Operações de corretoras provocaram perdas a fundo de pensão

Uma dezena de corretoras envolvidas nas denúncias do "mensalão" realizaram operações financeiras no mercado de derivativos da BM&F que, em 89% dos casos, impuseram perdas à Prece – o fundo de pensão da Companhia de Água e Esgoto do Rio de Janeiro (Cedae). O esquema, mostrando como um pequeno grupo de corretoras concentravam negócios lucrativos para si e seus clientes, em detrimento das carteiras dos fundos de pensão, está sendo investigado pela CPI dos Correios e foi detalhado hoje (11) pelo deputado ACM Neto (PFL-BA).

Sub-relator dos fundos de pensão, ACM Neto examinou 643.228 operações e analisou o resultado de 110.304 delas, todas realizadas com fundos de pensão. No universo total das operações metade apresentou resultado positivo e metade, negativo. No caso dos fundos de pensão, no entanto, o desempenho piora um pouco, com resultado negativo em 54% das operações realizadas. Só em operações com títulos públicos nos últimos cinco anos, de 2000 a 2005, os treze maiores fundos de pensão do País perderam R$ 75,9 milhões.

A análise do deputado sugere a existência de um esquema entre corretoras, agentes de mercado e fundos de pensão, que criaram negócios no mercado em que os fundos sempre perderam e as corretoras ganharam. Mas o que mais surpreendeu o deputado foi a situação da Prece, que lidera o ranking das perdas com R$ 35,7 milhões, seguida pela EPPC Núcleos, com perdas de R$ 28,3 milhões nos cinco anos examinados. Do volume financeiro total de R$ 60,9 milhões investido e negociado pelas dez corretoras investigadas pela CPI dos Correios, nada menos que 97% resultaram em perda para o fundo de pensão dos funcionários da Cedae, que segundo integrantes da CPI, é gerido por apadrinhados do ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PMDB).

A CPI descobriu hoje que o gerente financeiro da Prece, Paulo Martins, estreou no cargo em janeiro de 2003, destituindo o Banco Santos, que administrava a carteira própria e os fundos exclusivos da cidade. Ele contratou a Quality, da qual era empregado antes de assumir a nova função. Ele próprio contou à CPI ter contratado a Quality, da qual era empregado.

Todos os números e nomes de corretoras só puderam ser revelados por ACM Neto em sessão secreta da CPI dos Correios. Uma decisão tomada hoje pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, não apenas concedeu habeas-corpus à ex-diretora financeira da Prece, Magda das Chagas Pereira, para evitar uma ordem de prisão durante seu depoimento, como proibiu a divulgação de documentos sigilosos em sessão pública. O resultado é que a CPI teve de inquirir Magda Pereira em sessão fechada, para poder questioná-la sobre os números da Prece obtidos por quebra de sigilo fiscal.

A lista das dez corretoras que investiram mal o dinheiro da Prece inclui a Bonus-Banval, a Brascan, a Bancocidade, a Clicktrade, a Concordia, a Fator-Doria Atherino S.A, a Laeta, a Novação, a São Paulo CV e a SLW CVC. Quando o deputado analisou operações feitas com a Prece por outras 36 corretoras, o resultado foi bem diferente. Apenas 36% do volume financeiro investido e negociado apresentou ajuste negativo, bem dentro da média do mercado.

ACM Neto destaca que as dez corretoras suspeitas também têm desempenho semelhante à média do mercado quando se relacionam com outros agentes, que não as chamadas EPPCs – as entidades de previdência privada complementar. Em 54% das operações realizadas e 64% do volume financeiro investido, os resultados são positivos. Já no caso das mesmas corretoras com os fundos de pensão em geral, os percentuais praticamente se invertem. Exatos 74% das operações produzem resultado negativo e 67% dos recursos investidos resultam em perda para os fundos de pensão.

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