutrofização da água é geralmente associado a dois fatores principais: lançamento de esgoto doméstico não tratado nos rios e uso industrial da água. Porém, segundo lembrou Yunes durante sua palestra, a má utilização da água pela agroindústria e pela agricultura é tão prejudicial quanto os fatores citados anteriormente. “Os principais elementos químicos necessários para o desenvolvimento de algas tóxicas são muito encontrados em produtos utilizados de forma indiscriminada pelos agricultores. Então quem planta perto de regiões de mananciais, ou mesmo quem está criando gado ou aves nessas áreas, está colaborando também para o crescimento desenfreado das algas tóxicas. Qualquer chuva é capaz de levar todo excremento produzido por essa criação para dentro do leito do rio”, alerta Yunes.

Para Sandra, fica evidente que é preciso encontrar alternativas de prevenção, controle, e, se possível, combater essas florações de algas. De acordo com ela, o primeiro passo é a conscientização da população e das autoridades sobre os reais motivos de seu aparecimento, e os riscos que elas podem trazer à saúde. “As conseqüências desses impactos ambientais podem provocar um aumento no custo do tratamento da água, assim como gerar graves problemas relacionados à saúde pública. Precisamos também ter a certeza de que a qualidade da água é um fator limitante para o desenvolvimento econômico e social do País”, conclui.

Voltar ao topo