Eleição argentina pode ter reflexo na gestão de Cristina

A presença do ex-presidente Néstor Kirchner na lista governista de Buenos Aires deve converter as eleições legislativas de 28 de junho num plebiscito sobre a popularidade do governo da mulher dele, a presidente Cristina Kirchner. Estima-se que a crise econômica deve reduzir o número de eleitores dispostos a votar em favor do governo, numa eleição que definirá o mapa do poder da segunda metade do mandato de Cristina.

Segundo o Centro de Estudos Regionais e Experimentais (Cerx) – que criou o Índice de Deterioração Econômica (IDS), que conjuga variáveis de desemprego, inflação, pobreza e desaquecimento da economia -, o desempenho da economia influenciou todos os resultados das votações argentinas entre 1985 e 2007. A cada ponto de aumento do IDS, o governo de turno sofre a perda, em média, de 250 mil votos (isto é, 1% dos 25 milhões de eleitores argentinos).

Os analistas do Cerx afirmam que, desde a posse de Cristina, em dezembro de 2007, o IDS teria crescido 7 pontos. Assim, os Kirchners teriam perdido – somente pelas razões meramente econômicas – um total de 1,75 milhão de votos ao longo do último ano e meio. Os analistas destacam que, além da crise econômica (a crise argentina começou antes da turbulência mundial, por causa de conflitos entre o governo Cristina e diversos setores empresariais), o governo também deve perder votos por causa dos vários escândalos que corrupção que, nos últimos meses, abalaram a imagem da presidente e seus ministros.

As eleições de junho – inicialmente previstas para outubro e antecipadas justamente em razão da crise econômica – renovarão a metade da Câmara de Deputados e um terço do Senado. Disposto a restabelecer a força da Casa Rosada no Congresso, Kirchner confirmou no sábado à noite sua candidatura à Câmara para o que chamou de “tudo ou nada” no que diz respeito à força política do governo federal.

Além de Kirchner, o governo recorreu às suas principais figuras políticas, entre elas o governador da Província de Buenos Aires, Daniel Scioli, e o Chefe do Gabinete, Sergio Massa. Essas candidaturas serão apenas “virtuais”, já que nem Scioli nem Massa assumirão as vagas parlamentares mesmo que sejam vitoriosos. Dessa forma, as candidaturas têm o objetivo apenas de trazer votos para o governo, reforçando o caráter plebiscitário da eleição.