Lula prepara mudanças no BC, mas Meirelles deve ficar

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prepara-se para fazer uma recomposição da diretoria do Banco Central, com a manutenção de Henrique Meirelles na presidência da instituição. Nesse processo Lula deverá caracterizar com maior clareza que o BC tem "autonomia técnica" e que responde, administrativa e politicamente, diretamente a ele, segundo fontes ouvidas pelo jornal O Estado de S.Paulo.

Ainda não é possível saber quantos diretores do Banco Central serão mudados, mas é dada como certa a saída de Afonso Bevilaqua diretor de Política Econômica. A tentativa do PT de indicar pelo menos dois funcionários de carreira ligados ao partido para a diretoria do BC sequer está sendo considerada pelo presidente, nesse movimento de recomposição. "Não há hipótese do presidente usar critério de filiação partidária para a escolha dos diretores", disse uma fonte.

No final da tarde de ontem, Henrique Meirelles teve uma audiência com Lula, no Palácio do Planalto. Por meio de sua assessoria, ele mandou o recado de foi mais uma "reunião de rotina". Mas é provável, segundo as fontes, que os dois já tenham começado a conversar sobre nomes para a "recomposição" da diretoria.

O bombardeio a que Meirelles foi submetido nas últimas semanas, principalmente depois que a cotação do dólar caiu abaixo de R$ 2 10, não abalou a confiança de Lula no presidente do Banco Central. A decisão de Meirelles e dos diretores do BC de reduzir o ritmo de queda dos juros de 0,5 ponto porcentual para 0,25 ponto porcentual foi criticada por quase todos os ministros.

Alguns deles chegaram a dizer que o sinal dado pelo BC tinha sido na direção oposta àquele dado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Meirelles ficou isolado e amigos do presidente do BC chegaram a pensar que ele sairia do governo.

No meio dessa crise, alguns ministros ouviram Lula tecer elogios ao trabalho do presidente do BC. "O Meirelles me passa segurança", teria dito Lula. O presidente chegou a promover um encontro informal no Palácio da Alvorada, com os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Paulo Bernardo, e com Meirelles, no qual todas as questões econômicas foram discutidas. Todos puderam falar abertamente sobre os problemas e discutir alternativas.

Mesmo com a manutenção de Meirelles na condução do BC e com a decisão de Lula de dar sinais claros sobre a autonomia técnica da instituição, permanece a avaliação dentro de setores importantes do governo de que o ritmo da queda dos juros precisa voltar a ser de 0,5 ponto porcentual.

Esse entendimento ganhou força nos últimos dias, depois da divulgação das projeções do mercado, por meio do boletim Focus do Banco Central, que apontam para uma inflação em trajetória de queda e para a redução dos juros futuros. A situação da economia internacional também é considerada "excepcional", com a manutenção de uma grande liquidez e com a o risco Brasil abaixo de 180 pontos-base.

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