Ensino público e privado

A idéia generalizada é de que o ensino médio em estabelecimentos privados é de melhor qualidade que o ministrado em estabelecimentos públicos. Entende-se que o estudante das escolas particulares, pagas e não raro caríssimas, têm uma qualidade de ensino melhor que os que conseguem vagas nas escolas do governo, gratuitas, porém em geral mal equipadas, seja de corpo docente e/ou de material didático. Por isso, adentram as universidades públicas, gratuitas, em maioria estudantes egressos das escolas particulares, aqueles que podem pagar uma faculdade. E poucas chances restam aos estudantes pobres que fizeram curso médio na rede pública, não só porque se lhes ministrou um ensino de pior qualidade, como porque não têm os meios de vida para se dar ao luxo de sentar-se num banco universitário, já que precisam trabalhar para sobreviver.

Pesquisa de duas das principais universidades do Brasil, a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mostrou o contrário. Revelou que os alunos que fizeram o ensino médio na rede pública tendem a ter um desempenho melhor, durante os cursos superiores. As conclusões estão servindo para embasar as idéias do ministro da Educação, Tarso Genro, que defende uma reserva obrigatória de vagas para alunos menos favorecidos, como os de baixa renda, índios e negros. E ele pretende que essa reserva se faça tanto nas faculdades públicas como nas privadas. Nestas, encontrar-se-iam meios de bancar os estudos dos menos favorecidos. Talvez com verbas do governo…

As conclusões da pesquisa, na forma como vêm sendo divulgadas, tendem a fazer com que os que dela tomam conhecimento cheguem a conclusões equivocadas. O trabalho feito revelou que os estudantes oriundos do ensino médio público, gratuito, se dão melhor nas universidades que os que são egressos das escolas particulares, pagas. Mas também revela que esses alunos pesquisados e que inverteram o conceito de aproveitamento, dando-se melhor do que os que têm dinheiro para pagar os cursos, são os que foram beneficiados por algum programa de auxílio, alguma bolsa, algum financiamento adequado.

O estudante pobre, já por sua condição econômica e social, se esforçará mais para se dar bem numa universidade. O importante é que pavimentem os caminhos que tem de percorrer para chegar ao ensino superior e tenha suporte suficiente para freqüentar suas aulas. O estudante pobre, por sua condição sofrida de vida, não costuma perder nenhuma oportunidade de ascensão e agarra-se ao ensino que lhe ministram como uma tábua de salvação. Os chamados “self made men”, entre nós, são bons exemplos, mas não são muitos exatamente porque não existem projetos suficientes de auxílio aos desafortunados para que saiam dessa situação via bancos escolares. A mostrar o outro lado da balança nessa pesquisa, estão os “filhinhos de papai”, para quem o diploma universitário parece apenas um símbolo de status. Nunca um instrumento indispensável para ascensão econômica e social.

A pesquisa das duas grandes universidades revela que o caminho é a socialização do ensino através não da abolição das escolas privadas ou das escolas públicas. Ou a exclusão daquelas e a manutenção do ensino público gratuito e universal, como muitos desejam. Mas via oferecimento de oportunidades iguais para todos e zelo pela qualidade do ensino, seja público ou privado.

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