Os sanguessugas

A lista dos deputados e senadores envolvidos no escândalo dos sanguessugas foi revelada. Mas havia e oficialmente ainda há segredo de Justiça, ordenado pelo Supremo Tribunal Federal. Seus ministros, em conversa com deputados ansiosos para que ao povo se dissesse quem são os integrantes da caterva, lavaram as mãos, que saíram mais limpas que as de Pilatos, dizendo que não podem declinar os nomes, mas nada impede que os parlamentares os descubram em outras fontes. E outras fontes jorraram nada menos que nomes de 57 parlamentares, sendo 56 deputados e um senador. Diz-se que é possível que mais dois senadores e dezenas de deputados, ainda escondidos por detrás da cortina, venham a ter suas caras expostas na vitrine.

Dos 57 deputados envolvidos, alguns podem cair nas notícias, sem provas efetivas de que tenham posto a mão no jarro, na negociata horrenda de ganhar dinheiro com emendas orçamentárias de encomenda para compras de ambulâncias necessárias e desnecessárias, mas sempre superfaturadas. Aí, a revelação dos seus nomes por antecipação é uma temeridade que pode ir da indigitação de inocentes, ou inocentes por falta de prova em contrário, até culpados competentes na arte de se esconder e esconder as suas falcatruas.

Um fato parece verdadeiro. Não foram 57 parlamentares, mas um número muito maior. Mesmo que se subtraiam alguns nomes desta relação e eles se salvem, é voz corrente que há uma nova lista a ser revelada e, nessa conta de somar, mais gente aparecerá que diminuiu o bolso do povo e minguou o já esquálido mau conceito do Congresso.

Este é um ano eleitoral e a grande maioria dos deputados apontados é de candidatos à reeleição. Isto justificaria o sigilo, tão bem guardado pelo Supremo, mas que vazou por muitos furos e agora é coisa pública. Mas também justificaria o contrário, ou seja, a divulgação dos nomes para que o eleitorado se acautele. Entre votar em acusados com pinta na testa e candidatos que são honestos ou ainda guardam sua virgindade, apesar do ambiente espúrio em que se transformou a nossa política, que se dê ao povo a chance de eleger estes últimos. E colocar os demais no inferno da condenação ou no purgatório da espera, para que se apresentem, de alma e passado limpos, em futuros pleitos. Os bons seriam ótimos agora, mas ainda serão bem-vindos no futuro.

O deputado Fernando Gabeira, do Partido Verde do Rio de Janeiro, foi o principal caça-bruxas. Mas não nos benzamos na sua presença, pois quis, quer e enfrentou a bandidada de frente e tudo fez para que ao povo logo se dissesse quem são os sanguessugas. Merece aplausos, embora muitos nomes que arriscou jogar ao opróbio público possam ser de inocentes. Ele revela que os envolvidos com a máfia das ambulâncias devem chegar a uma centena. E que, desses, noventa têm mandatos e outros dez foram parlamentares. Freqüentaram o banco de escola da bandidagem de colarinho branco.

Da lista atual, ainda por crescer, consta uma maioria do Rio de Janeiro, de Mato Grosso e da bancada evangélica. Coincidência ou não, a grande maioria é das hostes do governo e apenas uns poucos da oposição. E, felizmente, apenas um do Paraná. Também coincidência ou não, a grande maioria é do chamado ?baixo clero?, deputados que formam a massa dos ilustres desconhecidos da Câmara, mas que têm mandatos parlamentares e, por isso, podem fazer quase incógnitos as maiores baixezas. A máfia começa a ser desmantelada.

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