Moradores do Morro da Providência acusam militares de abusos

Moradores do Morro da Providência relataram nesta quarta-feira casos de agressão e intimidação supostamente cometidos por militares e afirmaram que o Exército simulou trocas de tiros nos oito dias de ocupação da favela. Uma comissão formada por procuradores da República e do Ministério Público Estadual, deputados e representantes da área de direitos humanos visitou a comunidade.

O oratório de uma capela de 1900 instalada no alto do morro foi destruído por militares em busca das armas, de acordo com os relatos. Dezenas de caixas d?água foram perfuradas e casas, invadidas. Moradores criticaram o fechamento de bares, padarias e quadras de futebol durante o "toque de recolher". Seis moradores formalizaram denúncias.

Durante a operação, Eduardo Santos da Silva, de 16 anos, foi morto quando segurava um guarda-chuva supostamente confundido com um fuzil. Outras três pessoas foram feridas por estilhaços de granada, incluindo um bebê.

"Será que o bebê também está associado ao tráfico, como estão dizendo em relação aos moradores em geral?", indagou o procurador da República Fábio Aragão, que pretende entrar com ação civil pública contra a União. O objetivo é inibir futuras ações do Exército em favelas e responsabilizar os culpados por eventuais abusos. "Sempre sumiram armas militares. Estamos coletando provas para comprovar os abusos, sem fazer distinção entre soldado e general. A maior vítima foi a população", disse Aragão. "No mínimo, houve desproporção da força utilizada."

"Tiro de traficante não existiu. A função do Exército era criar terror psicológico. O que houve foi abuso e ação política, porque nem no Haiti eles fizeram isso. Se tivesse tiro do outro lado, com a estrutura de guerra que foi montada, deveria haver vários mortos", afirmou Manoel Gama, da associação de moradores.

"Vi muita destruição, resta saber é quem destruiu. A mídia afirma que foram os traficantes. Aqui, é o contrário. Diante deste dilema, é preciso apurar", disse o secretário estadual de Direitos Humanos, Jorge da Silva.

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