Paralisado, executivo não começou segundo mandato

Nove dias depois da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o fato mais marcante do seu segundo governo foi, justamente, a cerimônia de posse. As promessas de que começaria o segundo mandato três dias depois do segundo turno da eleição, em 29 de outubro, não foram cumpridas. Como também não o foram os anúncios de que se reuniria com a oposição e os governadores eleitos da base aliada para tratar de um acordo que viabilizaria a aprovação da reforma política.

Lula também não conseguiu divulgar aquilo que pretende ser a grande novidade do segundo mandato, o pacote destinado a destravar a economia e fazer o País crescer. Pelo contrário. Adiou sucessivamente o anúncio e, no dia 22, durante café da manhã com os jornalistas, disse que não era interessante fazê-lo naquele momento porque a sociedade estava interessada em ?pacotes de presente? e não em pacote econômico. Só deverá revelar ao País o conteúdo do pacote um mês depois. Sabe-se que o plano deverá prever a desoneração de impostos equivalente a R$ 9,5 bilhões e apresentar medidas para a melhoria da infra-estrutura.

O presidente também não deu início, ainda, à montagem do ministério que vai acompanhá-lo no segundo governo. Informou apenas que deverá ser técnico. Tampouco cobrou dos ministros uma solução para o Instituto do Coração (Incor), embora no dia 12 tenha feito uma reunião de emergência no Aeroporto de Congonhas com a direção da instituição e alguns ministros. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, deixou a reunião dizendo que o presidente Lula dera 48 horas de prazo para que os ministros resolvessem o problema do Incor.

?Ele (Lula) determinou que encontrássemos uma solução para que o Incor possa se recuperar e restabelecer a eficiência dos seus trabalhos?, afirmou Mantega, no dia. O Incor acumula dívidas de R$ 245 milhões, ou 82% do orçamento previsto para este ano, de R$ 300 milhões. Do total da dívida, R$ 117 milhões foram repassados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Lula vinha dizendo, seguidamente, tanto em discursos quanto em entrevistas, que está muito mais experiente e que, agora, sabe cobrar rapidez. Em um dos discursos feitos logo depois da reeleição, afirmou que exigirá muita agilidade de seus ministros. E, ao fazer um comentário sobre os dois meses de prazo que um Grupo de Trabalho (GT) tem para concluir os estudos sobre o caos nos aeroportos, disse: ?Dois meses é um prazo grande demais. Quando a gente faz 61 anos, o tempo passa muito rápido.?

Mas, apesar das promessas de que faria tudo com muita rapidez, Lula entrou em férias. Só deverá voltar ao trabalho na semana que vem. A maioria dos ministros seguiu o exemplo do chefe, como Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que não retomou o trabalho ontem, como previsto. O ministério vem sendo comandado pelo secretário-executivo, Ivan Ramalho (ver reportagem abaixo). Dilma Rousseff (Casa Civil) e Paulo Bernardo (Planejamento), ao contrário, tiveram de mudar seus planos, recolher as malas que já estavam prontas e ficar em Brasília para cuidar do pacote destinado a destravar o País.

?Marketing?

A oposição critica Lula por não cumprir as promessas e por causa das férias que tirou. ?O presidente Lula é homem de marketing, da boca para fora. Toda semana ele anuncia uma coisa e não cumpre?, disse o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN). ?Ele se esquece de que em seu primeiro governo houve a surpresa do Fome Zero e da eleição de um operário. Agora o povo vai exigir resultados, menos marketing e vai cobrar o cumprimento das promessas?, afirmou Agripino.

O líder do PT na Câmara, deputado Henrique Fontana (RS), defendeu Lula e criticou a oposição. ?Acho que a sociedade está se cansando de ouvir certos setores da oposição dizerem que o presidente não faz nada. A sociedade quer que a oposição colabore com o País. E ela ainda está vivendo uma fase pré-eleitoral. Perguntem às 11 milhões de famílias que recebem o Bolsa-Família se elas acham que o governo é de marketing. Perguntem ainda aos 350 mil alunos carentes que se beneficiaram do ProUni se eles acham que o governo é de marketing?, argumentou.

Para Fontana, o discurso da oposição cansou tanto que ela perdeu 5 milhões de votos entre o 1º e o 2º turnos.

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