Cães e gatos também têm acnes

Problema comum entre os adolescentes, resultando em crises de baixa estima e mesmo piadas de mau gosto entre grupos de amigos, a acne também atinge cães e gatos. Chamado foliculite canina ou felina, o problema dermatológico é um pouco diferente do verificado em seres humanos, mas também gera transtornos aos animais e preocupações aos proprietários e médicos veterinários.

?Em seres humanos, a acne é um distúrbio sebáceo, resultado de alterações dos ácidos graxos que causam inflamação e posteriormente infecção. Muitas vezes, o problema está ligado a fatores hormonais. Nos cães e gatos, a acne se caracteriza como um problema infeccioso do folículo piloso (local onde nasce o pêlo)?, explica o médico veterinário da Clínica Paranaense de Medicina Veterinária, localizada em Curitiba, Wagner Luiz Bueno, que é especialista em dermatologia animal.

O problema em animais é causado por bactérias que se desenvolvem quando a pele está úmida (muitas vezes conseqüência da secagem incorreta do animal após o banho), sujeiras que ficam em contato com a pele (resultado da ausência de boas condições de higiene) ou formação de plugs foliculares, ou seja, formações que fecham a saída do folículo piloso impedindo que as produções foliculares (sebo, gordura e suor) sejam eliminadas naturalmente.

?A foliculite canina ou felina também pode aparecer devido a comprometimentos do sistema imunológico. Por isso, embora possa atingir indivíduos de todas as idades, costuma ser mais comum em animais bastante jovens e idosos, que geralmente possuem menor imunidade. No que diz respeito a questões hormonais, não há comprovação científica de que a acne em animais possa estar relacionada a distúrbios hormonais, como acontece em seres humanos?.

Também possuem maior predisposição ao problema, bichos que se alimentam de comidas preparadas para seres humanos e não de rações especiais. ?Animais de pêlo longo costumam ser as principais vítimas, embora também sejam verificados muitos casos em bichos que possuem pêlos curtos. Isto acontece porque geralmente nos indivíduos de pêlos longos a secagem da pelagem é mais lenta e a escovação é mais difícil, fazendo com que a higienização se torne um pouco mais complexa, o que facilita o acúmulo de sujeira nos folículos?, esclarece o médico veterinário.

Entre os cães, a incidência da doença dermatológica costuma ser maior do que entre os gatos. Nestes, a acne costuma se manifestar apenas na face, sendo as regiões mais atingidas o queixo e a área ao redor dos lábios. Naqueles, a acne pode ser verificada em todo o corpo, dependendo da gravidade do problema. Os proprietários normalmente percebem que seus bichinhos são vítimas do problema quando verificam formações de pus e os pêlos começam a cair. Em casos mais profundos, pode haver sangramento.

?Os animais sentem dor e muita coceira. Em situações mais graves, chegam a se auto-mutilar ao coçar a pele. O tratamento depende da intensidade do caso. Em casos mais leves, pode ser tópico, através da utilização de xampus queratolíticos (que tiram o excesso de queratina). Em casos mais graves, é necessária a utilização de antibióticos tópicos e orais. O aparecimento de pacientes vítimas de foliculite canina ou felina faz parte da rotina diária das clínicas e consultórios veterinários?.

Pacientes

Os proprietários de cães e gatos geralmente ficam surpresos ao descobrir que seus animais são vítimas de acne. O cão Scott, da raça daschund (mais conhecida como ?lingüiça? ou ?salsicha?) , pertencente ao professor universitário Eliseu Vieira Dias, da capital, teve o problema diagnosticado aos seis meses de idade. Atualmente, ele está com um ano e meio e utiliza produtos especiais para tratamento.

?Scott é um cão alegre e brincalhão, mas depois que ele teve o problema passei a tomar alguns cuidados a mais com sua saúde. Ele só toma banho frio e com produtos especiais. Quando as feridas aparecem na pele, são tratadas com uso de pomada?, conta Eliseu. ?Quando notei a acne pela primeira vez, achei que poderia ser alguma coisa relacionada à sarna, pois havia perda de pêlo, inflamação e Scott se coçava bastante?.

Atopia: outro problema dermatológico comum

Foto: Walter Alves/O Estado
O professor universitário Eliseu detectou o problema dermatológico em seu cão aos seis meses de idade.

Outro problema dermatológico bastante comum em estabelecimentos médicos veterinários é a atopia, também chamada de dermatite atópica ou dermatite por inalantes. O aparecimento da doença costuma ser mais comum em períodos de frio intenso, gerando sofrimento a cães e gatos e muito trabalho aos veterinários.

A enfermidade é provocada por substâncias que se encontram no ar, como mofo e bolor, normalmente aparecendo em animais a partir dos seis meses de idade e sendo verificada ao longo de toda a vida. ?É um problema hereditário e também ligado à baixa imunidade?, afirma Wagner Bueno.

Também verificada em felinos, a atopia costuma ser mais comum em cachorros. Algumas raças têm maior predisposição ao aparecimento do problema. São elas: White Terrier (mais conhecido como IG), Lhasa Apso, Shi-Tzu e Poodle.

?Além de inflamações na pele recorrentes, os indivíduos vítimas do problema costumam lamber as patas com bastante freqüência, ter dor de ouvido e se coçar de forma intensa. Muitas vezes, a doença é negligenciada porque os proprietários acreditam que é normal que os animais se cocem bastante ou se lambam, não procurando tratamento?.

A doença não tem cura, mas pode ser controlada. Quando o bichinho está em crise, é necessário, sob orientação médica veterinária, utilizar antiinflamatórios, ácidos polissaturados e realizar banhos medicamentosos. Para prevenir o aparecimento das crises, é importante realizar escovações constantes, evitar que o animal permaneça úmido e que tenha contato com pólen, ácaro de alimentos, gramados, poeiras domésticas e mofo.

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