Brasília ? O professor da pós-graduação do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), Célio Bermann, avalia que o Brasil não tem uma solução imediata para a substituição do gás boliviano.
"Os investimentos e o tempo necessários para que possamos atingir, na produção doméstica, o mesmo percentual hoje utilizado por meio da importação do gás boliviano é de algo em torno de US$ 1,5 bilhão e de pelo menos seis anos. Isso para aqueles campos que mostraram ser bastante promissores, principalmente a Bacia de Santos", afirmou, em entrevista à Agência Brasil.
Após a nacionalização das reservas naturais de gás e petróleo da Bolívia, a nova medida a ser tomada pelo presidente Evo Morales deverá ser o aumento no preço do gás exportado. De acordo com o professor, o gás que chega hoje ao Brasil tem um custo de US$ 3,5 por milhão de BTU – medida utilizada para quantificar financeiramente o gás natural. Com a nacionalização, a perspectiva é que aumente para US$ 5,3 por milhão de BTU.
"Isso vai encarecer, no mercado interno brasileiro, a utilização do gás natural. Se a gente leva em consideração o preço do gás natural no mercado internacional, ainda é um valor inferior, já que está na ordem de US$ 6 a US$ 7 por milhão de BTU", ponderou.
Bermann explicou que o custo hoje no Brasil é o que as concessionárias pagam pela aquisição do gás natural, que é extraído na Bolívia e depois transportado pelo gasoduto até o lugar em que é recebido pela concessionária, sendo depois distribuído para o consumo.
A etapa mais cara da importação, segundo ele, é a do custo de exploração. "A recuperação do gás natural exige um investimento na prospecção, na avaliação e, depois, em equipamentos que permitam a recuperação do gás natural", disse. "Esse último investimento, particularmente, foi feito pelas empresas que até o 1º de maio [quando Morales anunciou a nacionalização] exploravam o gás natural. Além da Petrobras, a espanhola Repsol e a britânica British Gas", disse.
Na opinião do professor, o importante agora é viabilizar o uso do gás natural no mercado interno sem que punir diretamente o consumidor final. "De qualquer forma, vejo que a situação de um possível aumento do preço do gás natural vai exigir, da parte do consumo brasileiro, uma série de medidas que garantam maior eficiência no aproveitamento deste gás", observou.