Kawall pede a conta e preocupa o mercado

Foto: Arquivo/Agência Brasil

Carlos Kawall: ?não há atrito de minha parte com o governo?.

Analistas do mercado financeiro foram pegos de surpresa, ontem, com a notícia da saída de Carlos Kawall do Tesouro Nacional e temem que a questão do controle fiscal perca força no governo. Na manhã de ontem, o Diário Oficial da União trouxe o pedido de exoneração do secretário, que alegou motivos pessoais para deixar o Tesouro. O secretário-adjunto, Tarcísio José Massote de Godoy, foi nomeado interinamente para a função.

 Para o economista da Tendências Consultoria Integrada Roberto Padovani, existem, na realidade, duas versões para a saída de Kawall. A primeira é de caráter pessoal e envolveria preocupação com o estado de saúde de uma pessoa da família. A segunda, e a que mais preocupa os analistas se estiver correta, é a de que o ex-secretário sabia que não poderia contar com a defesa do ministro da Fazenda, Guido Mantega, em suas ações na área fiscal. ?Ele temia ficar sozinho numa eventual dificuldade?, observou o economista.

Para Padovani, a situação é agravante para o atual momento do governo, quando a questão fiscal está se tornando mais importante por causa dos gastos públicos que estão surgindo, como a elevação do salário mínimo de R$ 350,00 para R$ 380,00. ?Kawall conquistou o mercado por meio de um trabalho sério e, neste momento, seria importante que ele continuasse?, afirmou.

A mesma avaliação apresentou o economista-chefe do Banco Schahin, Sílvio Campos Neto. ?A gente sabia de algo (sobre a possível saída de Kawall) no ar, mas a notícia hoje (ontem) me surpreendeu?, afirmou. Para ele, a exoneração do secretário representa uma voz defensora a menos da disciplina fiscal. ?E isso gera certa apreensão.?

Campos Neto destacou que ainda nesta linha de atuação está hoje o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Bernard Appy. ?Estamos perdendo uma pessoa que defendia o controle fiscal e só sobra Appy, que não sabemos também se irá ficar?, considerou.

A economista-chefe do BES Investimento, Sandra Utsumi, lembrou que Kawall remanesce da época do ministro Antônio Palocci, à frente da Fazenda. ?Kawall teve um importante papel na melhora da estrutura da dívida doméstica e externa. Foi muito bem-sucedido após a saída de Joaquim Levy?, acrescentou.

Sandra disse que Kawall era um nome que o mercado considerava para preservar o controle de gastos do governo. ?Quem o substituir terá de ser austero na questão dos gastos em 2007 para evitar testes do governo com a questão em torno do superávit fiscal?, disse.

Demian Fiocca é o nome mais forte para sucessão

São Paulo (AE) – A especulação sobre o nome de um substituto de Carlos Kawall, secretário demissionário do Tesouro Nacional, ganhou força entre analistas do mercado financeiro e outras fontes do setor bancário. Entre os mais cotados estão Demian Fiocca, atual presidente do BNDES e ex-secretário de Assuntos Internacionais do Ministério do Planejamento, e José Antonio Gragnani, ex-secretário-adjunto do Tesouro Nacional. ?Se não tiver um nome à altura de Kawall, o mercado vai sentir?, disse uma fonte do mercado.

Para os economistas consultados, uma solução interna também poderia ser positiva porque indicaria a continuidade do trabalho iniciado por Kawall no Tesouro.

O próprio adjunto, Tarcísio José Massote de Godoy, que interinamente assume o cargo, seria um bom nome para prosseguir à frente da Secretaria. ?Já uma pessoa de fora encontraria mais dificuldade. Precisaríamos saber o trânsito que ela terá dentro do governo?, comentou outra fonte.

Outra fonte indicou ontem que o nome Fiocca já despontava em algumas conversas entre os agentes quando Kawall deu indicações de que sairia, há algum tempo. Portanto, a exoneração publicada ontem no Diário Oficial da União não surpreendeu.

Esta fonte destacou, entre outros argumentos, o fato de Fiocca se relacionar bem com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e ao mesmo tempo transitar com facilidade no mercado financeiro.

Além disso, justifica, após a passagem pelo BNDES, Fiocca estaria antenado com a busca do crescimento econômico – tão prometida e cobiçada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no segundo mandato -, mas sem perder a premissa de que a busca de um ajuste fiscal e o correto manejo das finanças públicas abrirão as condições para o governo retomar investimentos.

Na carta, ?satisfação do dever cumprido?

Brasília (AE) – Na carta divulgada pelo Ministério da Fazenda, o secretário demissionário do Tesouro, Carlos Kawall, trata o ministro da Fazenda, Guido Mantega, com intimidade. Agradece os convites que recebeu, inicialmente para a diretoria do BNDES e depois para a secretaria do Tesouro, e ressalta que deixa o governo sem inimizades, seja com o ministro ou com integrantes do governo.

?Sabemos que esta interpretação é infundada e inverídica, somente podendo prosperar na mente dos que (ainda que legitimamente) fazem oposição ao governo, ou daqueles que implicitamente acreditam que quem está em um cargo público não tem vida pessoal?, afirma Kawall, acrescentando que está otimista com o futuro do País. ?Por isso, quero reafirmar de público meu apoio à condução da política econômica do governo e, em particular, a sua política fiscal e de dívida pública, que devem contribuir para que nossa classificação de risco mantenha-se em ascensão, devendo inevitavelmente nos conduzir, no horizonte do próximo governo, ao grau de investimento?, ressalta Kawall.

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