Lula e Kirchner se unem por mudanças no FMI

Rio (AE) – Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Argentina, Néstor Kirchner, vão defender nas negociações com o FMI e com outros organismos financeiros internacionais, que o crescimento econômico e a sustentabilidade das dívidas de seus respectivos países sejam incluídos quando forem calculadas suas metas de superávit primário (dinheiro economizado para pagar os juros da dívida). “Nas negociações com organismos de crédito, e o FMI é o principal deles, defendemos em conjunto que o superávit primário leve em conta sobretudo a necessidade de crescimento e também a sustentabilidade da dívida”, disse o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim.

Um documento elaborado no encontro realizado ontem, no Rio, denominado “Declaração sobre a Cooperação para o Crescimento Econômico com Eqüidade”, os dois países também defendem que os investimentos em infra-estrutura não sejam contabilizados no superávit primário, ou seja, não sejam vistos como gastos públicos. Segundo Amorim, essas duas propostas vão permitir que o próprio superávit seja sustentável a longo prazo.

Outra proposta que consta do documento é a elaboração de um mecanismo que neutralize os choques financeiros oriundos de países desenvolvidos. Além disso, os dois governos pretendem realizar ações conjuntas para eliminar os subsídios de países ricos e abrir novos mercados.

“Sensibilidade”

O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, disse ser “muito difícil” esperar uma sensibilidade do FMI (Fundo Monetário Internacional) em relação às propostas apresentadas conjuntamente com o Brasil hoje, para mudar critérios na fixação de metas de superávit primário nos acordos.

“É muito difícil esperar sensibilidade do grupo (FMI). Tem que haver uma grande responsabilidade da nossa parte, uma sensibilidade nossa com as pessoas, com a classe média e com os excluídos”, afirmou.

Entre as propostas de hoje, Brasil e Argentina defenderam que seja considerada a necessidade de crescimento econômico dos países e que os investimentos em infra-estrutura não sejam contabilizados como gastos.

Krueger diz que foi chantagem

A diretora-gerente interina do FMI (Fundo Monetário Internacional), Anne Krueger, cobrou da Argentina um aumento da meta de superávit primário, atualmente de 3% do PIB (Produto Interno Bruto), em entrevista ao jornal “Clarín”, publicada ontem. Krueger disse ainda que o presidente argentino, Néstor Kirchner, fez “chantagem” ao ameaçar não pagar a dívida de US$ 3,1 bilhões que vencia na semana passada e que o governo deveria apressar as negociações para reestruturar a dívida que está em moratória desde dezembro de 2001.

“O Fundo está muito mais envolvido do que eu gostaria nesse tema (reestruturação da dívida). Até 1998, o FMI tinha uma política de não emprestar a nenhum país que estivesse em moratória com seus credores. Isso foi modificado por uma política de autorizar crédito ainda que a reestruturação não esteja concluída”, disse.

Uma moratória argentina seria a segunda desde a posse de Kirchner e poderia colocar em xeque a própria credibilidade do Fundo.

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