Mercado ansioso

A grande expectativa do mercado estava concentrada no depoimento do ministro Antônio Palocci, ontem à tarde, perante a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), do Senado Federal. A fala do ministro estava marcada para o dia 22, mas foi antecipada tendo em vista o acentuado rumor de sua saída do governo.

Nos últimos dias, Palocci sentiu-se encurralado por uma série de fatos nebulosos em relação à sua pessoa, relativos à época em que foi prefeito de Ribeirão Preto. Na verdade, fatos bastante perturbadores por terem sido levantados por assessores de confiança da administração municipal.

O cerco foi se estreitando a ponto de membros da CPMI dos Correios julgarem oportuna a convocação do ministro. A reação imediata de Palocci foi acenar com a idéia da retirada, abrindo uma lacuna perigosa no esquema de sustentação da política econômica, obstáculo que o governo se apressou a minimizar vazando nomes de prováveis ocupantes da Fazenda, caso o atual ministro insista em apresentar o pedido de exoneração.

A ida de Palocci ao Senado foi também uma estratégia do Planalto, conforme o plano de blindagem do ministro, ao evitar de comum acordo com as lideranças do Congresso uma convocação temerária da CPMI, oportunidade sempre factível de piorar um quadro clínico próximo do desespero.

Mesmo depois do feriado prolongado, a presença de senadores na sessão da CAE, realizada no plenário, foi maciça face à relevância do que Palocci teria a dizer para amenizar o ânimo dos partidos de oposição. Por outro lado, o depoimento do ministro da Fazenda foi aguardado com preocupação pelo mercado financeiro e de capitais, prenunciada na alta das cotações na abertura da Bolsa de Valores de São Paulo na manhã de ontem, ao passo que o dólar voltava a cair.

Aspecto a ser salientado é que logo após o discurso de Lula na Conferência de Ciência, Tecnologia e Inovação, em Brasília, abordando a política econômica sem referir-se ao ministro da Fazenda, as tendências rapidamente se inverteram: a bolsa caiu e o dólar arrancou.

Sinal que nem a palavra presidencial, nesse momento conturbado, serviu de parâmetro para aliviar a apreensão gerada por guinadas repentinas. A atenção e a ansiedade se concentraram no Congresso, onde afinal falaria o personagem-chave da relação do governo com o sistema financeiro. A conferir.

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