Governo aberto a capital externo nas comunicações

Florianópolis – O ministro das Comunicações, Eunício de Oliveira, garantiu que o governo não vai adotar qualquer medida que possa restringir o ingresso de capital externo no setor de comunicações. A informação foi dada na abertura do Futurecom 2004, realizado de 25 a 28 de outubro em Florianópolis, Santa Catarina. O ministro ouviu críticas do setor de telecomunicações e preferiu não responder aos apelos por mudanças nos marcos regulatórios, uma reivindicação que ganhou corpo depois de um encontro da Comissão de Ciência e Tecnologia.

Na reunião, realizada na segunda-feira pela manhã, estavam presentes executivos das principais operadoras de telefone celular do País, Telefônica, Francisco Padinha, Vivo, Luiz Eduardo Falco, Oi e Ricardo Sacramento, Brasil Telecom GSM. O principal pedido girou em torno de mudanças na legislação, uma revisão urgente em função da oferta de serviços convergentes, como telefonia via internet e multimídia através das operadoras tradicionais.

O presidente da Anatel, Pedro Jaime Ziller de Araújo, anunciou projeto para criação de uma rede educacional, com a utilização de recursos do Fust, o fundo patrocinado pelas operadoras de telecomunicações, e que já tem cerca de R$ 6 bilhões em caixa. O mesmo fundo foi alvo de críticas através do deputado Alberto Goldmann, do PSDB. Segundo ele, o setor analisa a possibilidade de entrar com um processo contra a agência reguladora, já que a verba (e arrecadado R$ 1 bilhão por ano) permanece sendo contingenciada pelo Ministério da Fazenda do governo Lula, como já acontecia no final do mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo ele, os recursos não podem “ficar como estão”, sem utilização.

As operadoras que, segundo um executivo, não falam a mesma linguagem, ainda não chegaram a um acordo, mas pensam em depositar o dinheiro judicialmente, para discutir a utilização. O presidente da Anatel disse que se isso acontecer, “vamos demorar mais três anos para definir os projetos”.

Assinatura básica

O presidente do grupo Telefônica, Fernando Xavier Ferreira, não comentou o projeto de lei que prevê o fim da cobrança da assinatura básica, mas ressaltou que “é preciso uma evolução no aparato regulatório”, acentuando que “o governo precisa compatibilizar a evolução do sistema de comunicação com as tendências do mercado”. Referia-se ao que considera como fundamental, que é a “manutenção do equilíbrio econômico da atividade”. Quando os contratos foram feitos, não havia, por exemplo, a figura do “consumidor de tráfego”, porque a internet ainda era incipiente. “Hoje isso é uma realidade”, acrescenta Ferreira.

Outro executivo, na mesma linha de pensamento, considera que o governo Lula precisa definir-se na questão da assinatura básica. Segundo ele, que preferiu não se identificar, “as concessões foram vendidas prevendo-se a assinatura básica como forma de sustentação do setor e, independente de não terem sido feitas pelo PT (as concessões), é preciso que o setor tenha uma linha de orientação no horizonte, para definir seus investimentos”.

Avanços

“Interatividade”, “convergência”, “mobilidade”. Estes termos, junto com outros, até bem pouco tempo restritos ao setor de tecnologia, aos poucos começam a sair para o público, que passa a conhecer um pouco melhor a briga por espaços que se trava nos bastidores das operadoras de telefonia celular, de telefonia fixa, provedores de internet, fabricantes de aparelhos, entre outras áreas afins, que vão de cabos de conectividade, antenas, backbones, modens, até empresas nacionais e multinacionais voltadas para periféricos, outra palavra que começa a ganhar contornos mais palatáveis que atendem a uns e outros.

O que há de mais moderno envolvendo o mais recente (e em explosiva evolução tecnológica) setor de telecomunicação celular, estava presente na sexta edição da Futurecom. Quase 100 empresas marcaram presença, uma parcela considerável de norte-americanos, mas estavam lá mexicanos, argentinos, chilenos e um número também expressivo de europeus (portugueses, franceses e espanhóis). O público – estimado em mais de duas mil pessoas -, era formado na quase totalidade por executivos de empresas que concorrem entre si por clientes que estão no mesmo local, lado a lado com outros concorrentes. Mais de duzentas palestras, envolvendo temas dos mais variados e que vão dos mais simples aos mais complexos, competiram com os grandes debates que levaram à capital catarinense nomes como Gesner Oliveira (ex-presidente do Cade), Gustavo Rocha Lima, da IBM, Rogério Cardoso Furtado, da Siemens, Carla Cicco, presidente da Brasil Telecom (em pleno furacão de denúncias envolvendo a Kroll e a investigação da Polícia Federal), entre outros.

Convergência de serviços nos aparelhos é tendência

Irwim Mark Jacobs, presidente do conselho e diretor executivo da Qualcomm Incorporated, empresa líder no desenvolvimento e comercialização de produtos e serviços digitais de telefonia móvel, considera o CDMA (Code Division Multiple Access) como “preferencial para a nova geração das comunicações sem fio”. Segundo ele, alguns países europeus estão fazendo transição de outras tecnologias, principalmente o GSM, para CDMA. Na China e na Índia, o sistema está em expansão.

Para o executivo, a Qualcomm tem se diferenciado no setor porque está sempre preparada para “ouvir as necessidades de nossos clientes e responder a essas necessidades”. Ele considera que no caso brasileiro a renda média do trabalhador está em queda e, por isso, o setor precisa buscar alternativas na redução de custo dos produtos. “Será preciso aumentar a base de consumidores, mantendo o lucro, fundamental para novos investimentos.” A tendência, ressalta, é apresentar ao consumidor aparelhos cada vez mais “convergentes” em oferta de serviços. Num único telefone em que hoje é possível falar e transmitir dados serão acrescentados outros, como é o caso da localização de pessoas (já possível) e acesso a conteúdo televisivo.

A Qualcomm está desenvolvendo um protótipo de aparelho que reúne, numa mesma plataforma, teclado, câmera com flash e teclas de game, tudo em alta velocidade. “Estamos procurando um fabricante que se interesse em produzir o aparelho e disponibilizar para as operadoras”, explicou Eduardo Esteves, diretor técnico e de marketing da empresa. Explica que há interesse no desenvolvimento de produtos que tragam a “convergência” de aplicações similares sobre uma mesma plataforma. (JAR)

Empresas apresentam suas novidades

O Futurecom 2004 foi um evento “recheado” de novidades. Um deles foi apresentado pela Vivo (controlada pelos grupos Portugal Telecom e Telefonica Móviles) que atende o Paraná, com o anúncio da introdução da terceira geração de aparelhos de telefone celular, com serviços únicos, oferecidos em parceria com a Qualcomm, empresa de tecnologia. A Vivo, que comemora a marca dos 25 milhões de clientes -, utiliza a plataforma CDMA2000 1xEV-DO da Qualcomm, para transmitir dados com velocidade de até 2,4 megabits por segundo, superior em até dez vezes as conexões fixas e de banda larga em outras tecnologias. Isso vai permitir, por exemplo, a introdução de serviços como a Vivo Localiza, que fornece informações sobre a posição geográfica do usuário (já disponível em Curitiba), além de permitir a consulta de rotas, com textos e mapas.

Outro serviço, o Vivo Direto, permite conexão rápida (de um toque) entre celulares cadastrados. A alta velocidade de transmissão possibilitará, também, download de vídeos e acesso a conteúdo de televisão. Os serviços terão custos que vão de R$ 5,99 para localização de usuários até R$ 9,99 (mensais) por serviços de conteúdo e estão disponíveis, por enquanto, apenas no Rio, São Paulo e Curitiba, mas, até o 1.º semestre do ano que vem, devem atingir todo o País.

Nos Estados Unidos, todo aparelho de celular é obrigado, por lei, a ter um chip localizador. É para que, ao acessar o 911 (emergência), a pessoa possa ser localizada. No Brasil, o cliente da operadora precisa, primeiro, comprar o serviço e, segundo, autorizar a localização quando solicitado. O fornecimento dos serviços, porém, vai, sempre, depender da base de dados da operadora.

Tecnologia

A Qualcomm vem intensificando o desenvolvimento de chipset com cada vez mais capacidade de armazenamento. A partir da série 6000, todos os chips possuem a capacidade de acesso ao StarOne, satélite de comunicações que fornece dados para localização e outros serviços. O desenvolvimento tecnológico, porém, caminha para o chipset 7000, que vai suportar ainda mais aplicações. Segundo Brian Rodrigues, diretor de produtos da empresa, a convergência para um único chip, trabalhando de forma integrada, possibilita reduzir custos e oferecer soluções de display em melhor resolução, mapas, fotos, entre outros.

A Qualcomm utiliza, para aplicativos, a plataforma Brew. José Luciano do Vale, executivo da empresa, explicou que já foram distribuídos para desenvolvedores de todo mundo (são cerca de 40 deles no Brasil) cerca de US$ 200 milhões na forma de compra de produtos. “Temos alguns diferenciais com relação a outras plataformas (o GSM usa Java e o CDMA usa o Brew) porque mantemos uma uniformidade e oferecemos segurança total”, diz ele.

Outra novidade foi apresentada pela Nokia. A empresa negocia com as operadoras a tecnologia IMS, que possibilitará aos clientes interatividade com jogos onde os jogadores poderão competir entre si, e compartilhamento de conteúdo, como imagem, som e vídeo, entre outras. Segundo Olívio Duarte, gerente de soluções da Nokia, a tecnologia vai admitir mais velocidade de comunicação e pode trazer redução de custos para o consumidor final. (JAR)

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